Estudo
realizado na Faculdade de Medicina (FM) da USP mostra que a utilização
da lama negra de Peruíbe, cidade do litoral Sul de São Paulo, apresentou
efeito antiinflamatório em ratos com artrite experimental. "Houve
uma diminuição da resposta inflamatória nos animais",
conta a biomédica Zélia Maria Nogueira Britschka, autora da pesquisa.
A biomédica teve a idéia de estudar a lama para obter uma comprovação
científica dos seus efeitos terapêutico, já propagados pela
população local. "Há alguns anos, um médico da
cidade fazia demonstrações na praia, com imersões e cataplasmas
(aplicações concentradas) da lama em pacientes com problemas de
artrite. As pessoas foram tratadas diariamente por três semanas, e tiveram
os sintomas da doença aliviados de 3 a 6 meses" conta Zélia.
No Laboratório de Inflamação da Reumatologia da FM,
a biomédica estudou o assunto, em seu programa de doutorado, num caráter
mais científico e menos empírico. Além disso, a possível
confirmação dos efeitos benéficos da lama poderia acabar
com as ressalvas das pessoas que viam os resultados positivos apenas como um efeito
placebo. Modelo experimental A fangoterapia (aplicação
da lama para efeitos terapêuticos) é muito utilizada em países
da Europa e da Ásia, como uma modalidade de terapias de Spa. Nessa
situação, pode haver outros efeitos, como o relaxamento e a aplicação
de outras terapias, que influenciem no resultado positivo. Por isso, a biomédica
decidiu utilizar em seus estudos um modelo experimental, onde esses parâmetros
são anulados. A intenção foi reproduzir o que era
colocado em prática pelo médico de Peruíbe, com as mesmas
condições, mas em animais. "Os testes foram feitos com ratos
submetidos a uma indução do quadro de artrite e posterior exposição
à lama. O processo se repetiu diariamente por 15 dias, em períodos
de 30 minutos, à 40º C", conta a biomédica. Os
animais andavam sobre a lama, que era colocada em suas gaiolas. Foi observada
uma redução na resposta inflamatória crônica, ocorrendo
diminuição da presença de células brancas no líquido
sinovial da cavidade articular com artrite (não existem glóbulos
brancos em articulações saudáveis), além de uma melhora
na destruição de tecidos da articulação.
Controle científico Além dos ratos submetidos ao tratamento
com a lama, foi utilizado um grupo de animais chamado "de controle".
Eles foram tratados nas mesmas condições, mas com água quente
no lugar da lama. "Esse procedimento foi necessário.
Na literatura médica há indícios de que o efeito terapêutico
da lama vem de sua capacidade de manter a temperatura", descreve Zélia.
"Com a maior exposição ao calor,
ocorre uma reação ao estresse térmico, com aumento de cortisol,
um reconhecido antiinflamatório". Esse grupo de animais se comportou
praticamente como os animais com artrite induzida, mas com uma diminuição
menos significativa da resposta inflamatória. Deste modo, fica
claro que além da temperatura, há algo mais na lama negra de Peruíbe,
penetrável na pele, que faz com que os efeitos da artrite sejam amenizados.
A biomédica pretende continuar as pesquisas em seu pós-doutorado,
e diz que "o tratamento com a lama não substitui totalmente a medicação
para artrite, mas pode ser coadjuvante, utilizado em parceria com os remédios
tradicionais em pacientes que não respondem bem aos efeitos colaterais
da medicação normal".
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