São Paulo, 
piscicultura
31/05/2006
Descobertas sobre reprodução viabilizam criação de peixes de água doce em cativeiro
Pesquisas do ICB sobre órgãos reprodutivos contribuem para criar técnicas de aplicação de hormônios que tornam desovas mais produtivas nas espécies de água doce mantidas em confinamento
Júlio
Bernardes

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"Cada espécie tem particularidades que impedem o uso de um único tipo de hormônio, por isso é preciso conhecer seu sistema reprodutor e sua biologia reprodutiva"
Para tornar viável a criação de peixes migratórios de água doce em cativeiro, pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP desenvolveram técnicas de aplicação de hormônios a partir de estudos dos órgãos e das substâncias químicas envolvidas no ciclo de reprodução. As técnicas podem ser usadas em espécies com valor comercial, como o pacu, a cachara (bagre da família do pintado) e o pirarucu da Amazônia.

A professora Maria Inês Borella, coordenadora dos estudos, explica que os peixes migratórios maturam as gônadas (órgãos que produzem os gametas, células que formam os embriões) ao longo do ano, fazendo migrações para realizar a desova. Ela ressalta que a liberação dos gametas pelas gônadas desses peixes quando em cativeiro precisa ser induzida com a injeção de hormônios. "Cada espécie tem particularidades que impedem o uso de um único tipo de hormônio, por isso é preciso conhecer seu sistema reprodutor e sua biologia reprodutiva."

Na pesquisa com o pacu (Piaractus mesopotamicus) foi descoberta a molécula responsável pela produção do Hormônio Liberador de Gonadotrofina (GnRH), que controla a reprodução. "Normalmente é usado um hormônio sintético análogo ao do salmão, que provoca a desova em várias espécies, mas que não produzia os efeitos desejados no pacu", conta Maria Inês. "Conhecida a molécula, é possível sintetizar o hormônio e produzi-lo para uso em criadouros."

Na cachara (Pseudoplatystoma fasciatum), foi estudado o epitélio germinativo que compõe o testículo dos machos, para elaborar uma classificação das fases do ciclo reprodutivo. "Dessa forma, foi possível determinar em que período os espermatozóides estão viáveis, permitindo a injeção dos hormônios que levem à sua liberação." As pesquisas com a espécie, realizadas por Sérgio Ricardo Batlouni, doutorando do ICB, tiveram a colaboração da pesquisadora Elizabeth Romagosa, do Instituto de Pesca do Estado de São Paulo.

Pirarucu
O sistema reprodutor do pirarucu (Arapaima gigas) foi estudado em peixes capturados em antigas áreas alagadas usadas para cultivo de arroz, conhecidas como quadras, em Almeirim (PA). "Ao contrário de outras espécies de água doce, o pirarucu não é migratório, e a reprodução depende principalmente das condições do meio ambiente", explica a pesquisadora. "Como não há diferenciação visual entre machos e fêmeas, o sexo dos peixes foi diferenciado por meio de endoscopia."

Além do acompanhamento da reprodução natural dos peixes nas quadras, alguns casais foram colocados em viveiros escavados na terra e foram feitos experimentos tanto com manejo da reprodução natural quanto com injeção de hormônios para realizar a desova. "Com estes estudos, foi possível obter duas desovas em um único ciclo reprodutivo", conta a professora. "O número de alevinos (peixes jovens) obtidos foi maior e a sobrevivência em cativeiro foi mais elevada do que numa desova em ambiente não controlado."

De acordo com Maria Inês, "a criação efetiva do pirarucu em cativeiro ainda dependerá de estudos mais detalhados sobre a anatomia e o desenvolvimento gonadal, para melhor entender os mecanismos fisiológicos da reprodução". A pesquisa foi realizada pela pós-doutoranda Rossana Venturieri, em parceria com um projeto privado e o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).





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