São Paulo, 
medicina
31/07/2006
Portadores de miocardiopatia dilatada podem ter a expectativa de vida aumentada em 5 anos
Pesquisadores da Faculdade de Medicina desenvolveram uma técnica para normalizar o formato do coração. Problemas como falta de ar e cansaço extremo, característicos do estágio avançado da doença, são amenizados com o novo procedimento cirúrgico
Aline
Moraes

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"Com a cirurgia, a expectativa de vida para os operados é, em 60% dos casos, de 2 anos, e, em 40%, 3 ou 5 anos", revela o cirurgião. Gaiotto afirma que não existem restrições para o tratamento e que o risco de morte até o 1º mês do pós-operatório é de 10%. A técnica já vem sendo utilizada por hospitais em diversos pontos do País
Quem sofre de insuficiência cardíaca e precisa de um novo coração pode ganhar mais alguns anos de vida para enfrentar a longa fila de espera por transplantes. Pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP desenvolveram uma nova técnica cirúrgica para aumentar a expectativa de vida de pessoas que têm o coração enfraquecido por conta da miocardiopatia dilatada.

A doença faz inchar uma parte do coração e, em estágio avançado, compromete as funções da valva mitral, que fica no lado esquerdo do órgão e orienta o sangue até a aorta (artéria que leva o sangue do coração para o corpo). No novo método, uma prótese substitui a valva doente e o remodelamento na geometria do coração retoma seu formato original. Com a cirurgia, o paciente pode ter sua expectativa de vida aumentada em até 5 anos.

O cirurgião cardiovascular Fábio Antonio Gaiotto participou do desenvolvimento da técnica, idealizada pelo professor Luiz Boro Puig. Em seu doutorado, ele analisou 20 pacientes, com idade entre 27 e 72 anos, na sua maioria homens, portadores de miocardiopatia dilatada em estágio avançado. "O ventrículo esquerdo (parte inferior esquerda do coração), cujo formato original é de cone, fica arredondado por conta do inchaço", explica o pesquisador. "E aparece também a insuficiência mitral, pois a dilatação atinge os músculos papilares, que regulam o funcionamento da valva."

O anel da valva mitral aumenta de tamanho e passa a não funcionar corretamente. Uma parte do sangue acaba voltando para os pulmões em vez de seguir pela aorta. "Essa disfunção é a causadora dos principais sintomas da doença: falta de ar, cansaço e comprometimento das atividades do dia-a-dia", afirma.

Prótese e remodelamento
No novo procedimento cirúrgico, a valva mitral doente é substituída por uma prótese rígida e resistente feita com o pericárdio do boi, uma membrana cardíaca espessa. Também é feito o remodelamento da geometria do coração: quatro conjuntos de cordas relacionados aos músculos papilares são tracionados e fixados na prótese. "Elas são esticadas até o ponto máximo para promover o retorno do formato original do coração", explica o cirurgião. Esses procedimentos também impedem a evolução do inchaço e melhoram o funcionamento do órgão, amenizando a insuficiência cardíaca.

Nos cinco anos em que acompanhou os pacientes, Gaiotto constatou que a melhora dos doentes e o remodelamento do coração aconteceram em, no máximo, 3 meses, sem haver retorno do inchaço. "Com a cirurgia, a expectativa de vida para os operados é, em 60% dos casos, de 2 anos, e, em 40%, 3 ou 5 anos", revela o cirurgião. Gaiotto afirma que não existem restrições para o tratamento e que o risco de morte até o 1º mês do pós-operatório é de 10%. A técnica já vem sendo utilizada por hospitais em diversos pontos do País.

A insuficiência cardíaca é uma síndrome clínica freqüente e grave, que mata 10% de seus portadores ao ano. Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil existem mais de dois milhões de portadores de insuficiência cardíaca e registram-se 250 mil novos casos por ano.

Segundo Gaiotto, não se conhecem as causas dessa doença, que pode atingir homens e mulheres de todas as idades. Nem sua cura. "O tratamento costuma ser feito com drogas que controlam seu avanço, porém a expectativa é de que, mesmo com os medicamentos, o paciente morra em um ou dois anos caso o coração doente não seja trocado." O cirurgião lembra que existem também outros tratamentos cirúrgicos alternativos que buscam melhorar a qualidade de vida e aumentar o tempo de sobrevida dos doentes. "Entretanto, em outros estudos, os pacientes eram de menor gravidade."





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(0XX11) 3064-4011, com Dr. Fábio Antônio Gaiotto; e-mail fgaiotto@ajato.com.br

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