"Seis meses depois de ter sido
medicado com o dipropionato, o cão pode adoecer novamente,
se for picado por carrapatos, como se nunca tivesse entrado em contato
com aquele antígeno" |
|
|
|
|
O
veterinário Leonardo Brandão constatou que o dipropionato
de imidocarb, substância utilizada no tratamento da babesiose
canina - doença muito comum em cães -, pode tornar o
animal suscetível à reinfecção, pelo mesmo
protozoário, em um período de seis meses. Os dados estão
na dissertação de mestrado em clínica veterinária,
apresentada por Brandão na Faculdade de Medicina Veterinária
e Zootecnia (FMVZ) da USP.
O pesquisador explica que a babesiose canina é causada pelo
protozoário Babesia canis. "Acomete principalmente
cães da zona rural, freqüentemente infestados por carrapatos.
A espécie denominada 'carrapato vermelho do cão', é
a que transmite a doença". Os sintomas são febre,
anemia e sangramentos no nariz podendo, em alguns casos, levar à
morte.
O tratamento mais utilizado é com o dipropionato de imidocarb.
No entanto, o veterinário adverte que deve-se ter cautela com
seu uso. Segundo ele, o medicamento é muito eficaz na eliminação
do protozoário do organismo do cão, o que pode diminuir
precocemente os níveis de anticorpos e tornar o animal suscetível
à infecção mais cedo. "Assim, dentro de
seis meses, se o cão for picado por carrapatos, ele pode adoecer
novamente, como se nunca tivesse entrado em contato com aquele antígeno."
No estudo, dez cães foram infectados com o Babesia canis.
Metade deles recebeu tratamento com o dipropionato de imidocarb (duas
doses com 15 dias de intervalo). O restante dos animais não recebeu
qualquer tratamento, sendo acompanhado até que se recuperasse sozinho.
"Após seis meses, o 'título' de anticorpos do grupo
não tratado era quatro vezes maior que o do outro grupo, uma
diferença significante", diz o pesquisador. Os cães
foram então reinfectados e apenas o grupo tratado manifestou
a doença. "O que pode ter ocorrido é que no grupo
não tratado os anticorpos eliminaram a infecção
antes que os animais tivessem qualquer sintoma."
Reação natural
O pesquisador adverte que, em caso de utilização do
remédio, é preciso verificar o ambiente do cão:
se ele for de uma área urbana, o controle dos carrapatos é
mais eficiente e a oportunidade de uma reinfecção é
menor. "Entretanto, se o animal vive em um sítio e fica
solto, não há como impedir que o cão seja picado
por carrapatos. Neste caso, o melhor é não usar o medicamento.
"Uma alternativa é tratá-los com antibióticos
como a tetraciclina, capazes de controlar a infecção
e baixar a febre, sem no entanto eliminar completamente o protozoário",
recomenda Brandão. Isso permite, segundo ele, que o sistema
imunológico responda adequadamente, guardando a 'memória'
do antígeno para o futuro, como uma vacina. "Mas o melhor
caminho ainda é a prevenção: evitar que o cachorro
entre em contato com pulgas e carrapatos."
|
|
|