Segundo o oceanógrafo, a primeira
pérola brasileira deverá ficar pronta entre 2 e 4 anos.
O grande diferencial será a exclusividade do produto, visto
que as espécies utilizadas ocorrem apenas na América
do Sul |
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Na
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão
Preto (FFCLRP) da USP, duas espécies de moluscos bivalves de
água doce (Anodontites trapesialis e Diplodon rotundus
gratus), que se encontram ameaçados de extinção
no Brasil, estão sendo estudadas com o objetivo de testar a
viabilidade de seu cultivo in vitro. Os cientistas pretendem
repovoar as principais bacias hidrográficas do estado de São
Paulo.
"Pretendemos aumentar a taxa de sobrevivência das larvas
e dos jovens moluscos, a fim de contribuir com a preservação
desses animais, importantes na cadeia alimentar", conta o autor
do estudo, o oceanógrafo Ricardo Cunha Lima.
O pesquisador explica que os moluscos bivalves são aqueles
que têm uma concha formada por duas valvas. A pesquisa de doutorado
de Lima foi iniciada há cerca de seis meses e envolve a reprodução
em laboratório e a distribuição das duas espécies pelos rios do estado.
Lima vem sendo orientado pelo professor Wagner Eustáquio Paiva
Avelar.
Uma parte dos moluscos será usada numa iniciativa pioneira
no Brasil: a produção de pérolas em água
doce, que será viabilizada via Centro Incubador de Empresas
Tecnológicas (Cietec) da USP.
Na natureza, esses moluscos, quando ainda estão em fase de
larva, precisam parasitar um peixe como bagre, lambari ou cascudo
para se transformarem em um animal juvenil. O índice de mortalidade
das larvas costuma ser muito alto. Nos laboratórios da FFCLRP,
Lima pretende usar alguns moluscos já adultos como reprodutores
dessas larvas. Elas serão colocadas para parasitar alguns peixes
que se encontram em tanques na Faculdade. Quando elas atingirem o
tamanho de um centímetro, serão levadas para os rios.
Uma outra parte será usada na produção de pérolas.
Na literatura científica existem apenas estudos descritivos
sobre os dois moluscos em extinção. "Por isso,
ainda não temos informações quanto à alimentação,
o consumo de oxigênio, as condições que a água
deve ter e qual o tipo de substrato (areia, terra, lama) deveremos
usar para fazê-los crescer saudáveis", esclarece
o oceanógrafo.
O processo de extinção das duas espécies está
relacionado à poluição das águas, à
construção de barragens e ao aparecimento de espécies
invasoras, como a Corbícula fluminea, molusco de origem
asiática que chegou ao País por meio da água
de lastro dos navios que entraram no continente pelo Rio da Prata
(entre a Argentina e o Uruguai). "Alguns exemplares desses invasores
já foram encontrados até em Mato-Grosso", conta
Lima.
Pérolas de água doce
Existem pelo menos oito espécies de moluscos bivalves que produzem
pérolas, sendo quatro de água salgada e quatro de água
doce. A pérola é produzida pelo animal adulto a partir
da presença de um corpo estranho dentro da concha. Em um mecanismo
de defesa, o molusco vai recobrindo esse corpo com camadas de nácar,
substância encontrada no interior das conchas.
"O corpo estranho pode ser introduzido no animal por meio de
um procedimento cirúrgico, mas, infelizmente, grande número
de moluscos morrem após a cirurgia", informa o oceanógrafo.
Após o procedimento cirúrgico, o molusco volta para
a água, onde fica durante 1 a 2 anos até a pérola
ser retirada. Lima considera o mercado brasileiro promissor. Segundo
ele , a primeira pérola brasileira deverá ficar pronta
entre 2 e 4 anos. O grande diferencial será a exclusividade
do produto, visto que as espécies utilizadas ocorrem apenas
na América do Sul.
A empresa de Lima, cuja sede será na região de Ribeirão
Preto, está em fase de pré-incubação no
Cietec. Essa modalidade visa dar apoio para criação
de novos negócios de base tecnológica que ainda não
tenham condições suficientes para o início imediato
do empreendimento. O pesquisador é um dos finalistas do Prêmio
Santander Banespa de Empreendedorismo.
As pérolas de água doce têm um brilho mais intenso
e costumam ter uma tonalidade mais escura que as de água salgada,
além de o preço ser menor. O maior produtor é
a China, que comercializa toneladas do produto, tanto de qualidade
alta, média e inferior. O mercado mundial do setor gira em
torno de U$3 a U$4 bilhões ao ano.
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