São Paulo, 
toxicologia
11/10/2006
Novo método diferencia consumo de crack do de cocaína por meio da análise de moléculas na urina
Pesquisa inovadora possibilita diferenciação e identificação de usuários de crack. A droga, que é produzida a partir da pasta-base da cocaína, têm efeitos mais rápidos e maior capacidade de causar dependência nos usuários
Juliana
Cardilli

imprimir 

"A diferenciação desta forma de uso da cocaína pode possibilitar o estabelecimento do nexo-causal entre casos de violência e o consumo da droga, além do estabelecimento de políticas de tratamento e prevenção específicas"
Um método desenvolvido na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP permite a identificação e diferenciação entre pessoas que consomem crack e cocaína, por meio de amostras de urina. O estudo, desenvolvido em parceria com o Núcleo de Toxicologia Forense do Instituto Médico Legal de São Paulo (NTF-IML), além de inovador mostrou-se economicamente viável.

A farmacêutica e bioquímica Virgínia Martins Carvalho, aplicou o método em sua pesquisa de mestrado em um cromatógrafo a gás acoplado ao detector por ionização em chama do NTF-IML, equipamento acessível e presente na maioria dos laboratórios de toxicologia forense de médio porte de todo o Brasil. O crack é produzido a partir da pasta-base da cocaína, bicarbonato de sódio e outras substâncias, apresentado em forma de pedras. "Essa forma de consumo da droga tem aumentado desde 1990, e suas características demandam esforços específicos", conta a pesquisadora.

Quando o crack é fumado, parte da cocaína é degradada formando uma substância chamada éster metilanidroecgonina (EMA) que também é absorvida. "No método, foram avaliados a cocaína, o indicador do crack (EMA) e o produto da hidrólise da droga, a benzoilecgonina (BEC), substância metabolizada que está presente na urina dos usuários em altas concentrações", explica Virgínia.

As 37 amostras utilizadas no estudo também eram do NTF-IML, sendo 13 provenientes de cadáveres e 24 de pessoas vivas, anteriormente analisadas no Núcleo do IML. Todas as amostras já haviam dado positivo para o teste de cocaína do IML, e eram de homens. As idades variavam entre 14 e 57 anos. O EMA foi positivo em 30% do total, sendo em 23% nos mortos e em 33% nos vivos.

A quantidade do EMA na urina depende da eficiência da tragada e da temperatura da queima, o que varia a fração de cocaína que é queimada. Ele apresenta boa estabilidade após a coleta, não variando em sua quantidade, ao contrário do que acontece com a cocaína e seu produto de hidrólise. A primeira diminui conforme vai sendo hidrolisada e dando origem ao produto, que aumenta. "Por isso a vantagem de utilizar a urina, na qual o EMA é estável e a BEC aparece em altas concentrações", conta a pesquisadora.

Alguns métodos semelhantes ao desenvolvido por Virgínia, sob orientação da professora Alice Aparecida da Matta Chasin, já haviam sido descritos no exterior, porém em aparelhos muito mais caros e que requerem condições extremamente controladas de utilização. Logo, o emprego de um aparelho mais robusto e acessível facilita o trabalho de pesquisadores brasileiros devido à viabilidade econômica e eficiência.

Diferenças
O início do efeito do crack é extremamente rápido (7 segundos, contra 15 da cocaína injetável, em média), assim como o término do mesmo. "Logo, a série de eventos que levam à perda de controle sobre o uso da droga ocorre muito mais rápido" conta Virgínia.

Queimaduras nos dedos, nariz e boca são sinais característicos dos usuários. "Os materiais utilizados na confecção dos cachimbos não os protegem do calor, e a base livre de cocaína presente no crack é um anestésico local, fazendo com que os mesmos não sintam dor durante o uso", explica.

A pesquisa teve apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).





· vínculos:
Faculdade de Ciências Farmacêuticas

· mais informações:
(0XX11)3091-1193, na Secretaria do Programa de Pós-Graduação em Toxicologia e Análises Toxicológicas da FCF; vmcar@usp.br, com a pesquisadora

sobre a Agência USP de Notícias |  direitos autorais |  créditos |  boletim |  mande um email

Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J,n.374 Sala 244 CEP05586-000 São Paulo Brasil
(00XX11) 3091-4411  agenusp@usp.br