São Paulo, 
saúde
21/11/2006
Estudo traça um mapa da situação mundial do câncer em vias aéreas e digestivas superiores
Pesquisa avaliou dados de 22 grupos populacionais de todo o mundo, com base em publicações da Organização Mundial de Saúde (OMS). Em São Paulo, foram analisados cinco grupos de pessoas, de ambos os sexos, divididos em faixas etárias
Antonio Carlos
Quinto

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"No grupo de 50 a 59 anos houve aumento do câncer de glândulas salivares em mulheres, e decréscimo dos tumores de lábios em homens"
Nos últimos 30 anos do século passado houve uma tendência de aumento dos casos de câncer de língua e boca entre as mulheres com idade entre 30 e 39 anos, na cidade de São Paulo. O aumento também foi observado em países da Europa e em algumas localidades dos EUA. Os resultados são de um levantamento sobre os vários tipos de tumores que atingem as vias aéreas e digestivas superiores, realizado pelo cirurgião-dentista Alexandre Tadeu Patronieri, com base em 18 Registros de Câncer de Base Populacional no Mundo, entre 1969 e 1999. "No Brasil, há a necessidade de mais campanhas de prevenção e detecção precoce para o câncer de língua, boca e orofaringe", recomenda.

Patronieri chama a atenção para a cidade de São Paulo. "A tendência de aumento no número de casos em mulheres pode indicar que elas estão mais expostas aos fatores de risco (álcool e tabaco)", alerta. Em sua pesquisa de mestrado, defendida na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, o pesquisador reuniu informações de 22 grupos populacionais de todo o mundo, com base nas publicações do Cancer Incidence in Five Continents (WHO-IARC), da Organização Mundial de Saúde (OMS). Os dados relativos a São Paulo foram obtidos no Registro de Câncer de São Paulo, que é coordenado pelo médico Antonio Pedro Mirra.

Em São Paulo, foram analisados cinco grupos, divididos em faixas etárias de ambos os sexos: de zero a 39 anos; 40 a 49; 50 a 59; 60 a 69; e 70 anos ou mais. Patronieri lembra que o Registro de Câncer de Base Populacional São Paulo é o único do País que possui a série histórica dos 30 anos (1969-1999). "Infelizmente não há essa informação em outros municípios, mesmo nas grandes capitais, que satisfizesse esse critério: as informações são relativas apenas aos anos mais recentes ou a série histórica não está completa", lamenta. Os casos estudados foram os mais freqüentes: tumores de lábio, língua, boca, glândula salivares e os da faringe em toda a sua extensão que compreende a nasofaringe, a hipofaringe e a orofaringe.

Padrão mundial
A tendência encontrada pelo pesquisador em mulheres da faixa de 30 a 39 anos, de São Paulo, segundo ele acompanha uma tendência mundial. "A hipótese da alta incidência do papiloma vírus, o HPV, também pode estar associada a essas estatísticas", acredita. Contudo, Patronieri alerta que seu estudo não pode ser considerado como definitivo. Ele abre um caminho para novas pesquisas. "Podem haver outras hipóteses relacionadas às tendências ainda desconhecidas", diz.

"No grupo de 50 a 59 anos houve aumento do câncer de glândulas salivares em mulheres, e decréscimo dos tumores de lábios em homens", lembra. Na totalização geral dos índices em relação ao sexo, o pesquisador observou uma tendência estável para os homens. "Para o sexo feminino, constatamos aumento do câncer de língua entre mulheres de 40 a 49 anos, entre os anos de 1969 a 1983, e aumento do câncer de boca nos grupos etários mais avançados, a partir dos 60 anos", resume.

Em relação ao resto do mundo, ele destaca que na Ásia as incidências dos tumores são as mais altas, principalmente na boca, língua e orofaringe, o que pode estar ligado ao alto consumo do tabaco e do álcool. Ele lembra um costume, no mínimo curioso, que existe na Índia e no Paquistão. "É sabido que nesses países algumas pessoas têm o hábito de fumar com a brasa invertida. Ou seja, colocam o lado aceso do cigarro dentro da boca", conta.

Nos EUA também houve a tendência de aumento dos tumores em algumas localidades. Naquele país, segundo Patronieri, já existe disponível no mercado um tablete mastigável de tabaco industrializado. "Trata-se de mais um produto com potencial de causar lesões e tumores na língua e mucosa bucal", diz. Em localidades como Detroit, Iowa e Michigan, os registros apontam aumento da incidência de cânceres de orofaringe.







· vínculos:
Faculdade de Saúde Pública

· mais informações:
(0XX11) 9944-5248, com Alexandre Tadeu Patronieri; e-mail: patronieri@usp.br

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