"O crescimento dos atos infracionais
praticados em São Paulo é semelhante ao relatado na
década passada em países com bons indicadores sociais,
conforme pesquisas feitas nos Estados Unidos, Canadá e Europa."
|
|
|
|
|
O índice de crimes cometidos por adolescentes de 12
a 18 anos no estado de São Paulo aumentou de 6,1 por 100 mil
habitantes em 1950 para 112,5 em 2002. No mesmo período, a
média de roubos subiu de 0,2 para 53,8. A evolução
do número de delitos e características sociais dos infratores,
como escolaridade e trabalho, foram pesquisados pelo advogado George
Wilton Toledo, a partir da análise de 2.432 prontuários
de adolescentes internados na Fundação Estadual do Bem-Estar
do Menor (Febem).
"Os crimes contra o patrimônio, como roubos e furtos, sempre
predominaram, respondendo por 79,8% dos delitos em 1950, enquanto
em 2002 eram 71,4%", aponta. "Entretanto, a porcentagem
de roubos que envolvem violência - 3,6%
do total de delitos em 1950 - chegou a 54,1% em 1995 e registrava
47,8% em 2002". Toledo estudou o tema em dissertação
de mestrado apresentada na Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.
De acordo com o pesquisador, "o número de delitos contra
a pessoa (homicídios, latrocínios e outros) e os costumes
(estupros, por exemplo), ficou estável, respctivamente 8% e
1,5% em 2002, mas os outros tipos de crime (roubo e contra a saúde
pública) cresceram exponencialmente, muito mais que o total
da população paulista."
Delitos contra a saúde pública, como tráfico
e consumo de drogas, não encontrados em 1950 e 1960, aumentaram
de 0,6 por 100 mil habitantes em 1979, para 13,5 em 2000, diminuindo
para 9,2 em 2002. "O índice de adolescentes internados
por tráfico de entorpecentes subiu de 2,6% em 1985 para 8,3%
em 1995, mantendo-se nos 6,9% em 2002", destaca Toledo.
Escolaridade
A pesquisa aponta que houve aumento da escolaridade dos jovens infratores.
"O número de analfabetos, que chegou a 17,59% em 1960,
caiu para 1,55% em 2002", relata o advogado, "enquanto a
quantidade de jovens que freqüentaram da 5ª a 8ª séries
do ensino fundamental subiu de 1,24% em 1950 para 67,49% em 2002."
O pesquisador ressalta também que a maior parte dos adolescentes
não estudava no momento que cometeu os crimes.
O número de infratores ativos no mercado de trabalho aumentou
ao longo dos anos. "De 10,97% em 1950 e 4,34% em 1985, este índice
chegou a 35,5% em 1995, subiu para 38,59% em 2000 e desceu a 30,17%
em 2002", destaca o advogado.
Toledo aponta que o crescimento do número de crimes pode ser
explicado pelo grande êxodo rural registrado no Brasil desde
os anos 50. "Segundo alguns sociólogos, o crescimento
da população nas cidades não foi seguido pela
ampliação da infra-estrutura social, o que contribuiria
para aumentar a criminalidade", diz. "Em São Paulo,
a população urbana, que era 1,6 vezes maior que a rural
em 1960, tornou-se 14,2 vezes maior em 2000."
Outra hipótese defendida por especialistas é a de que
a intensificação do tráfico de drogas a partir
dos anos 70, levou ao crescimento de outros tipos de crimes. "Isto
poderia ser verificado pelo aumento das apreensões por tráfico
de entorpecente em São Paulo, que era de 9,95 por 100 mil habitantes
em 1995, chegando a 21,3 no ano seguinte
e atingindo 32,0 em 2002".
Segundo o advogado, o estudo "resumiu-se às estatísticas
pesquisadas na Febem, que não abrangem a criminalidade real",
limitando-se aos delitos de jovens processados pela Justiça
da Infância e da Juventude. "Porém, o crescimento
dos atos infracionais praticados em São Paulo é semelhante
ao relatado na década passada em países com bons indicadores
sociais, conforme pesquisas feitas nos Estados Unidos, Canadá
e Europa."
|
|
|