A partir da Guerra do Golfo (1991),
a CNN começou a transmitir notícias sobre o Oriente
Médio com grande freqüência. Foi quando redes de
Tv como a Al Jazira e a Al-Alarabya se organizaram para dar a visão
delas sobre a guerra e o mundo árabe" |
|
|
|
|
Apesar
de a internet facilitar a divulgação de notícias
sobre os diferentes países, o fluxo da informação
ainda é o mesmo dos anos 1980: ditado pelas grandes agências
internacionais. A expansão da tecnologia não se
refletiu numa maior pluralidade de assuntos e coberturas, como poderíamos
imaginar, diz a jornalista Maria José Baldessar.
As agências de informação brasileiras reproduzem
as notícias das agências internacionais, às
vezes resumem ou juntam informações de duas delas num
mesmo texto, mas nada muito além disso, conta Maria José.
Ela defendeu, recentemente, uma tese de doutorado sobre o tema na
Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.
Segundo Maria José, são os correspondentes das agências
internacionais que determinam o que é importante ser noticiado
sobre esse país para o mundo. Ela cita como exemplo o caso
de uma mãe austríaca que matou os dois filhos em março
do ano passado e o caso foi publicado em todos os jornais pesquisados.
O índice de assassinatos é muito pequeno na Áustria,
por isso o correspondente deve ter se chocado com o fato. Mas porque
noticiá-lo no Brasil? Não é um crime tão
inédito e não vai influenciar de nenhuma forma nossa
vida aqui, questiona.
A pesquisadora destaca a necessidade de alterar os procedimentos de
divulgação das notícias. As agências
deveriam ser usadas como fonte para sugestões de pautas a serem
aprofundadas, não como matérias prontas para serem reproduzidas,
avalia a jornalista. Ela diz que, apesar de trazer diversas possibilidades,
a internet, sozinha, sem uma política de circulação
da informação, tem pouca capacidade para alterar esse
fluxo de informações.
Um exemplo da voz dissonante entre as agências internacionais
é a TV árabe Al Jazira. A rede hoje tem um site de notícias
em inglês e pretende difundir suas informações
não mais apenas para o mundo árabe. A partir da
Guerra do Golfo (1991), a CNN (rede de TV norte-americana) começou
a transmitir notícias sobre o Oriente Médio com grande
freqüência. Foi quando redes de TV como a Al Jazira e a
Al-Alarabya se organizaram para dar a visão delas sobre a guerra
e o mundo árabe", diz Maria José. Ela lembra que
isso é importante por retratar os árabes do modo como
eles se vêem, e não com a visão preconceituosa
de muitos jornais ocidentais, que os tratam a todos como terroristas.
É esse tipo de mecanismo que pode mudar o sistema de
divulgação da informação, acredita.
A pesquisa
A pesquisadora analisou as notícias divulgadas em português
pela Reuters (Agência de Notícias da Inglaterra) e pela
EFE (espanhola) durante três meses não consecutivos,
entre 2004 e 2006. Ela também acompanhou durante duas semanas
as informações divulgadas por essas agências internacionais,
cerca de duas mil por dia, e as matérias publicadas, perto
de 40 diariamente, na Agência Estado e nas agências de
O Globo Online e do Jornal do Brasil, que não só publicam,
mas distribuem notícias.
Segundo Maria José, a maior parte das informações
internacionais vêm dessas duas agências. Os jornais brasileiros
apenas reproduzem essas notícias, não chegam,
por exemplo, a entrar em sites especializados sobre o assunto ou região
para checar ou complementar alguma informação
o que não seria caro nem muito trabalhoso, diz.
Além disso, países com pouca importância econômica
no mercado mundial têm espaço no noticiário apenas
quando ocorrem tragédias ou eventos naturais. Um dos países
que vem tendo grande destaque nos noticiários, por exemplo,
é a China, por ser um grande mercado econômico e ter
grandes corporações investindo lá. Já
outros países, como os da própria América Latina,
são noticiados apenas em matérias sobre temas como terrorismo.
Nos quinze dias de comparação, só três
matérias tratavam de Portugal, por exemplo que pela
ligação histórica com o Brasil poderia causar
um maior interesse. Uma sobre os incêndios que acometeram a
região e outras duas sobre prostituição e imigração
ilegal, ressalta.
|
|
|