05/10/2004 - meio ambiente
Teste reduz tempo de detecção de toxina de três dias para três horas
Nova técnica indica presença de substâncias tóxicas produzidas por cianobactérias em reservatórios de água a um custo três vezes menor do que os testes tradicionais


Júlio Bernardes


As cianobactérias, algas existentes em represas, podem produzir substâncias perigosas para a saúde humana, conhecidas como microcistinas. Utilizando marcadores moleculares, a equipe da professora Maria do Carmo Bittencourt Oliveira, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) detectou cianobactérias produtoras de microcistinas em apenas três horas. "Os testes tradicionais levam até três dias para fazer a identificação, a um custo três vezes maior", diz a professora.

O novo teste pode ser feito diretamente em amostra ambiental com cianobactérias coletadas das represas.. "O método do marcador molecular para microcistina se baseia na Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), e identifica genes presentes na síntese das microcistinas", explica.

A eficiência do método foi comprovada em análises químicas realizadas pela equipe do professor Ernani Pinto da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP. "As outras técnicas, como a injeção de cianobactérias em camundongos para verificar sintomas de contaminação, o teste ELISA e a Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE), fornecem resultados entre um e três dias", diz Maria do Carmo. "A
PCR é um teste preditivo, que antecipa se a floração das algas irá produzir toxinas, facilitando o trabalho preventivo das empresas de tratamento de água."

Ação ministerial
A partir de 2005, o Ministério da Saúde obrigará as empresas de abastecimento de água a realizar o monitoramento de cianobactérias nos reservatórios. "A poluição nas represas gera nutrientes que, com as altas temperaturas, fazem as algas aflorarem mais rapidamente", relata a pesquisadora. "Quando a concentração de cianobactérias for maior que 20 mil células por mililitro de água, as empresas serão obrigadas a identificar, por meio de testes, a existência das microcistinas, que são liberadas após a morte celular."

Entre as toxinas produzidas pelas algas estão as hepatoxinas, que provocam tumores no fígado, e as neurotoxinas, que agem no sistema nervoso. "A contaminação da água por microcistinas foi responsável pela morte de 77 pessoas na clínica de hemodiálise em Caruaru (PE), desde 1996", aponta a professora. "Como estes foram os primeiros casos fatais registrados em seres humanos no mundo, a contaminação ficou conhecida como Síndrome de Caruaru."

Custos
Cada análise de água por marcador molecular pode ser feita ao preço de US$ 1,65, observa a professora, enquanto o bioensaio em camundongos pode custar entre US$ 17 e US$ 134 e as análises com CLAE e ELISA podem atingir de US$ 44 a 60 e US$ 12 a 134 cada, respectivamente.

Maria do Carmo estima que toda a implantação do método em laboratórios custa US$ 6 mil. "A técnica da PCR é muito comum em laboratórios de biologia molecular, e exige um termociclador, aparelho que, se importado, custa US$ 2,5 mil", aponta. "A importação dos equipamentos de cromatografia pode custar mais de US$ 25 mil e o leitor de placas para o teste ELISA está avaliado em US$ 15 mil". A patente do marcador já foi requerida, e serão necessárias parcerias com empresas para transferir a tecnologia e permitir a venda de kits com o reagente para realização de testes.

 

Mais informações: (0XX11) 3429-4128, com Maria do Carmo Bittencourt de Oliveira


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