"Há pontos em que o fluxo
magnético se comporta fora dos padrões (fluxo reverso)
na região de encontro entre o manto e o núcleo . Junta-se
a isso o movimento de duas colunas de convecção (representativas,
parte dos modelos teóricos de geração do campo),
que rotacionam em torno do eixo de rotação terrestre,
influenciando na geração do campo que se observa na
superfície" |
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Um
estudo do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas (IAG) da USP mostra que um fluxo reverso no núcleo
da Terra é o responsável por um fenômeno magnético
chamado Anomalia Magnética do Atlântico Sul (SAMA - South
Atlantic Magnetic Anomaly). "O fluxo reverso acontece quando
o campo magnético se comporta fora dos padrões",
explica geofísico Gelvam Hartmann. Em sua pesquisa, ele detectou
pontos, na região de encontro do manto e do núcleo terrestre,
do fluxo reverso que se reflete na área da anomalia.
A SAMA, que acontece na região Sul do oceano Atlântico,
passou a ser visível a partir da década de 1940, quando
começaram a ser construídos mapas de campo magnético.
"O fenômeno nada mais é do que uma área em
que a intensidade magnética é cerca de metade da esperada
para regiões desta latitude", descreve o pesquisador.
Espera-se que as intensidades mais fortes estejam nos pólos
e, as mais baixas, nas proximidades do Equador. Hartmann explica,
no entanto, que a anomalia tem menor intensidade que a região
equatorial.
De acordo com pesquisador, essas áreas de campo magnético
de intensidade muito baixa comportam-se como janelas, falhas na teia
magnética que protege a Terra do fluxo de partículas
do Sol e do universo. "Por isso, nessas regiões os astronautas
ficam mais expostos à radiação, e há maior
chance de ocorrem interferências nas ondas de rádio e
problemas na transmissão de energia elétrica",
diz o pesquisador. "Quando ocorrem as explosões solares
[momento em que a estrela ejeta o fluxo solar, composto de partículas
como prótons, elétrons e nêutrons] a Anomalia
absorve mais partículas que outras localidades".
Causas da SAMA
Segundo uma antiga concepção da Física, o campo
magnético do planeta deveria funcionar como um dipolo perfeito
- transmissão ideal de forças entre os dois pólos.
"Porém , já se sabe que, devido a uma inclinação
de 11,5 graus em relação ao eixo de rotação,
os pólos são assimétricos", aponta o geofísico.
Para medir a intensidade do campo magnético vertical, na profundidade
de 2.900 quilômetros, na interface manto-núcleo, Hartmann
adaptou uma técnica de cálculo convencionalmente usada
na superfície. Para isso, realizou apenas a continuação
"para baixo" desses modelos de cálculo matemático.
"Além dos pontos de fluxo reverso, foi possível
perceber o movimento de duas colunas de convecção (representativas,
que fazem parte dos modelos teóricos de geração
do campo), que rotacionam em torno do eixo de rotação
terrestre, influenciando na geração do campo que se
observa na superfície".
Por que no Atlântico Sul?
"Essa pergunta ainda não tem resposta", adverte Hartmann.
"O que se sabe é que essa 'mancha' formada nos mapas de
campo magnético está em constante movimento." Por
intermédio desses mapas, ele analisou a evolução
da SAMA entre os anos de 1600 e 2005. Para os primeiros 300 anos utilizou-se
de modelos construídos a partir de dados de navegadores. No
período mais recente, foram utilizados modelos obtidos de dados
de observatórios e satélites.
Atualmente, o Brasil está completamente dentro da área
de abrangência da Anomalia, e o seu centro encontra-se no Paraguai.
"Há 400 anos, ela se localizava no Sul do continente africano
e apresentava intensidades maiores", conta. Para o geofísico,
a deriva para Oeste e a diminuição de intensidade se
relacionam principalmente às fontes não-dipolares do
campo magnético da Terra. Estas fontes, que possuem baixa intensidade
e comportamento fora dos padrões dipolo perfeito podem ter
4, 8 ou 16 pólos. "Essas alterações modificam
o que vemos na superfície: a intensidade magnética,
extensão e localização da SAMA".
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