"Não seria possível para a polícia
fazer a segurança pessoal de todos esses estabelecimentos. Além
disso, seria usar o dinheiro público para fins privados" |
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O
número de agentes de segurança privada supera o de policiais civis
e militares no Brasil. Segundo o sociólogo André Zanetic, o grande
salto no número dessas empresas ocorreu nas décadas de 1980 e 1990.
De acordo com dados da Polícia Federal de 2004, o número de agentes
da segurança privada é de 1,148 milhão, "mas deve chegar
a 2 milhões se forem contados os trabalhadores sem registro legal, embora
não existam dados sobre isso", ressalta.
Esse crescimento, segundo o pesquisador, não se deve apenas
ao aumento da criminalidade. Um de seus motivos foi a percepção,
por parte das empresas, de que a insegurança poderia ser uma
boa oportunidade para vender serviços. "Em todo o mundo,
os serviços de segurança estão presentes e em
grande número, mesmo em países onde a criminalidade
não subiu", garante Zanetic. "A segurança
privada teria crescido mesmo sem um aumento da criminalidade",
afirma. O sociólogo defendeu recentemente uma pesquisa de mestrado
sobre o tema, ainda pouco estudado no País, na Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
Ilegalidade As empresas ilegais, que surgem com o encarecimento
da segurança privada, não pagam impostos. Muitas obtêm armas
por contrabando e contratam policiais para trabalhar em seus horários de
folga. O problema, segundo o pesquisador, é justamente a insuficiente fiscalização
dessas empresas, e não o modelo de regulamentação (regras
que estabelecem seu funcionamento), parecido com o de diversos países europeus.
Além da infração da lei, pode haver vários riscos
para os funcionários dessas empresas. "Policiais que fazem esses bicos
morrem mais em serviço porque sofrem mais de estresse, de cansaço.
Seu tempo livre deveria ser para o descanso, não para outro emprego",
diz o sociólogo. Por isso, ele defende que o debate sobre uma fundação
da Polícia, proposta há algum tempo e baseada numa experiência
norte-americana, volte a ser discutida. Nessa fundação os policiais
que quisessem fazer serviços privados poderiam trabalhar algumas horas,
regulamentadas. Parte do dinheiro iria para a própria fundação
e a outra para incrementar o salário dos
policiais. As empresas de segurança, no entanto,
são contra a medida, por temerem perder espaço no mercado.
Formação O estudo também analisou o treinamento
oferecido aos seguranças particulares. Segundo Zanetic, ele tem melhorado,
assim como a renda e a escolaridade desses profissionais, mas ainda está
muito abaixo do ideal. A vulnerabilidade desses trabalhadores pode ser maior que
a dos policiais em algumas ocasiões, já que muitos trabalham sozinhos.
"Mas a variação é muito grande, tudo depende do contexto.
Alguns chegam a fazer ronda numa região (apesar de não ser permitido
por lei), o que aumenta o risco do trabalho." Segundo uma pesquisa
da Fundação Instituto de Administração (FIA), da Faculdade
de Economia, Administração e Contabilidade da USP, a adesão
aos recursos de segurança está presente em todas as classes sociais.
O estudo mostra que a maior parte dos investimentos, 48%, são gastos em
janelas e grades altas, 13% em vigias e 9% em esquemas de fiscalização.
"Claro que isso aumenta em proporção à renda,
mas é algo que está presente em todas as camadas sociais. Recursos
como a instalação de redes de televisão, não chegam
a 1%", ressalta o pesquisador.
Outro dado levantado é que
cerca de 81% da segurança privada está nos bancos, órgãos
públicos, indústrias e comércio, diferentemente da imagem
que se faz desses serviços, de que estariam concentrados em condomínios
ou na proteção individual. "Não seria possível
para a polícia fazer a segurança pessoal de todos esses estabelecimentos.
Além disso, seria usar o dinheiro público para fins privados",
lembra Zanetic. No estudo foram analisados dados de pesquisas e levantamentos
da Polícia Federal, da Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio
do IBGE, da FIA e da Relação Anual de Informações
Sociais (RAIS).
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