"No grupo de 50 a 59 anos houve
aumento do câncer de glândulas salivares em mulheres,
e decréscimo dos tumores de lábios em homens" |
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Nos últimos 30 anos do século passado houve uma tendência
de aumento dos casos de câncer de língua e boca entre
as mulheres com idade entre 30 e 39 anos, na cidade de São
Paulo. O aumento também foi observado em países da Europa
e em algumas localidades dos EUA. Os resultados são de um levantamento
sobre os vários tipos de tumores que atingem as vias aéreas
e digestivas superiores, realizado pelo cirurgião-dentista
Alexandre Tadeu Patronieri, com base em 18 Registros de Câncer
de Base Populacional no Mundo, entre 1969 e 1999. "No Brasil,
há a necessidade de mais campanhas de prevenção
e detecção precoce para o câncer de língua,
boca e orofaringe", recomenda.
Patronieri chama a atenção para a cidade de São
Paulo. "A tendência de aumento no número de casos
em mulheres pode indicar que elas estão mais expostas aos fatores
de risco (álcool e tabaco)", alerta. Em sua pesquisa de
mestrado, defendida na Faculdade de Saúde Pública (FSP)
da USP, o pesquisador reuniu informações de 22 grupos
populacionais de todo o mundo, com base nas publicações
do Cancer Incidence in Five Continents (WHO-IARC), da Organização
Mundial de Saúde (OMS). Os dados relativos a São Paulo
foram obtidos no Registro de Câncer de São Paulo, que
é coordenado pelo médico Antonio Pedro Mirra.
Em São Paulo, foram analisados cinco grupos, divididos em faixas
etárias de ambos os sexos: de zero a 39 anos; 40 a 49; 50 a
59; 60 a 69; e 70 anos ou mais. Patronieri lembra que o Registro de
Câncer de Base Populacional São Paulo é o único
do País que possui a série histórica dos 30 anos
(1969-1999). "Infelizmente não há essa informação
em outros municípios, mesmo nas grandes capitais, que satisfizesse
esse critério: as informações são relativas
apenas aos anos mais recentes ou a série histórica não
está completa", lamenta. Os casos estudados foram os mais
freqüentes: tumores de lábio, língua, boca, glândula
salivares e os da faringe em toda a sua extensão que compreende
a nasofaringe, a hipofaringe e a orofaringe.
Padrão mundial
A tendência encontrada pelo pesquisador em mulheres da faixa
de 30 a 39 anos, de São Paulo, segundo ele acompanha uma tendência
mundial. "A hipótese da alta incidência do papiloma
vírus, o HPV, também pode estar associada a essas estatísticas",
acredita. Contudo, Patronieri alerta que seu estudo não pode
ser considerado como definitivo. Ele abre um caminho para novas pesquisas.
"Podem haver outras hipóteses relacionadas às tendências
ainda desconhecidas", diz.
"No grupo de 50 a 59 anos houve aumento do câncer de glândulas
salivares em mulheres, e decréscimo dos tumores de lábios
em homens", lembra. Na totalização geral dos índices
em relação ao sexo, o pesquisador observou uma tendência
estável para os homens. "Para o sexo feminino, constatamos
aumento do câncer de língua entre mulheres de 40 a 49
anos, entre os anos de 1969 a 1983, e aumento do câncer de boca
nos grupos etários mais avançados, a partir dos 60 anos",
resume.
Em relação ao resto do mundo, ele destaca que na Ásia
as incidências dos tumores são as mais altas, principalmente
na boca, língua e orofaringe, o que pode estar ligado ao alto
consumo do tabaco e do álcool. Ele lembra um costume, no mínimo
curioso, que existe na Índia e no Paquistão. "É
sabido que nesses países algumas pessoas têm o hábito
de fumar com a brasa invertida. Ou seja, colocam o lado aceso do cigarro
dentro da boca", conta.
Nos EUA também houve a tendência de aumento dos tumores
em algumas localidades. Naquele país, segundo Patronieri, já
existe disponível no mercado um tablete mastigável de
tabaco industrializado. "Trata-se de mais um produto com potencial
de causar lesões e tumores na língua e mucosa bucal",
diz. Em localidades como Detroit, Iowa e Michigan, os registros apontam
aumento da incidência de cânceres de orofaringe.
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