02/12/2005 - urbanismo
Projeto da estância do Barreiro, em Araxá (MG), ainda pode ser aplicado
O planejamento envolveu grandes nomes da arquitetura, paisagismo e urbanismo. As soluções que na década de 1930 transformaram a área alagada em um complexo turístico e de tratamento permanecem viáveis


Renata Moraes


A criação da estância hidromineral do Barreiro de Araxá, um projeto da década de 1930, desmistifica a idéia de que o planejamento de cidades seja algo recente no Brasil. Ainda no início do século XX, o governo do Estado de Minas Gerais elaborou soluções urbanísticas e paisagísticas na antiga área de alagados que podem ser adotadas atualmente em nossas cidades.

A arquiteta Daniele Porto conta que a região, sempre alagada devido às inundações - causadas pelas fontes, foi transformada em um complexo turístico e de tratamento na época em que o então governador, Benedito Valadares, tinha como meta investir nas estâncias minerais do Estado. O projeto teve também incentivos do presidente Getúlio Vargas.

As soluções adotadas para resolver problemas técnicos, como a preservação da mata e dos cursos d´água, poderiam servir de modelo para a restauração de estâncias já existentes ou a construção de novos balneários. Exemplos dessas soluções são o cuidado em evitar grandes inclinações nas vias e as grandes áreas ajardinadas, que impedem a formação de enxurradas. Os lotes residenciais amplos diminuem o adensamento populacional e, conseqüentemente, o volume de esgoto e lixo gerado pelos moradores.

A arquiteta, que estudou a história de Araxá e do Barreiro, apresentou neste ano o mestrado sobre o tema na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP.

O projeto
Daniele diz que foi desenvolvido um projeto viário para a área das fontes, localizada a cinco qilômetros do centro da cidade de Araxá, além de um lago, pavilhões para abrigar as fontes, um hotel de alto padrão com mais de 300 apartamentos e o edifício das termas.

"O complexo foi inaugurado em 1944, em um momento de expansão das estâncias no País. Isso acontecia porque desde as décadas de 20 e 30, os médicos começaram a recomendar esses lugares como ideais para a recuperação de várias enfermidades", diz a pesquisadora. As estâncias também faziam bastante sucesso por seus cassinos. Além disso, muitos turistas que tinham condições de ir para complexos na Europa foram obrigados a permanecer no Brasil devido às guerras mundiais.

O planejamento foi feito por arquitetos e paisagistas como Luiz Signorelli, Francisco Bologna, Roberto Burle Max e Raphael Hardy Filho. O plano urbanístico da estância seguiu princípios da "Cidade Jardim", modelo difundido pelos ingleses no século XIX, presente também em bairros paulistanos como o Jardim América e o Pacaembu. "Nas estâncias, esse padrão criou ambientes propícios para o repouso e ao mesmo tempo para a vida agitada de jogos e bailes", afirma a pesquisadora.

Situação atual
Em 1993 o conjunto foi fechado porque precisava ser reformado. As termas ficaram quatro anos desativadas e o hotel só voltou a funcionar em 2002 (em 2000 foi arrendado para uma rede hoteleira).

Daniele comenta que grande parte dos freqüentadores atuais é idosa, mas no momento uma tendência das estâncias é atrair um público interessado em realizar eventos, "utilizar sua infra-estrutura para congressos e seminários".

 

Mais informações:(0XX16) 3372 8952 ou e-mail danireporto@hotmail.com


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