Realizar esforço intenso em atividade física não
é garantia de melhor qualidade de vida. Estudo da Faculdade
de Medicina (FM) da USP que comparou corredores mais velozes e mais
lentos da corrida São Silvestre de 2002 mostra que, além
de mais jovens e menos escolarizados, os competidores que concluíram
a prova em menor tempo e, portanto, com maior esforço, apresentaram
pior resultado no aspecto ambiental do questionário da Organização
Mundial da Saúde (OMS) que avalia qualidade de vida.
Em seu doutorado, o médico e professor do Hospital das Clínicas
(HC) da FM, Joel Tedesco, quis investigar se o esporte (no caso,
a corrida de longa distância) melhora ou não a qualidade
de vida de quem o pratica. A São Silvestre foi escolhida
por reunir grande número de participantes e possibilitar
conhecer o esforço físico realizado, por meio do tempo
de prova.
Tedesco selecionou 962 corredores, sendo 815 homens e 147 mulheres
- diferença de amostragem que ocorre pelo fato de que "um
terço do total de participantes da São Silvestre é
do sexo feminino", explica o pesquisador. Essas pessoas foram
divididas em cinco grupos, de acordo com o tempo gasto para finalizar
a corrida. O grupo 1 foi composto pelos corredores mais velozes
e o grupo 5, pelos mais lentos.
Quanto mais rápido, pior
Além de obter dos participantes recrutados suas medidas antropométricas
(medidas corporais) e o Índice de Massa Corporal (IMC), que
mede a relação peso e altura, Tedesco aplicou o questionário
WHOQOL-abreviado, elaborado pela OMS para avaliar a qualidade de
vida. As 26 questões que o compõem estão distribuídas
em quatro domínios: físico, psíquico, social
e ambiental - no qual houve diferenças entre os grupos.
O domínio ambiental investiga aspectos relacionados com o
meio em que a pessoa vive. Suas perguntas envolvem segurança,
saúde do ambiente físico, aspecto financeiro, acesso
a informações, satisfação com o acesso
a serviços de saúde e com o meio de transporte. "Os
corredores com melhor desempenho não estão satisfeitos
com, pelo menos, um desses aspectos", afirma Tedesco. "Mas,
como não foi feita uma análise detalhada, não
foi possível saber qual deles teve maior influência
no resultado". Por outro lado, os corredores que levaram mais
tempo para concluir a prova não demonstraram essa insatisfação.
Além de apontarem uma pior qualidade de vida em relação
aos outros grupos, os corredores mais velozes são mais jovens
(média de 31 anos), treinam em média 5,45 vezes por
semana, possuem menor IMC (média de 21,93) e a mais baixa
escolaridade (entre ensino fundamental e médio). Já
os homens que compuseram o grupo 5 possuem, na sua maioria, nível
de ensino superior.
O quadro é semelhante para as mulheres: as que formaram o
grupo 1 também possuem pior qualidade de vida em relação
ao aspecto ambiental, são mais jovens (média de 30
anos), treinam em média 6,03 vezes por semana e apresentam
IMC mais baixo (média de 20,25). Apenas o nível educacional
não sofreu variações significativas entre os
grupos, mantendo-se, porém, baixo. "O esporte ajuda
a melhorar a qualidade de vida, mas o esforço físico
intenso parece não contribuir para isso. Para um resultado
positivo, uma intensidade de leve a moderada parece ser a melhor
recomendação", conclui o pesquisador.
São Silvestre
A prova de longa distância, que está na 82ª edição,
ocorre sempre no dia 31 de dezembro e "põe para correr"
15.000 participantes. O percurso de 15 quilômetros
parte do Museu de Arte de São Paulo (MASP) - localizado
na Avenida Paulista, nº1578, em São Paulo - e termina
no número 900 dessa mesma avenida, em frente ao prédio
da Fundação Cásper Líbero.
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