"Na pós-menopausa os vasos
estão mais velhos, a elasticidade é menor e há
diminuição do afluxo sangüíneo. O viagra
atua como um vasodilatador, compensando esses problemas" |
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O citrato de sildenafila (princípio ativo de medicamentos como
o viagra) pode ajudar mulheres na pós-menopausa a melhorar
sua vida sexual. Uma pesquisa da Faculdade de Medicina da USP mostrou
que aquelas que tomaram viagra por 15 dias tiveram um aumento da circulação
sanguínea na região clitoridiana, o que facilita o prazer
sexual feminino. As pacientes também relataram uma maior intensidade
de orgasmos e maior sensibilidade do clitóris. A autora da
tese de doutorado, a médica Ana Lúcia Cavalcanti, lembra,
no entanto, que muitas variáveis estão envolvidas na
sexualidade humana e que esse é apenas um dos aspectos.
O estudo selecionou 22 mulheres na pós-menopausa, de 45 a 59
anos, com média etária de 52 anos, que não tomavam
nenhuma medicação e sem nenhum problema de saúde.
Assim, pôde isolar outros fatores que pudessem interferir nos
resultados. Todas elas tinham alguma disfunção orgástica,
apresentando um prazer menor, mais lento ou a ausência dele.
A pesquisa
Num primeiro momento, Ana Lúcia avaliou todas as pacientes
com Doppler (espécie de ultra-som que mostra também
a circulação nos vasos sanguíneos). Após
o exame, elas tomaram um comprimido de viagra e, entre 30 minutos
e uma hora depois - quando o efeito do remédio, que dura cerca
de quatro horas, atinge seu pico - realizaram um novo Doppler. As
mulheres foram, então, orientadas a tomar um comprimido do
remédio por dia, uma hora antes de ter relações,
durante quinze dias. Após esse período foi feita uma
nova avaliação por Doppler.
Os exames mostraram que houve um aumento considerável do fluxo
sanguíneo na região clitoridiana. Ana Lúcia explica
que o pênis e o clitóris são órgãos
anatomicamente semelhantes em vários aspectos. Em ambos a excitação
causa uma irrigação sangüínea e, nas mulheres,
lubrificação vaginal. "Na pós-menopausa
os vasos estão mais velhos, a elasticidade é menor e
há diminuição do fluxo sangüíneo.
O viagra atua como um vasodilatador, compensando esses problemas",
diz.
A pesquisa, realizada com o chamado duplo-placebo , em que tanto a
pesquisadora quanto as pacientes não sabem quem toma ou não
placebo (medicamento sem o princípio ativo), mostrou resultados
estatisticamente significativos. Apesar disso, o grupo que tomou medicamento
placebo também teve uma melhora, "o que significa que
há outras questões, psicológicas e sociais, envolvidas",
lembra a médica. Além da avaliação por
Doppler, as pacientes responderam a questionários, onde confirmaram
uma melhora em sua vida sexual. Elas também relataram um aumento
da sensibilidade clitoridiana, lubrificação vaginal,
além da intensidade do orgasmo.
Sexualidade
Ana Lúcia sugere a prescrição do medicamento
para pacientes com problemas nessa área, mas enfatiza que esse
tipo de disfunção nunca é apenas anatômico.
"Essas mulheres já tinham dificuldades sexuais quando
eram mais novas", diz. Segundo a pesquisadora, muitas das pacientes
vinculavam a menopausa ao fim do desejo.
Um dos motivos para pesquisar o tema, de acordo com a médica,
foi o fato de que a sexualidade feminina é pouco estudada,
até por ser mais difícil de analisar e por envolver
mais variáveis. "As mulheres na pós-menopausa,
especificamente, recebem menos atenção ainda do que
as que estão em idade reprodutiva."
Ana Lucia lembra que mulheres mais jovens, em qualquer idade da pré-menopausa,
e pacientes que utilizam drogas psiquiátricas, que diminuem
a libido, também podem ser beneficiadas pelo medicamento. O
importante, segundo ela, é que o profissional saiba diferenciar
as pacientes ao ouvi-las sobre sexo, levando em conta os referenciais
culturais e sociais de cada uma.
As contra-indicações e os efeitos colaterais do remédio
são os mesmos que os verificados para os homens. Pessoas com
problemas cardíacos, que tomam remédios como os nitratos,
não devem ingerir o viagra ou outros medicamentos similares.
Pacientes sensíveis a algum componente do medicamento também
não devem utilizá-lo. Algumas das mulheres que participaram
do estudo relataram, como efeitos colaterais, dores de cabeça
e nos membros inferiores e visão dupla.
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