"Ao testarmos um dos extratos,
verificamos uma eficácia de 100% na inibição
da úlcera dos ratos" |
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O
extrato bruto das folhas da guaçatonga (Casearia sylvestris),
uma árvore de médio porte comum na América do
Sul, apresentou um grande potencial para o tratamento de úlceras
gástricas de ratos. Testes realizados no Instituto de Ciências
Biomédicas (ICB) da USP mostrararam que, além de não
alterar o pH do suco gástrico e não causar a contração
da musculatura uterina, a substância agiu em todos os níveis
de gravidade das ulcerações e reduziu a zero o nível
de tais lesões.
Segundo o professor Jayme Antônio
Aboin Sertié, do Laboratório de Farmacologia e Toxicologia
do Departamento de Farmacologia do ICB, a maioria dos medicamentos
utilizados para tratar úlcera provoca a alteração
do pH do suco gástrico, o que pode facilitar a entrada de bactérias
oportunistas, como a Helicobacter pylori (H.pylori), além
de também ativar a pepsina, enzima responsável por digerir
proteínas.
Outra vantagem da planta é a ação em todas as
fases da doença, ou seja, ela age em úlceras leves,
moderadas e graves. A guaçatonga também apresenta intensa
atividade citoprotetora, que é um sistema autoprotetor que
impede a autodigestão do estômago. "Alguns antiulcerosos
citoprotetores agem apenas nas úlceras médias e profundas",
afirma o professor. Essas drogas, segundo Sertié, provocam
contração da musculatura uterina, como ocorre com o
cytotec, medicamento proibido por ser usado como abortivo. "Este
é mais um aspecto positivo apresentado pelo extrato da Casearia
sylvestris: não provocou contrações da musculatura
uterina nos animais testados", esclarece.
Extrato ideal
Segundo o pesquisador do ICB, Ricardo Woisky, foram necessários
vários testes até se chegar ao extrato mais adequado.
"Dependendo do solvente (se é álcool ou acetona)
e da proporção usada, pode-se alterar a quantidade de
princípios ativos extraída", explica. E esse extrato
ideal veio por intermédio do professor Alberto José
Cavalheiro, e dos pesquisadores Vanderlan da Silva Bolzani, André
Gonzaga dos Santos e Aristeu Gomes Tininis, do Instituto de Química
da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Araraquara.
O grupo de Cavalheiro já trabalhava com a guaçatonga,
mas como marcador químico, analisando a concentração
de substâncias de acordo com variações climáticas
e de solo. "Propusemos então uma parceria. Ao testarmos
um dos extratos, verificamos uma eficácia de 100% na inibição
da úlcera dos ratos", relata Woisky. Os titulares da patente
são USP, Unesp e a Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
De acordo com o professor Jayme Sertié, as folhas da Casearia
sylvestris são usadas popularmente como cicatrizante. "Há
alguns anos, os japoneses chegaram a patenteá-la por suas propriedades
antitumorais", conta. Com a patente brasileira, os pesquisadores
garantem o uso do extrato da planta para o tratamento de úlceras.
O próximo passo são os testes toxicológicos pré-clínicos
em animais e os ensaios clínicos em humanos. Isso pode levar
de 3 a 5 anos dependendo dos recursos disponíveis.
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