"Embora nas fases iniciais da pesquisa os compostos
possam ser obtidos das próprias esponjas, retiradas do mar ou cultivadas,
estas substâncias devem ser sintetizadas em laboratório para testes
clínicos antes de serem lançadas no mercado." |
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Quatro
tipos de geodiamolídeos, substâncias extraídas da esponja
marinha Geodia corticostylifera, detêm a proliferação
de células tumorais de mama. A conclusão é de uma pesquisa
realizada pela bióloga Marisa Rangel, no Instituto de Ciências Biomédicas
(ICB) da USP, sobre a atividade biológica da espécie encontrada
na costa brasileira. "Os geodiamolídeos são peptídeos
cíclicos, têm baixo peso molecular e capacidade para entrar nas células",
explica Marisa, que é pesquisadora do Instituto Butantan. "Eles desorganizam
os filamentos de actina do citoesqueleto das células tumorais, causando
a morte das células, ou mesmo impedindo-as de se dividir."
No início da pesquisa, durante o doutoramento de Marisa no Instituto de
Biociências (IB) da USP, o extrato metanólico da esponja foi testado
em ovos de ouriço-do-mar. "Como o extrato inibiu o crescimento dos
ovos, acreditamos que a Geodia corticostylifera possuía compostos
bioativos", conta a pesquisadora. Em seguida, o extrato foi fracionado por
meio de técnicas de cromatografia, e testado em cultivos de células
tumorais. "As frações que mais inibiram a proliferação
celular passaram por análise de espectrometria de massas, para determinar
quais estruturas eram responsáveis pelo efeito". Ao todo, foram identificados
quatro tipos de geodiamolídeos, A, B, H e I. "Sem prejudicar as células
normais, estas moléculas tiveram efeito mesmo em pequenas concentrações."Os
resultados do estudo são descritos em artigo aceito para publicação
no periódico Peptides. Testes A esponja Geodia corticostylifera
é encontrada em toda a costa brasileira. A professora do ICB, Gláucia
Maria Machado-Santelli, que orientou a pesquisa, ressalta que as esponjas possuem
um índice de compostos com potencial bioativo maior do que as plantas.
"Possivelmente, devido ao fato de não se movimentarem, elas produzem
substâncias químicas para se defender dos predadores", afirma.
"Os compostos também podem ser gerados por microorganismos que vivem
em simbiose com as esponjas." Marisa aponta que alguns macrolídeos
extraídos de esponjas já são submetidos a testes clínicos
para o tratamento de câncer, em especial a Halicondrina B e as Latrunculinas
A e B. "Embora nas fases iniciais da pesquisa os compostos possam ser obtidos
das próprias esponjas, retiradas do mar ou cultivadas, estas substâncias
devem ser sintetizadas em laboratório para testes clínicos antes
de serem lançadas no mercado." A pesquisa com a Geodia
corticostylifera foi realizada no Laboratório de Biologia Celular e
Molecular, do Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento do ICB. Os
testes químicos com os geodiamolídeos foram feitos no Laboratório
Especial de Toxinologia Aplicada do Instituto Butantan (Cepid-Fapesp), com a colaboração
de Katsuhiro Konno. A identificação específica da esponja
foi feita pelo Eduardo Hajdu , do Museu Nacional (Rio de Janeiro).
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