"Podemos dizer, grosso modo, que
a classe alta sai para tomar whisky e cerveja, enquanto a classe média
prefere chopp. Já as faixas mais pobres acabam consumindo aguardente,
pois é mais barato". |
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Apesar
de os mais ricos serem os maiores consumidores de bebidas alcoólicas
entre a população da cidade de São Paulo, as
famílias mais pobres são as maiores prejudicadas. Em
média, os gastos desta natureza comprometem 33,4% do orçamento
familiar destes lares, cuja renda vai até R$ 250,00. "Isso
significa que são desviados valores de despesas como educação,
habitação, alimentação, e outras",
explica a nutricionista Valéria Simone Furtado Ikeda.
Utilizando a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 98 / 99,
conduzida pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas
(Fipe), entidade conveniada à Faculdade de Economia, Administração
e Contabilidade (FEA) da USP, a pesquisadora traçou uma espécie
de perfil socioeconômico do consumo de bebidas alcoólicas
na cidade de São Paulo. O resultado está em seu estudo
de mestrado apresentado ao Programa de Pós-Graduação
Interunidades em Nutrição Humana Aplicada da USP, que
envolve a Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) e
a FEA.
A pesquisa foi aplicada em 2.353 residências, e obteve informações
que em sua maioria não destoavam muito do esperado. "Um
dado curioso é que a faixa mais rica da população
foi a segunda que mais consumiu aguardente, perdendo apenas para a
mais pobre." Apesar de a diferença no volume de cachaça
ser da ordem de mais de cinco vezes, nos gastos este degrau quase
não aparece - o total de ambos segmentos é praticamente
o mesmo. Isso evidencia um dado já esperado: a cachaça
que o rico bebe tem um valor muito maior que a consumida pelo mais
pobres.
Se por um lado cerca de um terço da renda dos mais pobres é
destinada a bebidas alcoólicas, por outro o valor que cada
residência utiliza com este fim não é tão
grande, R$41,75, em média. Não se pode dizer o mesmo
da porção mais abastada da pesquisa, que despende mensalmente
R$324,60 com o consumo destes itens. A relação entre
renda e valor gasto com estas bebidas é relativamente linear,
ou seja, quanto mais se ganha, mais se gasta com isso. A questão
é que há quase cinco pessoas na classe mais baixa para
cada representante da parcela mais rica, e estes empenham, em média,
apenas 2,6% de sua renda familiar com bebidas.
Perfil
De maneira geral, os hábitos de consumo alcoólico dos
paulistanos podem ser separados de acordo com o seu poder aquisitivo.
"Podemos dizer, grosso modo, que a classe alta sai para tomar
whisky e cerveja, enquanto a classe média prefere chopp. Já
as faixas mais pobres acabam consumindo aguardente, pois é
mais barato". Outra constatação é que os
mais ricos bebem mais que os outros. Enquanto cada unidade de consumo
deste nível compra, em média, 36,79 litros (L) mensalmente,
na faixa de menor renda este dado fica em 29,1 L, o segundo maior
índice.
Entretanto, a saúde dos mais ricos, tanto orgânica quanto
financeira, quase não é afetada por este padrão.
Eles tomam bebidas de qualidade, são bem nutridos e dispõem
dos melhores serviços médicos. Os pobres, além
de estarem em posições totalmente opostas a estas, ainda
acabam por abrir mão de necessidades básicas para consumir
bebidas - o que ajuda ainda mais a potencializar o dano.
A pesquisadora acredita que em seu estudo estão os dados iniciais
para a conscientização da população sobre
o consumo de álcool, e recomenda que mais pesquisas sejam feitas
no intuito de entender os impactos sociais, econômicos e na
saúde pública decorrentes do uso abusivo. "A melhor
forma de combater o alcoolismo é informar e educar a população,
principalmente os mais jovens", conclui.
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