São Paulo, 
odontologia
29/11/2005
Traumatismos na dentição decídua devem ter acompanhamento de um odontopediatra
Trabalho publicado recentemente numa revista norte-americana mostra a importância do acompanhamento de um odontopediatra em casos de traumatismos que possam vir a prejudicar a dentição decídua de crianças
Antonio Carlos
Quinto

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...a importância do acompanhamento está justamente no fato de se decidir os momentos em que alguns procedimentos poderão ser adotados. "Há casos, por exemplo, em que o traumatismo de um dente-de-leite pode não prejudicar tanto a dentição definitiva.
Os acidentes sofridos por uma criança que começa andar, e que chegam a causar traumatismos na dentição decídua (primeira dentição ou dentes-de-leite), podem prejudicar a dentição permanente. Para que a dentição definitiva não seja afetada, o professor Paulo Nelson Filho, da Faculdade de Odontologia da USP de Ribeirão Preto (FORP), recomenda o acompanhamento de um odontopediatra, profissional capaz de cuidar das duas dentições da criança de zero a 12 anos. Segundo ele, 20% das crianças abaixo dos cinco anos já sofreram algum tipo de traumatismo na dentição decídua.

O professor, que é titular da disciplina de Odontopediatria da FORP, acaba de publicar um artigo sobre o tema numa das mais importantes revistas odontológicas do mundo, a norte-americana Dental Traumatology, em sua edição de outubro deste ano. No texto, Nelson Filho descreve o caso de uma menina que, ainda bebê, sofreu um traumatismo com a perda de um dos dentes. "A criança foi acometida por uma mal formação chamada odontoma (odontoma-like), uma anomalia rara que pode passar desapercebida, já que não causa sensação de dor", descreve o pesquisador. O caso foi acompanhado pela equipe do professor por mais de seis anos.

"Quando ela tinha por volta de um ano e oito meses, um pequeno acidente provocou a perda de dois dentes anteriores (incisivos)", conta. Um deles entrou pelo osso maxilar, sendo posteriormente extraído. "Trata-se de um caso relativamente comum. Mas o fato de o dente-de-leite entrar no osso prejudicou o dente permanente que estava por nascer, quando ainda era simplesmente uma matriz", conta Nelson. "A denominação (matriz) é porque o dente ainda não foi mineralizado e sua formação inicial ainda é apenas uma espécie de gelatina dentro do osso", explica.

Os especialistas fizeram um acompanhamento, inicialmente em curtos intervalos, para avaliar o crescimento do dente definitivo. Mais tarde, já com intervalos de seis meses a um ano, os dentistas concluíram que a melhor opção seria a extração e a utilização de um aparelho ortodôntico. "Optamos por um procedimento cirúrgico/ortodôntico", relata Nélson Filho.

A cirurgia seguida da instalação do aparelho aconteceu quando a menina já tinha por volta de 8 anos. "O acompanhamento nos permitiu verificar que, no lugar do dente surgiu uma massa calcificada, a qual teria que ser retirada para não prejudicar os outros dentes, também permanentes, que nasceriam ao lado", diz o professor. Contudo, ficou ainda a questão estética. "Por tratar-se de um dente anterior, a garota ficaria com uma falha popularmente conhecida por 'janelinha'. O aparelho ortodôntico possibilitou a aproximação dos dentes a ponto de ser imperceptível qualquer histórico do traumatismo", afirma Nelson Filho.

Trabalho multidisciplinar
Para o professor, a importância do acompanhamento está justamente no fato de se decidir os momentos em que alguns procedimentos poderão ser adotados. "Há casos, por exemplo, em que o traumatismo de um dente-de-leite pode não prejudicar tanto a dentição definitiva. O acompanhamento permanente, por meio de exames e raios-x, nos permite identificar a grandeza do problema. Há situações em que o dente pode nascer apenas com uma mancha", explica. No caso específico de nossa paciente, os especialistas puderam decidir os procedimentos sem qualquer prejuízo à criança, inclusive com relação à estética.

Outro ponto destacado por Nelson Filho neste acompanhamento, foi o trabalho multidisciplinar que envolveu a pediatria e também a psicologia. "O acompanhamento psicológico é fundamental, principalmente por tratar-se de crianças em idade de crescimento", recomenda, lembrando que a paciente relatada no estudo, atualmente com cerca de 11 anos, já não usa mais o aparelho ortodôntico. "Não há qualquer vestígio que de existiu um traumatismo com perda do dente permanente."




Traumatismo provocou a perda de dois dentes anteriores (incisivos)

Aparelho ortodôntico aproximou os dentes sem prejuízo à estética
Imagens cedidas pelo pesquisador


· vínculos:
Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto

· mais informações:
(0XX16) 3602-4099, com o professor Paulo Nelson Filho; e-mail: nelson@forp.usp.br

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