14/09/2004 - clonagem
USP de Pirassununga é a quarta instituição brasileira a produzir clones bovinos
Independência nasceu no dia 9 de setembro (dia do veterinário), numa fazenda chamada Ipiranga, o que justifica o nome. A bezerra é resultado da manipulação de genes de uma vaca nelore de alto padrão


Tadeu Breda


Uma bezerra saudável chamada Independência é o primeiro clone bovino produzido pela Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em Pirassununga. O animal nasceu no dia 9 de setembro (dia do veterinário), fruto da manipulação dos genes de uma vaca raça nelore de alto padrão.

"O que fizemos foi retirar o material genético do óvulo de vacas abatidas em frigorífico e substituí-lo pelo núcleo de uma célula somática oriunda da pele do animal a ser clonado", explica o professor Flávio Vieira Meirelles, coordenador do Laboratório de Morfofisiologia Molecular e Desenvolvimento (LMMD) da FZEA. "Depois, através de eletrodos, aplicamos um choque de baixa intensidade para fundir as membranas das células e reconstituir o embrião." Segundo o professor, a técnica utilizada foi semelhante à que deu origem à ovelha Dolly, clonada por pesquisadores do Reino Unido, em 1997.

O trabalho que deu origem à bezerra Independência - assim chamada por ter nascido numa fazenda chamada Ipiranga, durante a Semana da Pátria - iniciou-se no segundo semestre de 2003. "Em setembro começamos a organizar o laboratório para as primeiras transferências de núcleo", conta Meirelles. "Mas foi somente em dezembro que dois embriões conseguiram se formar." Os zigotos foram então injetados num animal receptor, como numa gravidez de aluguel. No entanto, um deles sofreu aborto aos 120 dias de gestação, restando apenas o embrião que deu origem à Independência, na última quinta-feira.

O pesquisador afirma que o clone bovino produzido em Pirassununga não é o primeiro a nascer no país. A Unesp de Jaboticabal, a Universidade de Brasília e Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da própria USP já conseguiram realizar procedimentos como esse. "No entanto, o sucesso do nosso trabalho mostra que mais um laboratório brasileiro tem autonomia, 'independência', nesse tipo de manipulação genética", reconhece Meirelles, referindo-se ao nome da bezerra.

Problemas
Assim como a ovelha Dolly, que apresentou problemas relacionados ao envelhecimento precoce e não conseguiu reproduzir-se normalmente, o pesquisador reconhece que Independência pode ter sua saúde debilitada pelo fato de ser um clone. "Para diagnosticar qualquer tipo de problema que possa existir, iremos acompanhar a vaca durante todo o seu crescimento. No entanto, pesquisas anteriores feitas no exterior revelam que, se nenhuma irregularidade na saúde do animal for observada nos primeiros 30 dias de vida, ele possivelmente terá um desenvolvimento normal", esclarece Meirelles.

Por ser um nelore de alto padrão genético, Independência será utilizada comercialmente como reprodutora pelo laboratório Vitrogen, que, juntamente com a Fapesp, apoiou a pesquisa da FZEA. "Até o momento, temos outras 16 gestações em andamento. Os bezerros devem nascer no máximo até julho de 2005", revela Meirelles. "Se tudo ocorrer normalmente, o próximo clone nascerá entre dezembro e janeiro próximos."

 

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