"A diferenciação desta forma
de uso da cocaína pode possibilitar o estabelecimento do nexo-causal entre
casos de violência e o consumo da droga, além do estabelecimento
de políticas de tratamento e prevenção específicas" |
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Um
método desenvolvido na Faculdade de Ciências Farmacêuticas
(FCF) da USP permite a identificação e diferenciação
entre pessoas que consomem crack e cocaína, por meio de amostras
de urina. O estudo, desenvolvido em parceria com o Núcleo de
Toxicologia Forense do Instituto Médico Legal de São
Paulo (NTF-IML), além de inovador mostrou-se economicamente
viável.
A farmacêutica e bioquímica Virgínia Martins Carvalho,
aplicou o método em sua pesquisa de mestrado em um cromatógrafo
a gás acoplado ao detector por ionização em chama
do NTF-IML, equipamento acessível e presente na maioria dos
laboratórios de toxicologia forense de médio porte de
todo o Brasil. O crack é produzido a partir da pasta-base da
cocaína, bicarbonato de sódio e outras substâncias, apresentado em
forma de pedras. "Essa forma de consumo da droga tem aumentado
desde 1990, e suas características demandam esforços
específicos", conta a pesquisadora.
Quando o crack é fumado, parte da cocaína é degradada
formando uma substância chamada éster metilanidroecgonina
(EMA) que também é absorvida. "No método,
foram avaliados a cocaína, o indicador do crack (EMA) e o produto
da hidrólise da droga, a benzoilecgonina (BEC), substância
metabolizada que está presente na urina dos usuários
em altas concentrações", explica Virgínia.
As 37 amostras utilizadas no estudo também eram do NTF-IML,
sendo 13 provenientes de cadáveres e 24 de pessoas vivas, anteriormente
analisadas no Núcleo do IML. Todas as amostras já haviam
dado positivo para o teste de cocaína do IML, e eram de homens.
As idades variavam entre 14 e 57 anos. O EMA foi positivo em 30% do
total, sendo em 23% nos mortos e em 33% nos vivos.
A quantidade do EMA na urina depende da eficiência da tragada
e da temperatura da queima, o que varia a fração de
cocaína que é queimada. Ele apresenta boa estabilidade
após a coleta, não variando em sua quantidade, ao contrário
do que acontece com a cocaína e seu produto de hidrólise.
A primeira diminui conforme vai sendo hidrolisada e dando origem ao
produto, que aumenta. "Por isso a vantagem de utilizar a urina,
na qual o EMA é estável e a BEC aparece em altas concentrações",
conta a pesquisadora.
Alguns métodos semelhantes ao desenvolvido por Virgínia,
sob orientação da professora Alice Aparecida da Matta
Chasin, já haviam sido descritos no exterior, porém
em aparelhos muito mais caros e que requerem condições
extremamente controladas de utilização. Logo, o emprego
de um aparelho mais robusto e acessível facilita o trabalho
de pesquisadores brasileiros devido à viabilidade econômica
e eficiência.
Diferenças
O início do efeito do crack é extremamente rápido
(7 segundos, contra 15 da cocaína injetável, em média),
assim como o término do mesmo. "Logo, a série de
eventos que levam à perda de controle sobre o uso da droga
ocorre muito mais rápido" conta Virgínia.
Queimaduras nos dedos, nariz e boca são sinais característicos
dos usuários. "Os materiais utilizados na confecção
dos cachimbos não os protegem do calor, e a base livre de cocaína
presente no crack é um anestésico local, fazendo com
que os mesmos não sintam dor durante o uso", explica.
A pesquisa teve apoio financeiro da Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq).
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