São Paulo, 
comportamento
10/03/2003
"Invisibilidade pública" transforma
pessoas em objetos
Estudo revela como as diferenças socias criam "seres invisíveis". A percepção humana fica condicionada à divisão social do trabalho enxergando-se somente as funções e não as pessoas
Marcelo
Gutierres

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Enquanto pessoas da classe média não cumprimentam o gari por entenderem que não se trata de uma pessoa e sim de uma função, ele tenta se proteger da violência da invisibilidade não respondendo a um eventual cumprimento
A pesquisa Garis - um estudo de psicologia sobre invisibilidade pública busca contribuir na determinação de um novo conceito: a invisibilidade pública. Trata-se de uma percepção humana prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, ou seja, enxerga-se somente a função e não a pessoa. "Um simples 'bom dia' e a pessoa pode sentir que novamente existe", relata o psicólogo Fernando Braga da Costa, que defendeu seu mestrado no Instituto de Psicologia (IP) da USP em novembro de 2002.

Braga ressalta que não se trata de um aspecto biológico da visão e sim de uma prática oriunda de um "fosso" entre as pessoas, resultante das diferenças sociais nas diversas classes existentes. "A invisibilidade pública opera em dois planos: consciente e inconsciente. Quanto mais próximo se está desse sujeito 'invisível', mais consciência dela se tem." O resultado, segundo o pesquisador, é que pessoas passam a ser entendidas como coisas, chegando a ser imperceptíveis.

Em 1996, o psicólogo iniciara o trabalho de campo. Durante cinco anos ele trabalhou como gari, no mínimo meio período, de um a três dias por semana no Campus da Cidade Universitária da Capital Paulista. Fernando cursava o segundo ano da faculdade e tinha uma disciplina voltada ao propósito de psicólogos desenvolverem estudos engajando-se na atividade escolhida. Esse método é conhecido como Etnográfico.

Fenômeno de mão dupla
Com o mestrado, a pesquisa se desenvolveu em dois níveis. Primeiro, conhecer e avaliar as condições de trabalho dos garis, bem como as condições morais e psicológicas nas quais estão inseridos na cena pública. O segundo, analisar as aberturas e barreiras psicossociais que operam nos encontros entre o psicólogo social e os garis, ou seja, se havia aproximação e de que forma.

O estudioso comenta que a distinção de classe social determina a ação social. É um fenômeno de mão dupla, mas de origens diferentes. Um exemplo: enquanto pessoas da classe média não cumprimentam o gari por entenderem que não se trata de uma pessoa e sim de uma função, ele tenta se proteger da violência da invisibilidade não respondendo a um eventual cumprimento.

Uma das saídas a esta situação, destaca o pesquisador, seria num primeiro momento ter consciência sobre a invisibilidade pública. O segundo passo, ter um "olhar" mais atento àqueles que estão a nossa volta. "O uniforme simboliza a invisibilidade; temos de mudar isso, pois também se trata de uma violência."





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Instituto de Psicologia

· mais informações:
(0XX11) 9908-7386 ou e-mail gariusp@yahoo.com.br, com Fernando Braga da Costa

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