...a importância do acompanhamento
está justamente no fato de se decidir os momentos em que alguns
procedimentos poderão ser adotados. "Há casos,
por exemplo, em que o traumatismo de um dente-de-leite pode não
prejudicar tanto a dentição definitiva. |
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Os acidentes sofridos por uma criança que começa andar,
e que chegam a causar traumatismos na dentição decídua
(primeira dentição ou dentes-de-leite), podem prejudicar
a dentição permanente. Para que a dentição
definitiva não seja afetada, o professor Paulo Nelson Filho,
da Faculdade de Odontologia da USP de Ribeirão Preto (FORP),
recomenda o acompanhamento de um odontopediatra, profissional capaz
de cuidar das duas dentições da criança de zero
a 12 anos. Segundo ele, 20% das crianças abaixo dos cinco anos
já sofreram algum tipo de traumatismo na dentição
decídua.
O professor, que é titular da disciplina de Odontopediatria
da FORP, acaba de publicar um artigo sobre o tema numa das mais importantes
revistas odontológicas do mundo, a norte-americana Dental
Traumatology, em sua edição de outubro deste ano.
No texto, Nelson Filho descreve o caso de uma menina que, ainda bebê,
sofreu um traumatismo com a perda de um dos dentes. "A criança
foi acometida por uma mal formação chamada odontoma
(odontoma-like), uma anomalia rara que pode passar desapercebida,
já que não causa sensação de dor",
descreve o pesquisador. O caso foi acompanhado pela equipe do professor
por mais de seis anos.
"Quando ela tinha por volta de um ano e oito meses, um pequeno
acidente provocou a perda de dois dentes anteriores (incisivos)",
conta. Um deles entrou pelo osso maxilar, sendo posteriormente extraído.
"Trata-se de um caso relativamente comum. Mas o fato de o dente-de-leite
entrar no osso prejudicou o dente permanente que estava por nascer,
quando ainda era simplesmente uma matriz", conta Nelson. "A
denominação (matriz) é porque o dente ainda não
foi mineralizado e sua formação inicial ainda é
apenas uma espécie de gelatina dentro do osso", explica.
Os especialistas fizeram um acompanhamento, inicialmente em curtos
intervalos, para avaliar o crescimento do dente definitivo. Mais tarde,
já com intervalos de seis meses a um ano, os dentistas concluíram
que a melhor opção seria a extração e
a utilização de um aparelho ortodôntico. "Optamos
por um procedimento cirúrgico/ortodôntico", relata
Nélson Filho.
A cirurgia seguida da instalação do aparelho aconteceu
quando a menina já tinha por volta de 8 anos. "O acompanhamento
nos permitiu verificar que, no lugar do dente surgiu uma massa calcificada,
a qual teria que ser retirada para não prejudicar os outros
dentes, também permanentes, que nasceriam ao lado", diz
o professor. Contudo, ficou ainda a questão estética.
"Por tratar-se de um dente anterior, a garota ficaria com uma
falha popularmente conhecida por 'janelinha'. O aparelho ortodôntico
possibilitou a aproximação dos dentes a ponto de ser
imperceptível qualquer histórico do traumatismo",
afirma Nelson Filho.
Trabalho multidisciplinar
Para o professor, a importância do acompanhamento está
justamente no fato de se decidir os momentos em que alguns procedimentos
poderão ser adotados. "Há casos, por exemplo, em
que o traumatismo de um dente-de-leite pode não prejudicar
tanto a dentição definitiva. O acompanhamento permanente,
por meio de exames e raios-x, nos permite identificar a grandeza do
problema. Há situações em que o dente pode nascer
apenas com uma mancha", explica. No caso específico de
nossa paciente, os especialistas puderam decidir os procedimentos
sem qualquer prejuízo à criança, inclusive com
relação à estética.
Outro ponto destacado por Nelson Filho neste acompanhamento, foi o
trabalho multidisciplinar que envolveu a pediatria e também
a psicologia. "O acompanhamento psicológico é fundamental,
principalmente por tratar-se de crianças em idade de crescimento",
recomenda, lembrando que a paciente relatada no estudo, atualmente
com cerca de 11 anos, já não usa mais o aparelho ortodôntico.
"Não há qualquer vestígio que de existiu
um traumatismo com perda do dente permanente."
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