São Paulo, 
veterinária
14/03/2002
Medicamento aplicado em cães afeta
o sistema imunológico do animal

O dipropionato de imidocarb, utilizado no tratamento da babesiose canina, reduz a taxa de anticorpos no sangue, tornando o animal vulnerável ao mesmo protozoário em apenas seis meses

Beatriz
Camargo

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"Seis meses depois de ter sido medicado com o dipropionato, o cão pode adoecer novamente, se for picado por carrapatos, como se nunca tivesse entrado em contato com aquele antígeno"
O veterinário Leonardo Brandão constatou que o dipropionato de imidocarb, substância utilizada no tratamento da babesiose canina - doença muito comum em cães -, pode tornar o animal suscetível à reinfecção, pelo mesmo protozoário, em um período de seis meses. Os dados estão na dissertação de mestrado em clínica veterinária, apresentada por Brandão na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP.

O pesquisador explica que a babesiose canina é causada pelo protozoário Babesia canis. "Acomete principalmente cães da zona rural, freqüentemente infestados por carrapatos. A espécie denominada 'carrapato vermelho do cão', é a que transmite a doença". Os sintomas são febre, anemia e sangramentos no nariz podendo, em alguns casos, levar à morte.

O tratamento mais utilizado é com o dipropionato de imidocarb. No entanto, o veterinário adverte que deve-se ter cautela com seu uso. Segundo ele, o medicamento é muito eficaz na eliminação do protozoário do organismo do cão, o que pode diminuir precocemente os níveis de anticorpos e tornar o animal suscetível à infecção mais cedo. "Assim, dentro de seis meses, se o cão for picado por carrapatos, ele pode adoecer novamente, como se nunca tivesse entrado em contato com aquele antígeno."

No estudo, dez cães foram infectados com o Babesia canis. Metade deles recebeu tratamento com o dipropionato de imidocarb (duas doses com 15 dias de intervalo). O restante dos animais não recebeu qualquer tratamento, sendo acompanhado até que se recuperasse sozinho.

"Após seis meses, o 'título' de anticorpos do grupo não tratado era quatro vezes maior que o do outro grupo, uma diferença significante", diz o pesquisador. Os cães foram então reinfectados e apenas o grupo tratado manifestou a doença. "O que pode ter ocorrido é que no grupo não tratado os anticorpos eliminaram a infecção antes que os animais tivessem qualquer sintoma."

Reação natural
O pesquisador adverte que, em caso de utilização do remédio, é preciso verificar o ambiente do cão: se ele for de uma área urbana, o controle dos carrapatos é mais eficiente e a oportunidade de uma reinfecção é menor. "Entretanto, se o animal vive em um sítio e fica solto, não há como impedir que o cão seja picado por carrapatos. Neste caso, o melhor é não usar o medicamento.

"Uma alternativa é tratá-los com antibióticos como a tetraciclina, capazes de controlar a infecção e baixar a febre, sem no entanto eliminar completamente o protozoário", recomenda Brandão. Isso permite, segundo ele, que o sistema imunológico responda adequadamente, guardando a 'memória' do antígeno para o futuro, como uma vacina. "Mas o melhor caminho ainda é a prevenção: evitar que o cachorro entre em contato com pulgas e carrapatos."



Hemáceas parasitadas pelo Babesia canis, cuja infecção causa anemia, febre e sangramentos no nariz do animal
imagem cedida pelo pesquisador


· vínculos:
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia

· mais informações:
(0XX11) 9791-6145 ou pelo e-mail leobrandao@yahoo.com, com Leonardo Brandão

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