"Os resultados mostram que as escolas
de ensino médio estão deixando a desejar nessas relações
que envolvem a solidariedade. Além disso, é possível
ver a emergência de novos valores, transformação
das famílias, o exercício da cidadania sendo apagado" |
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Ao serem incentivados a pensar sobre o futuro, 396 adolescentes que
participaram de uma pesquisa no Instituto de Psicologia da USP mostraram
baixos índices de projeção solidária,
ou seja, manifestações de solidariedade e de inserção
social. "Índices maiores são fundamentais para
que a sociedade futura tenha adultos conscientes, com autonomia moral
e atuantes", afirma a pedagoga e psicóloga Denise D'Aurea
Tardeli, autora do trabalho de doutorado. "Os resultados também
indicaram que as escolas de ensino médio estão deixando
a desejar nessa formação".
O objetivo da tese, defendida em abril e feita sob orientação
do professor Yves de La Taille, era avaliar a formação
da personalidade moral de adolescentes, principalmente no que se refere
à solidariedade, "escolhida entre outras virtudes por
ter origem pública, política e interativa, que implica
retorno", conta Denise. A pesquisadora queria saber se os adolescentes
tinham consciência de que a solidariedade é necessária
e deve estar presente nos projetos de vida, ao ajudar pessoas sem
esperar nada em troca e participar de projetos sociais, por exemplo,
tornando-se um cidadão consciente.
Os jovens, de ambos os sexos, tinham idades entre 16 e 18 anos e eram
alunos de duas escolas particulares de grande porte, voltadas para
a classe média, das cidades de São Paulo e Santos. Todos
cursavam o 3º ano do ensino médio, considerado pela pesquisadora
o "momento da virada", favorável para avaliação
do desenvolvimento dos componentes da moralidade.
O teste aplicado, PROM (Prosocial, Reasoning Objective Measure), envolvia
três histórias hipotéticas com manifestação
de ajuda ao outro e um relato escrito pelos próprios adolescentes,
sobre como eles se viam daqui a dez anos, comparando o hoje com o
amanhã.
Imaturidade Egoísta
A análise dos relatos indicou índices de projeção
solidária menores do que os esperados pelos parâmetros
do teste aplicado. "Nesta fase os adolescentes já deveriam
ter construído valores morais mais fortes, o que mostra uma
imaturidade egoísta", explica Denise. "Eles apresentam
a necessidade de interagir com outras pessoas, mas somente com aquelas
que já conhecem, como família, amigos e namorados"
.
Todos os adolescentes apresentaram interesse em ter um trabalho, alguns
com intenção materialista. Na direção
contrária, poucos mostraram querer fazer algo para tornar o
mundo melhor, com um ímpeto muito pequeno para a transformação
social. As meninas apresentaram características de pró-solidariedade
ligeiramente maiores que os meninos. "Os adolescentes estão
muito centrados neles mesmos, um reflexo do medo e da própria
sociedade", conta a pesquisadora. Ela relata que uma maior manifestação
de solidariedade somente foi mostrada na situação de
humilhação de um colega na escola. "Além
disso, é possível ver a emergência de novos valores,
a transformação das famílias, o exercício
da cidadania sendo apagado".
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