São Paulo, 
geofísica
24/02/2006
Anomalia Magnética do Atlântico Sul é causada por fluxo reverso no núcleo da Terra
Movimentos diferentes nas correntes de força no núcleo são uma das causas da formação de um campo magnético fora do comum no oceano Atlântico

Renata
Moraes

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"Há pontos em que o fluxo magnético se comporta fora dos padrões (fluxo reverso) na região de encontro entre o manto e o núcleo . Junta-se a isso o movimento de duas colunas de convecção (representativas, parte dos modelos teóricos de geração do campo), que rotacionam em torno do eixo de rotação terrestre, influenciando na geração do campo que se observa na superfície"
Um estudo do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP mostra que um fluxo reverso no núcleo da Terra é o responsável por um fenômeno magnético chamado Anomalia Magnética do Atlântico Sul (SAMA - South Atlantic Magnetic Anomaly). "O fluxo reverso acontece quando o campo magnético se comporta fora dos padrões", explica geofísico Gelvam Hartmann. Em sua pesquisa, ele detectou pontos, na região de encontro do manto e do núcleo terrestre, do fluxo reverso que se reflete na área da anomalia.

A SAMA, que acontece na região Sul do oceano Atlântico, passou a ser visível a partir da década de 1940, quando começaram a ser construídos mapas de campo magnético. "O fenômeno nada mais é do que uma área em que a intensidade magnética é cerca de metade da esperada para regiões desta latitude", descreve o pesquisador. Espera-se que as intensidades mais fortes estejam nos pólos e, as mais baixas, nas proximidades do Equador. Hartmann explica, no entanto, que a anomalia tem menor intensidade que a região equatorial.

De acordo com pesquisador, essas áreas de campo magnético de intensidade muito baixa comportam-se como janelas, falhas na teia magnética que protege a Terra do fluxo de partículas do Sol e do universo. "Por isso, nessas regiões os astronautas ficam mais expostos à radiação, e há maior chance de ocorrem interferências nas ondas de rádio e problemas na transmissão de energia elétrica", diz o pesquisador. "Quando ocorrem as explosões solares [momento em que a estrela ejeta o fluxo solar, composto de partículas como prótons, elétrons e nêutrons] a Anomalia absorve mais partículas que outras localidades".

Causas da SAMA
Segundo uma antiga concepção da Física, o campo magnético do planeta deveria funcionar como um dipolo perfeito - transmissão ideal de forças entre os dois pólos. "Porém , já se sabe que, devido a uma inclinação de 11,5 graus em relação ao eixo de rotação, os pólos são assimétricos", aponta o geofísico.

Para medir a intensidade do campo magnético vertical, na profundidade de 2.900 quilômetros, na interface manto-núcleo, Hartmann adaptou uma técnica de cálculo convencionalmente usada na superfície. Para isso, realizou apenas a continuação "para baixo" desses modelos de cálculo matemático. "Além dos pontos de fluxo reverso, foi possível perceber o movimento de duas colunas de convecção (representativas, que fazem parte dos modelos teóricos de geração do campo), que rotacionam em torno do eixo de rotação terrestre, influenciando na geração do campo que se observa na superfície".

Por que no Atlântico Sul?
"Essa pergunta ainda não tem resposta", adverte Hartmann. "O que se sabe é que essa 'mancha' formada nos mapas de campo magnético está em constante movimento." Por intermédio desses mapas, ele analisou a evolução da SAMA entre os anos de 1600 e 2005. Para os primeiros 300 anos utilizou-se de modelos construídos a partir de dados de navegadores. No período mais recente, foram utilizados modelos obtidos de dados de observatórios e satélites.

Atualmente, o Brasil está completamente dentro da área de abrangência da Anomalia, e o seu centro encontra-se no Paraguai. "Há 400 anos, ela se localizava no Sul do continente africano e apresentava intensidades maiores", conta. Para o geofísico, a deriva para Oeste e a diminuição de intensidade se relacionam principalmente às fontes não-dipolares do campo magnético da Terra. Estas fontes, que possuem baixa intensidade e comportamento fora dos padrões dipolo perfeito podem ter 4, 8 ou 16 pólos. "Essas alterações modificam o que vemos na superfície: a intensidade magnética, extensão e localização da SAMA".





Há 400 anos, a SAMA se localizava ao Sul da África...

Atualmente, seu centro está no Paraguai e possui intensidades magnéticas menores

"Deriva Para o Oeste" - deslocamento de seu centro entre 1900 e 2005
Imagens cedidas pelo pesquisador


· vínculos:
Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas

· mais informações:
(0XX11) 3091-4750, com Gelvam Hartmann; e-mail gelvam@iag.usp.br

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