"O porto de Santos frente às
novas condições tecnológicas (da navegação
e do transporte feito via contêineres) e territoriais (interiorização
do desenvolvimento) torna-se apenas uma porta através da qual
os fluxos de produtos passam sem agregar valor", afirma o pesquisador |
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Uma
nova relação cidade-porto foi o ponto de partida para o professor
e arquiteto Pedro Manuel Rivaben de Sales desenvolver um estudo que discute a
revalorização da cidade de Santos no contexto do chamado "Complexo
Macrometropolitano Paulista" - território onde se desdobram as funções
econômicas, culturais, políticas, tecnológicas e acadêmicas
anteriormente concentradas na Capital.
Tomando como base exemplos internacionais (positivos, como o de Roterdã,
e negativos, como é o de Londres), a pesquisa de Sales resultou
em sua tese de doutorado desenvolvida em parte na Universitat Politècnica
de Catalunya, em Barcelona, na Espanha, e defendida na Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, sob orientação
do professor Sylvio B. Sawaya.
Entre as propostas do arquiteto, está
a disponibilização de terrenos da cidade, sobretudo na região
dos Outeirinhos, uma área portuária e ferroviária que fica
no lado leste. O local tem a maior disponibilidade de áreas passíveis
de transformação, ideal para que se criem condições
de se estabelecer esta nova relação cidade-porto. A medida possibilitaria
o desenvolvimento de uma nova base produtiva, por meio da recuperação,
atualizada e potencializada, da cultura portuária da cidade: logística,
serviços de navegação, da cadeia transportes, entre outros.
Assim, Sales recomenda em seu estudo uma revisão do sistema viário
da cidade, melhorando a mobilidade e o intercâmbio, bem como realizar a
abertura de áreas portuárias para a população (como
forma de preservar o patrimônio urbano, histórico e arquitetônico)
e definir novas centralidades como alternativa complementar aos centros já
existentes.
"O porto de Santos não deve ser pensado isoladamente
dos projetos de desenvolvimento da cidade", afirma Sales. Segundo ele, a
lógica portuária continua hoje a se impor sobre a cidade, "basta
ver o conceito, a lógica e o traçado da complementação
da avenida portuária em licitação".
Auge
com o café Historicamente, o porto de Santos atingiu seu auge de
importância econômica no Estado de São Paulo até a década
de 1930, quando foi o principal porto das exportações de café.
Nos anos de 1950, participa do processo de implantação e fortalecimento
da industrialização pesada. A partir de 1970, com o deslocamento
de grande parte das indústrias para o interior, induzido pelo governo central
e, depois, com a emergência das questões ambientais, a cidade não
é mais foco prioritário de investimentos públicos. Observa-se
paulatinamente a decadência ou o deslocamento das funções
antes atreladas ao movimento portuário corroer as bases da própria
cultura e economia que o porto historicamente desenvolveu na cidade.
"O
porto de Santos frente às novas condições tecnológicas
(da navegação e do transporte feito via contêineres) e territoriais
(interiorização do desenvolvimento) torna-se apenas uma porta através
da qual os fluxos de produtos passam sem agregar valor", afirma o pesquisador.
Exemplo
das funções portuárias são os serviços aduaneiros
(de alfândega), despachantes (de documentação) e de contêineres
(de logística de transporte). A cidade de Santos oferece todos esses serviços,
mas eles muitas vezes são realizados em outras cidades pelas empresas exportadoras.
Segundo Sales, Santos necessita fazer um rearranjo funcional, espacial e institucional
desses serviços de forma a potencializá-los, torná-los efetivamente
utilizados. Isso significaria um incremento da economia da cidade.
De
acordo com o pesquisador, até hoje grande parte das soluções
propostas para a cidade de Santos no sentido revalorizar suas estruturas se basearam
apenas em estratégias urbanísticas internacionais muitas vezes muito
superficiais. "Essas só consideram as questões do turismo,
esporte e cultura como forma de integrar o porto à cidade", aponta
Sales.
No entanto, o pesquisador admite não ser fácil retomar
e revalorizar a relação da cidade com seu porto já que essa
é sempre difícil face ao antagonismo das forças dos interesses
em jogo - porto e cidade constituindo territórios separados e autônomos.
O fato de o porto não pagar o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU)
demonstra essa contraposição de interesses.
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