"Com a cirurgia, a expectativa
de vida para os operados é, em 60% dos casos, de 2 anos, e,
em 40%, 3 ou 5 anos", revela o cirurgião. Gaiotto afirma
que não existem restrições para o tratamento
e que o risco de morte até o 1º mês do pós-operatório
é de 10%. A técnica já vem sendo utilizada por
hospitais em diversos pontos do País |
|
|
|
|
Quem
sofre de insuficiência cardíaca e precisa de um novo
coração pode ganhar mais alguns anos de vida para enfrentar
a longa fila de espera por transplantes. Pesquisadores da Faculdade
de Medicina da USP desenvolveram uma nova técnica cirúrgica
para aumentar a expectativa de vida de pessoas que têm o coração
enfraquecido por conta da miocardiopatia dilatada.
A doença faz inchar uma parte do coração e, em
estágio avançado, compromete as funções
da valva mitral, que fica no lado esquerdo do órgão
e orienta o sangue até a aorta (artéria que leva o sangue
do coração para o corpo). No novo método, uma
prótese substitui a valva doente e o remodelamento na geometria
do coração retoma seu formato original. Com a cirurgia,
o paciente pode ter sua expectativa de vida aumentada em até
5 anos.
O cirurgião cardiovascular Fábio Antonio Gaiotto participou
do desenvolvimento da técnica, idealizada pelo professor Luiz
Boro Puig. Em seu doutorado, ele analisou 20 pacientes, com idade
entre 27 e 72 anos, na sua maioria homens, portadores de miocardiopatia
dilatada em estágio avançado. "O ventrículo
esquerdo (parte inferior esquerda do coração), cujo
formato original é de cone, fica arredondado por conta do inchaço",
explica o pesquisador. "E aparece também a insuficiência
mitral, pois a dilatação atinge os músculos papilares,
que regulam o funcionamento da valva."
O anel da valva mitral aumenta de tamanho e passa a não funcionar
corretamente. Uma parte do sangue acaba voltando para os pulmões
em vez de seguir pela aorta. "Essa disfunção é
a causadora dos principais sintomas da doença: falta de ar,
cansaço e comprometimento das atividades do dia-a-dia",
afirma.
Prótese e remodelamento
No novo procedimento cirúrgico, a valva mitral doente é
substituída por uma prótese rígida e resistente
feita com o pericárdio do boi, uma membrana cardíaca
espessa. Também é feito o remodelamento da geometria
do coração: quatro conjuntos de cordas relacionados
aos músculos papilares são tracionados e fixados na
prótese. "Elas são esticadas até o ponto
máximo para promover o retorno do formato original do coração",
explica o cirurgião. Esses procedimentos também impedem
a evolução do inchaço e melhoram o funcionamento
do órgão, amenizando a insuficiência cardíaca.
Nos cinco anos em que acompanhou os pacientes, Gaiotto constatou que
a melhora dos doentes e o remodelamento do coração aconteceram
em, no máximo, 3 meses, sem haver retorno do inchaço.
"Com a cirurgia, a expectativa de vida para os operados é,
em 60% dos casos, de 2 anos, e, em 40%, 3 ou 5 anos", revela
o cirurgião. Gaiotto afirma que não existem restrições
para o tratamento e que o risco de morte até o 1º mês
do pós-operatório é de 10%. A técnica
já vem sendo utilizada por hospitais em diversos pontos do
País.
A insuficiência cardíaca é uma síndrome
clínica freqüente e grave, que mata 10% de seus portadores
ao ano. Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil existem
mais de dois milhões de portadores de insuficiência cardíaca
e registram-se 250 mil novos casos por ano.
Segundo Gaiotto, não se conhecem as causas dessa doença,
que pode atingir homens e mulheres de todas as idades. Nem sua cura.
"O tratamento costuma ser feito com drogas que controlam seu
avanço, porém a expectativa é de que, mesmo com
os medicamentos, o paciente morra em um ou dois anos caso o coração
doente não seja trocado." O cirurgião lembra que
existem também outros tratamentos cirúrgicos alternativos
que buscam melhorar a qualidade de vida e aumentar o tempo de sobrevida
dos doentes. "Entretanto, em outros estudos, os pacientes eram
de menor gravidade."
|
|
|