Uma bezerra saudável chamada Independência é
o primeiro clone bovino produzido pela Faculdade de Zootecnia e
Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em Pirassununga. O animal
nasceu no dia 9 de setembro (dia do veterinário), fruto da
manipulação dos genes de uma vaca raça nelore
de alto padrão.
"O que fizemos foi retirar o material genético do óvulo
de vacas abatidas em frigorífico e substituí-lo pelo
núcleo de uma célula somática oriunda da pele
do animal a ser clonado", explica o professor Flávio
Vieira Meirelles, coordenador do Laboratório de Morfofisiologia
Molecular e Desenvolvimento (LMMD) da FZEA. "Depois, através
de eletrodos, aplicamos um choque de baixa intensidade para fundir
as membranas das células e reconstituir o embrião."
Segundo o professor, a técnica utilizada foi semelhante à
que deu origem à ovelha Dolly, clonada por pesquisadores
do Reino Unido, em 1997.
O trabalho que deu origem à bezerra Independência -
assim chamada por ter nascido numa fazenda chamada Ipiranga, durante
a Semana da Pátria - iniciou-se no segundo semestre de 2003.
"Em setembro começamos a organizar o laboratório
para as primeiras transferências de núcleo", conta
Meirelles. "Mas foi somente em dezembro que dois embriões
conseguiram se formar." Os zigotos foram então injetados
num animal receptor, como numa gravidez de aluguel. No entanto,
um deles sofreu aborto aos 120 dias de gestação, restando
apenas o embrião que deu origem à Independência,
na última quinta-feira.
O pesquisador afirma que o clone bovino produzido em Pirassununga
não é o primeiro a nascer no país. A Unesp
de Jaboticabal, a Universidade de Brasília e Faculdade de
Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da própria
USP já conseguiram realizar procedimentos como esse. "No
entanto, o sucesso do nosso trabalho mostra que mais um laboratório
brasileiro tem autonomia, 'independência', nesse tipo de manipulação
genética", reconhece Meirelles, referindo-se ao nome
da bezerra.
Problemas
Assim como a ovelha Dolly, que apresentou problemas relacionados
ao envelhecimento precoce e não conseguiu reproduzir-se normalmente,
o pesquisador reconhece que Independência pode ter sua saúde
debilitada pelo fato de ser um clone. "Para diagnosticar qualquer
tipo de problema que possa existir, iremos acompanhar a vaca durante
todo o seu crescimento. No entanto, pesquisas anteriores feitas
no exterior revelam que, se nenhuma irregularidade na saúde
do animal for observada nos primeiros 30 dias de vida, ele possivelmente
terá um desenvolvimento normal", esclarece Meirelles.
Por ser um nelore de alto padrão genético, Independência
será utilizada comercialmente como reprodutora pelo laboratório
Vitrogen, que, juntamente com a Fapesp, apoiou a pesquisa da FZEA.
"Até o momento, temos outras 16 gestações
em andamento. Os bezerros devem nascer no máximo até
julho de 2005", revela Meirelles. "Se tudo ocorrer normalmente,
o próximo clone nascerá entre dezembro e janeiro próximos."
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