São Paulo, 
psicologia
10/04/2006
Casos de maus tratos a crianças estão ligados a um problema social mais amplo
Segundo pesquisa realizada na USP de Ribeirão Preto, a questão reflete uma situação de pobreza e precariedade, que inclui a falta de recursos, a dependência de ações assistencialistas e a ineficiência dos serviços oferecidos pelo Estado brasileiro
Da redação,
Agência USP

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"Essas famílias mantêm um vínculo de dependência com práticas assistencialistas e não possuem recursos próprios e permanentes"
Pais e mães denunciados por maus tratos a seus filhos também precisam de proteção e ajuda. O alerta é feito pela psicóloga Léia Comar Riva, autora de uma dissertação de mestrado sobre as dificuldades enfrentadas por essas famílias. Segundo ela, o problema é que os serviços oferecidos pela Estado ainda são insuficientes para alterar a situação de pobreza e precariedade em que vivem essas pessoas.

Léia estudou os casos de famílias de baixa renda cujos pais foram denunciados no Juízo da Vara da Infância e da Juventude da cidade de Votuporanga (SP) nos anos de 1999, 2002 e 2003. A coleta dos dados foi feita por meio de entrevistas e observação. O estudo foi realizado na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), da USP.

Negligência
Além de agressões físicas, os casos de maus tratos incluem atitudes de negligência. Ela ocorre quando os pais, por exemplo, não dão educação e nem atenção adequada para o bom desenvolvimento de seus filhos. Em seu estudo, Léia analisou como a negligência se manifesta e quais os recursos disponíveis na comunidade para auxiliar as famílias.

Segundo a psicóloga, a negligência nem sempre é intencional. "A falta de cuidados com os filhos não pode ser entendida apenas no contexto interno das famílias, como simples incompetência ou descaso." Afinal, elas sofrem com o impacto de fatores sociais que criam dificuldades para os pais proporcionarem um bom cuidado a seus filhos. "Essas famílias mantêm um vínculo de dependência com práticas assistencialistas e não possuem recursos próprios e permanentes."

De um lado, afirma Léia, essas famílias necessitam de uma maior atenção para solucionarem seus problemas. De outro, o Estado precisa de mais informações sobre as condições sociais e emocionais dos pais. "Sem a intervenção de entidades públicas e privadas, com programas que visem esclarecer e prestar assistência adequada, os pais não conseguirão superar sozinhos os problemas pelos quais foram denunciados. Com isso, correm o risco de serem vistos como incompetentes e ameaçados com a perda da guarda das crianças."

Um problema visível
A psicóloga lembra que a negligência é hoje um problema preocupante e socialmente visível. A implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) elevou o número de denúncias.

Para Maria Cecília Rodrigues de Oliveira, coordenadora do Projeto Atitude (Ribeirão Preto), que apóia e acompanha adolescentes e jovens em processo de grande vulnerabilidade, o mestrado de Léia mostra que simplesmente atribuir culpa aos pais não é a saída para esse problema.

"A mudança mais importante está na percepção de que somos todos agentes e vítimas de processos violentos que se arrastam historicamente e que devem ser enfrentados em todos os níveis governamentais e não-governamentais", defende Maria Cecília.

Fonte: Serviço de Comunicação Social da Prefeitura do campus de Ribeirão Preto da USP (PCARP)





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