Atualmente, verifica-se um aumento da
participação da mulher dentro do esporte, mas a marca
de uma sociedade "sexista" ainda se mantém |
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O preconceito é a principal causa de estresse emocional entre
atletas de futebol feminino. É o que mostra uma pesquisa da
Instituto de Psicologia (IP) da USP. "Esta foi minha primeira
constatação. E é bom lembrar que o estresse emocional
é prejudicial à saúde", diz o professor
Jorge Dorfman Knijnik, autor do estudo.
O pesquisador conta que o esporte foi escolhido como tema por representar
uma marca cultural brasileira. "O objetivo é discutir
as relações sociais de gênero numa sociedade em
que existe uma comparação 'natural' da mulher com o
homem. E também provocar uma tomada de consciência que
leve à criação de espaços esportivos não
sexistas". Em seu doutorado, Dorfman, que é professor
da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE)
da USP, teve a orientação do professor Esdras G. Vasconcellos.
O pesquisador entrevistou 33 atletas que disputaram o Campeonato Paulista
Feminino de Futebol de 2004. Algumas dessas jogadoras compunham a
Seleção Brasileira de Futebol Feminino que ganhou medalha
de prata nas Olimpíadas de Atenas, em 2004. Foi uma conquista
histórica para o esporte, numa competição para
a qual a equipe masculina nem chegou a se classificar. "Mesmo
depois da vitória, a equipe feminina não recebeu nenhum
tipo de incentivo", lembra Dorfman.
Resultados
A pesquisa revelou que 57,14% das jogadoras entre 16 e 21 anos apontaram
o preconceito como principal causa de estresse no futebol. Dentre
as jogadoras entre 22 e 27 anos, essa mesma causa foi apontada por
50% delas.
O estudo também relaciona a questão aos Direitos Humanos.
"Em segundo lugar, detectei que o preconceito gera discriminação
social. E é aí que é possível fazer uma
relação com os Direitos Humanos", explica. Segundo
Dorfman, saúde e esporte são direitos garantidos a todos,
e eles são violados quando o preconceito gera estresse ou quando
a participação da mulher no futebol é limitada.
Atualmente, verifica-se um aumento da participação da
mulher dentro do esporte, mas a marca de uma sociedade "sexista"
ainda se mantém. "Existe dentro do esporte uma 'polícia'
do gênero. Ocorre uma forte normatização do comportamento
das mulheres, que se verifica, por exemplo, no preconceito com aquelas
que aparentam serem homossexuais". O pesquisador coloca ainda
a questão do apelo sexual dentro desse controle.
Outro lado
Contudo, Dorfman ressalta que apesar do preconceito, as meninas se
afirmam enquanto jogadoras. "A vontade de jogar e o amor pelo
esporte são mais fortes que qualquer tipo de pressão
ou discriminação", afirma. Questionadas se indicariam
o futebol para uma menina que quisesse praticar um esporte, 61% das
jogadoras entre 16 e 21 anos responderam positivamente. O resultado
foi um pouco diferente entre a faixa dos 22 e 27 anos: apenas 38,46%
indicariam. "Essa diferença nos leva a uma análise
otimista. A questão da presença da mulher no futebol
está sofrendo avanços."
Diante da pergunta sobre como elas acham que os outros as enxergam
enquanto jogadoras de futebol, 42,31% das atletas na faixa dos 16
e 21 anos disseram ter apoio da família - a visão predominante.
Por outro lado, entre as atletas dos 22 aos 27 anos, 46,67% indicaram
o preconceito como visão principal sobre elas. As esportistas
mais jovens mostram uma melhor perspectiva em relação
à participação feminina no futebol.
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