Enquanto pessoas da classe média não
cumprimentam o gari por entenderem que não se trata de uma pessoa
e sim de uma função, ele tenta se proteger da violência da invisibilidade
não respondendo a um eventual cumprimento |
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pesquisa Garis - um estudo de psicologia sobre invisibilidade pública
busca contribuir na determinação de um novo conceito: a invisibilidade
pública. Trata-se de uma percepção humana prejudicada e condicionada
à divisão social do trabalho, ou seja, enxerga-se somente a função
e não a pessoa. "Um simples 'bom dia' e a pessoa pode sentir que novamente
existe", relata o psicólogo Fernando Braga da Costa, que defendeu
seu mestrado no Instituto de Psicologia (IP) da USP em novembro de
2002.
Braga ressalta que não se trata de um aspecto biológico da visão e
sim de uma prática oriunda de um "fosso" entre as pessoas, resultante
das diferenças sociais nas diversas classes existentes. "A invisibilidade
pública opera em dois planos: consciente e inconsciente. Quanto mais
próximo se está desse sujeito 'invisível', mais consciência dela se
tem." O resultado, segundo o pesquisador, é que pessoas passam a ser
entendidas como coisas, chegando a ser imperceptíveis.
Em 1996, o psicólogo iniciara o trabalho de campo. Durante cinco anos
ele trabalhou como gari, no mínimo meio período, de um a três dias
por semana no Campus da Cidade Universitária da Capital Paulista.
Fernando cursava o segundo ano da faculdade e tinha uma disciplina
voltada ao propósito de psicólogos desenvolverem estudos engajando-se
na atividade escolhida. Esse método é conhecido como Etnográfico.
Fenômeno de mão dupla
Com o mestrado, a pesquisa se desenvolveu em dois níveis. Primeiro,
conhecer e avaliar as condições de trabalho dos garis, bem como as
condições morais e psicológicas nas quais estão inseridos na cena
pública. O segundo, analisar as aberturas e barreiras psicossociais
que operam nos encontros entre o psicólogo social e os garis, ou seja,
se havia aproximação e de que forma.
O estudioso comenta que a distinção de classe social determina a ação
social. É um fenômeno de mão dupla, mas de origens diferentes. Um
exemplo: enquanto pessoas da classe média não cumprimentam o gari
por entenderem que não se trata de uma pessoa e sim de uma função,
ele tenta se proteger da violência da invisibilidade não respondendo
a um eventual cumprimento.
Uma das saídas a esta situação, destaca o pesquisador, seria num primeiro
momento ter consciência sobre a invisibilidade pública. O segundo
passo, ter um "olhar" mais atento àqueles que estão a nossa volta.
"O uniforme simboliza a invisibilidade; temos de mudar isso, pois
também se trata de uma violência."
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