São Paulo, 
ecologia
23/01/2003
Pesquisa identifica motivos da expansão populacional da Lonomia obliqua
A taturana multiplicou sua população nos últimos anos, aumentando o número de acidentes na área urbana. Desmatamento e falta de predadores naturais são razões do problema, que atinge principalmente a região Sul
Beatriz
Camargo

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"As cerdas não protegem a taturana de nenhum dos predadores encontrados na pesquisa, por isso provavelmente alguns deles estão extintos"
Os motivos da expansão populacional da taturana Lonomia obliqua foram identificados pelo pesquisador Roberto Henrique Pinto Moraes. A espécie, em um simples contato com a pele humana, causa hemorragias internas e pode até levar à morte. O estudo também encontrou alguns dos predadores naturais da taturana.

Ela vive em comunidade, originalmente em árvores altas, mas nos últimos anos tem provocado acidentes em áreas urbanas. Houve mais de mil casos registrados por contato com a lagarta nos últimos dez anos nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, inclusive com óbitos.

"O desmatamento é o responsável pelo aumento populacional da taturana; o número de acidentes é conseqüência", afirma Moraes. Seu estudo, Identificação dos inimigos naturais de Lonomia obliqua Walker, 1855 (Lpidoptera Saturniidae) e possíveis fatores determinantes do aumento da sua população, foi apresentado à Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq), da USP de Piracicaba, em julho de 2002.

Ele explica que plantações e cidades se instalaram no lugar das florestas, desalojando as taturanas. "Sem o cedro e a aroeira - seus principais alimentos - e seu habitat natural, a Lonomia adotou as árvores frutíferas do pomar das casas".

Em busca de predadores
Outra razão para o aumento da população do inseto é a extinção de um ou mais de seus predadores naturais. O principal deles é uma mosca da família Tachinidae. Ela deposita cinco ou seis ovos. Ao nascer, dentro da taturana, as larvas se alimentam de seu corpo. Uma vespa da família Ichneumonidae tem o mesmo procedimento, embora deposite apenas um ovo.

Outro predador é o vírus loobMNPV, nocivo apenas para a Lonomia obliqua. Ela fica com movimentos lentos e aparência amarelada. Segundo o pesquisador, uma semana é suficiente para o vírus dizimar toda a colônia.

Um verme da família Mermitidae também foi identificado como um predador, mas havia apenas um exemplar. Existe ainda um percevejo, da família Pentatomidae, que consegue sugar os líquidos da lagarta através do aparelho bucal sugador

Não se encontrou nenhum mamífero ou ave como inimigo natural, que justificaria a existência das cerdas. "Elas não protegem a taturana de nenhum dos predadores encontrados. Por isso pensamos que alguns deles estão extintos." Segundo o especialista, entre os motivos de extinção dos predadores, estariam desmatamento e agrotóxicos lançados nas plantações.

Moraes, também pesquisador do Instituto Butantan, compõe a equipe que produz um soro - único remédio para acidentes com a Lonomia. O Antilonômico é feito a partir das cerdas e tem se mostrado extremamente eficiente; após sua invenção, em 1994, não foram registrados óbitos por queimaduras.

"Para reduzir acidentes, o melhor é a conscientização. Conhecer a lagarta e saber como evitá-la". O pesquisador sugere que no futuro haja um inseticida para a Lonomia, à base do vírus loobMNPV, "que possibilitaria o controle mais fácil e sem risco aos seres humanos".





As Lonomias vivem em comunidades de até 80 lagartas

Larvas de mosca saindo do corpo de lagarta morta
Fotos: Roberto Henrique Pinto Moraes




· vínculos:
Esalq


Instituto do Butantan




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(0XX11) 3726-7222, ramal 2128 ou 9949-3719, ou pelo e-mail taturana@butantan.gov.br

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