São Paulo, 
meio ambiente
06/11/2006
Preservação de molusco de água doce contribuirá com a produção de pérolas
Moluscos bivalves, que estão em perigo de extinção, serão cultivados in vitro com o objetivo de repovoar rios do estado de São Paulo. Projeto do Cietec usará parte dos animais para produzir pérolas de água doce
Valéria
Dias

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Segundo o oceanógrafo, a primeira pérola brasileira deverá ficar pronta entre 2 e 4 anos. O grande diferencial será a exclusividade do produto, visto que as espécies utilizadas ocorrem apenas na América do Sul
Na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, duas espécies de moluscos bivalves de água doce (Anodontites trapesialis e Diplodon rotundus gratus), que se encontram ameaçados de extinção no Brasil, estão sendo estudadas com o objetivo de testar a viabilidade de seu cultivo in vitro. Os cientistas pretendem repovoar as principais bacias hidrográficas do estado de São Paulo.

"Pretendemos aumentar a taxa de sobrevivência das larvas e dos jovens moluscos, a fim de contribuir com a preservação desses animais, importantes na cadeia alimentar", conta o autor do estudo, o oceanógrafo Ricardo Cunha Lima.

O pesquisador explica que os moluscos bivalves são aqueles que têm uma concha formada por duas valvas. A pesquisa de doutorado de Lima foi iniciada há cerca de seis meses e envolve a reprodução em laboratório e a distribuição das duas espécies pelos rios do estado. Lima vem sendo orientado pelo professor Wagner Eustáquio Paiva Avelar.

Uma parte dos moluscos será usada numa iniciativa pioneira no Brasil: a produção de pérolas em água doce, que será viabilizada via Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec) da USP.

Na natureza, esses moluscos, quando ainda estão em fase de larva, precisam parasitar um peixe como bagre, lambari ou cascudo para se transformarem em um animal juvenil. O índice de mortalidade das larvas costuma ser muito alto. Nos laboratórios da FFCLRP, Lima pretende usar alguns moluscos já adultos como reprodutores dessas larvas. Elas serão colocadas para parasitar alguns peixes que se encontram em tanques na Faculdade. Quando elas atingirem o tamanho de um centímetro, serão levadas para os rios. Uma outra parte será usada na produção de pérolas.

Na literatura científica existem apenas estudos descritivos sobre os dois moluscos em extinção. "Por isso, ainda não temos informações quanto à alimentação, o consumo de oxigênio, as condições que a água deve ter e qual o tipo de substrato (areia, terra, lama) deveremos usar para fazê-los crescer saudáveis", esclarece o oceanógrafo.

O processo de extinção das duas espécies está relacionado à poluição das águas, à construção de barragens e ao aparecimento de espécies invasoras, como a Corbícula fluminea, molusco de origem asiática que chegou ao País por meio da água de lastro dos navios que entraram no continente pelo Rio da Prata (entre a Argentina e o Uruguai). "Alguns exemplares desses invasores já foram encontrados até em Mato-Grosso", conta Lima.

Pérolas de água doce
Existem pelo menos oito espécies de moluscos bivalves que produzem pérolas, sendo quatro de água salgada e quatro de água doce. A pérola é produzida pelo animal adulto a partir da presença de um corpo estranho dentro da concha. Em um mecanismo de defesa, o molusco vai recobrindo esse corpo com camadas de nácar, substância encontrada no interior das conchas.

"O corpo estranho pode ser introduzido no animal por meio de um procedimento cirúrgico, mas, infelizmente, grande número de moluscos morrem após a cirurgia", informa o oceanógrafo. Após o procedimento cirúrgico, o molusco volta para a água, onde fica durante 1 a 2 anos até a pérola ser retirada. Lima considera o mercado brasileiro promissor. Segundo ele , a primeira pérola brasileira deverá ficar pronta entre 2 e 4 anos. O grande diferencial será a exclusividade do produto, visto que as espécies utilizadas ocorrem apenas na América do Sul.

A empresa de Lima, cuja sede será na região de Ribeirão Preto, está em fase de pré-incubação no Cietec. Essa modalidade visa dar apoio para criação de novos negócios de base tecnológica que ainda não tenham condições suficientes para o início imediato do empreendimento. O pesquisador é um dos finalistas do Prêmio Santander Banespa de Empreendedorismo.

As pérolas de água doce têm um brilho mais intenso e costumam ter uma tonalidade mais escura que as de água salgada, além de o preço ser menor. O maior produtor é a China, que comercializa toneladas do produto, tanto de qualidade alta, média e inferior. O mercado mundial do setor gira em torno de U$3 a U$4 bilhões ao ano.





· vínculos:
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto

Centro Incubador de Empresas Tecnológicas


· mais informações:
(0XX16) 3602-4457, (0XX11) 3039-8425, e-mail occunhalima@gmail.com, com Ricardo Cunha Lima

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