22/12/2006 - urbanismo
Cidade de Santos carece de revalorização e integração com seu porto
Com as mudanças tecnológicas nas formas de navegação e transportes, somadas ao processo de interiorização do desenvolvimento, Santos deixa de ser foco de investimentos públicos. Pesquisador estuda forma de reverter a situação


Vanessa Portes


Uma nova relação cidade-porto foi o ponto de partida para o professor e arquiteto Pedro Manuel Rivaben de Sales desenvolver um estudo que discute a revalorização da cidade de Santos no contexto do chamado "Complexo Macrometropolitano Paulista" - território onde se desdobram as funções econômicas, culturais, políticas, tecnológicas e acadêmicas anteriormente concentradas na Capital.

Tomando como base exemplos internacionais (positivos, como o de Roterdã, e negativos, como é o de Londres), a pesquisa de Sales resultou em sua tese de doutorado desenvolvida em parte na Universitat Politècnica de Catalunya, em Barcelona, na Espanha, e defendida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, sob orientação do professor Sylvio B. Sawaya.

Entre as propostas do arquiteto, está a disponibilização de terrenos da cidade, sobretudo na região dos Outeirinhos, uma área portuária e ferroviária que fica no lado leste. O local tem a maior disponibilidade de áreas passíveis de transformação, ideal para que se criem condições de se estabelecer esta nova relação cidade-porto. A medida possibilitaria o desenvolvimento de uma nova base produtiva, por meio da recuperação, atualizada e potencializada, da cultura portuária da cidade: logística, serviços de navegação, da cadeia transportes, entre outros. Assim, Sales recomenda em seu estudo uma revisão do sistema viário da cidade, melhorando a mobilidade e o intercâmbio, bem como realizar a abertura de áreas portuárias para a população (como forma de preservar o patrimônio urbano, histórico e arquitetônico) e definir novas centralidades como alternativa complementar aos centros já existentes.

"O porto de Santos não deve ser pensado isoladamente dos projetos de desenvolvimento da cidade", afirma Sales. Segundo ele, a lógica portuária continua hoje a se impor sobre a cidade, "basta ver o conceito, a lógica e o traçado da complementação da avenida portuária em licitação".

Auge com o café
Historicamente, o porto de Santos atingiu seu auge de importância econômica no Estado de São Paulo até a década de 1930, quando foi o principal porto das exportações de café. Nos anos de 1950, participa do processo de implantação e fortalecimento da industrialização pesada. A partir de 1970, com o deslocamento de grande parte das indústrias para o interior, induzido pelo governo central e, depois, com a emergência das questões ambientais, a cidade não é mais foco prioritário de investimentos públicos. Observa-se paulatinamente a decadência ou o deslocamento das funções antes atreladas ao movimento portuário corroer as bases da própria cultura e economia que o porto historicamente desenvolveu na cidade.

"O porto de Santos frente às novas condições tecnológicas (da navegação e do transporte feito via contêineres) e territoriais (interiorização do desenvolvimento) torna-se apenas uma porta através da qual os fluxos de produtos passam sem agregar valor", afirma o pesquisador.

Exemplo das funções portuárias são os serviços aduaneiros (de alfândega), despachantes (de documentação) e de contêineres (de logística de transporte). A cidade de Santos oferece todos esses serviços, mas eles muitas vezes são realizados em outras cidades pelas empresas exportadoras. Segundo Sales, Santos necessita fazer um rearranjo funcional, espacial e institucional desses serviços de forma a potencializá-los, torná-los efetivamente utilizados. Isso significaria um incremento da economia da cidade.

De acordo com o pesquisador, até hoje grande parte das soluções propostas para a cidade de Santos no sentido revalorizar suas estruturas se basearam apenas em estratégias urbanísticas internacionais muitas vezes muito superficiais. "Essas só consideram as questões do turismo, esporte e cultura como forma de integrar o porto à cidade", aponta Sales.

No entanto, o pesquisador admite não ser fácil retomar e revalorizar a relação da cidade com seu porto já que essa é sempre difícil face ao antagonismo das forças dos interesses em jogo - porto e cidade constituindo territórios separados e autônomos. O fato de o porto não pagar o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) demonstra essa contraposição de interesses.

 

Mais informações:(0XX11) 3129-9657, com Pedro Manuel Rivaben de Sales. Pesquisa orientada pelo professor Sylvio B. Sawaya


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