25/01/2007 - cultura
Filmes, vídeos e documentários produzidos pelo Teatro Oficina são mapeados por antropóloga
Dentre a produção audiovisual quase inédita do grupo, estão vídeos da TV Uzyna — projeto do Oficina criado na década de 80 —, os filmes Prata Palomares e Rei da Vela, e documentários premiados sobre a Revolução dos Cravos e a Independência de Moçambique


Marina Almeida


Entre as décadas de 1970 e início de 1990, a produção de peças do grupo Teatro Oficina — liderado pelo diretor José Celso Martinez Corrêa e conhecido por suas peças ousadas — diminuiu. Durante essa aparente lacuna, o grupo produziu um grande número de filmes, vídeos e documentários. O resgate dessa produção quase inédita foi realizado pela antropóloga Isabela Oliveira, que mapeou esse material para a sua pesquisa de mestrado.

Isabela fez o mapeamento da produção audiovisual que estava no acervo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), doado pelo grupo em 1985. A pesquisadora também trabalhou na organização do acervo pessoal de materiais não-catalogados de Zé Celso. Neste último acervo, Isabela catalogou, durante dois anos, as cerca de mil horas de gravações que estavam na casa do diretor e que agora estão arquivadas na sede do Oficina, na Rua Jaceguai, bairro do Bexiga, em São Paulo. Neste período, a antropóloga realizou ainda um trabalho etnográfico acompanhando o dia-a-dia do grupo e seus processos criativos.

Em 1970, o filme Prata Palomares, que tem como personagens principais dois guerrilheiros, foi a primeira experiência cinematográfica do grupo. Em seguida, uma viagem pelo Brasil foi documentada em diversos trabalhos em película. Também foi nesta época em que o Rei da Vela, um dos marcos do Tropicalismo, começou a ser filmado.

Depois da invasão da polícia ao teatro, em 1974, alguns dos participantes do Oficina partiram para um exílio voluntário. José Celso Martinez Corrêa fez cinema em Portugal e Moçambique e foi premiado com os documentários que realizou sobre a Revolução dos Cravos portuguesa e sobre a Independência Moçambicana.

TV Uzyna
De volta ao Brasil, já na década de 1980, iniciou-se a disputa pelo espaço do teatro com o empresário Sílvio Santos, que já nesta época pretendia comprar o local para construir um shopping center. “Na impossibilidade de comprar o terreno, o Oficina decidiu adquirir um equipamento de vídeo e iniciou o projeto de criar a TV Uzyna”, conta a pesquisadora. “Vários programas foram produzidos nessa época, como novelas e vídeos, embora nunca tenham ido ao ar.”

Isabela destaca a importância dos trabalhos em vídeo do Oficina para a geração brasileira dos anos 80, já que o projeto TV Uzyna contou com a participação de jovens artistas que trabalhavam com vídeo. “A experimentação e a diluição das fronteiras entre a ficção e a não-ficção foram uma das marcas do trabalho do grupo com o audiovisual”, afirma. A pesquisadora lembra da importância dos vídeos para o processo de tombamento do prédio do teatro e sua reconstrução, finalizada em 1994, segundo o projeto da arquiteta Lina Bo Bardi. “O vídeo passou a ter um papel importante nos espetáculos ao permitir que o público acompanhasse tudo o que acontecia em cena, quando os eventos estavam ocorrendo em diferentes espaços do teatro, por exemplo”, explica.

O Oficina não produz mais trabalhos em película, mas continua seu trabalho com o vídeo. Foi o primeiro grupo brasileiro a transmitir uma peça ao vivo pela internet: Boca de Ouro. O acervo de audiovisual não está aberto ao público, porém um dos projetos, que aguarda financiamento, é o de digitalização do acervo da sede. A pesquisa de Isabela, Bárbaros tecnizados: cinema no Teatro Oficina, será apresentada no próximo mês de março na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. O estudo foi premiado em 2003 pelo Instituto Itaú Cultural, no Programa Rumos.

 

Mais informações:(0XX11) 9725-3525 ou e-mail oliveira.isabela@gmail.com. Pesquisa orientada pela professora Fernanda Arêas Peixoto


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