01/09/2006 - farmacologia
Guaçatonga oferece vantagens em relação a antiulcerosos do mercado
Substância não altera o pH do suco gástrico e não provoca contração uterina. Possui atividade citoprotetora e age em todos os níveis de ulcerações. Popularmente usada como cicatrizante, a planta já foi patenteada por japoneses por sua atividade antitumoral


Valéria Dias



O extrato bruto das folhas da guaçatonga (Casearia sylvestris), uma árvore de médio porte comum na América do Sul, apresentou um grande potencial para o tratamento de úlceras gástricas de ratos. Testes realizados no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP mostrararam que, além de não alterar o pH do suco gástrico e não causar a contração da musculatura uterina, a substância agiu em todos os níveis de gravidade das ulcerações e reduziu a zero o nível de tais lesões.

Segundo o professor Jayme Antônio Aboin Sertié, do Laboratório de Farmacologia e Toxicologia do Departamento de Farmacologia do ICB, a maioria dos medicamentos utilizados para tratar úlcera provoca a alteração do pH do suco gástrico, o que pode facilitar a entrada de bactérias oportunistas, como a Helicobacter pylori (H.pylori), além de também ativar a pepsina, enzima responsável por digerir proteínas.

Outra vantagem da planta é a ação em todas as fases da doença, ou seja, ela age em úlceras leves, moderadas e graves. A guaçatonga também apresenta intensa atividade citoprotetora, que é um sistema autoprotetor que impede a autodigestão do estômago. "Alguns antiulcerosos citoprotetores agem apenas nas úlceras médias e profundas", afirma o professor. Essas drogas, segundo Sertié, provocam contração da musculatura uterina, como ocorre com o cytotec, medicamento proibido por ser usado como abortivo. "Este é mais um aspecto positivo apresentado pelo extrato da Casearia sylvestris: não provocou contrações da musculatura uterina nos animais testados", esclarece.

Extrato ideal
Segundo o pesquisador do ICB, Ricardo Woisky, foram necessários vários testes até se chegar ao extrato mais adequado. "Dependendo do solvente (se é álcool ou acetona) e da proporção usada, pode-se alterar a quantidade de princípios ativos extraída", explica. E esse extrato ideal veio por intermédio do professor Alberto José Cavalheiro, e dos pesquisadores Vanderlan da Silva Bolzani, André Gonzaga dos Santos e Aristeu Gomes Tininis, do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Araraquara.

O grupo de Cavalheiro já trabalhava com a guaçatonga, mas como marcador químico, analisando a concentração de substâncias de acordo com variações climáticas e de solo. "Propusemos então uma parceria. Ao testarmos um dos extratos, verificamos uma eficácia de 100% na inibição da úlcera dos ratos", relata Woisky. Os titulares da patente são USP, Unesp e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

De acordo com o professor Jayme Sertié, as folhas da Casearia sylvestris são usadas popularmente como cicatrizante. "Há alguns anos, os japoneses chegaram a patenteá-la por suas propriedades antitumorais", conta. Com a patente brasileira, os pesquisadores garantem o uso do extrato da planta para o tratamento de úlceras. O próximo passo são os testes toxicológicos pré-clínicos em animais e os ensaios clínicos em humanos. Isso pode levar de 3 a 5 anos dependendo dos recursos disponíveis.

 

Mais informações: (0XX11) 3091-7315, com o pesquisador Ricardo Woisky ou o professor Jaime Sertié


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