"Como o Brasil é um dos
maiores criadores de gado bovino do mundo e tem grande tradição
na fabricação de produtos cerâmicos, temos, então,
condições de fabricar essa porcelana em grande quantidade,
podendo até tornar-nos um grande exportador desse material" |
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Uma porcelana com maior alvura, leveza, resistência e valor
que a comum. Assim é a porcelana de ossos, material originariamente
produzido na Inglaterra, que o físico Ricardo Yoshimitsu Miyahara
desenvolveu com matérias-primas totalmente brasileiras em estudo
inédito realizado no Departamento de Engenharia Metalúrgica
e de Materiais da Escola Politécnica (Poli) da USP.
Utilizando cinzas de ossos bovinos, caulim (tipo de argila) e feldspato
(rocha dotada de propriedade fundente), Miyahara conseguiu, em seu
doutorado, produzir uma porcelana com propriedades superiores às
do material inglês, que emprega a "cornish stone",
uma matéria-prima específica daquele país.
Além de resultar numa louça de maior valor agregado
e de ser a única cerâmica feita com alguma matéria-prima
renovável, a porcelana de ossos tem potencial de utilização
na produção de próteses odontológicas
mais resistentes e de melhor resultado estético.
Porcelana brasileira
A chave para uma porcelana de ossos de qualidade está no controle
das condições de produção. "Obtivemos
um excelente material devido ao conhecimento dos principais parâmetros
que devem ser muito bem controlados", afirma o pesquisador.
A formulação (50% de cinzas de ossos, 20% de caulim
e 30% de feldspato), associada ao tempo de moagem de 24 horas e à
temperatura ideal de queima do material (1270 graus Celsius) resultou
numa porcelana de ossos quase duas vezes mais resistente que a porcelana
comum e tão branca quanto a porcelana de ossos inglesa.
Além da Inglaterra, que produz a porcelana desde o século
dezoito, apenas Estados Unidos e China fabricam essa cerâmica,
cujo custo de importação é muito alto. "Como
o Brasil é um dos maiores criadores de gado bovino do mundo
e tem grande tradição na fabricação de
produtos cerâmicos, temos, então, condições
de fabricar essa porcelana em grande quantidade, podendo até
tornar-nos um grande exportador desse material que possui um elevado
valor agregado", avalia Miyahara.
Biocompatibilidade
Além de compor esse tipo de porcelana, as cinzas de ossos poderiam
ser utilizadas para produzir bioimplantes, substituindo materiais
como a platina, que podem causar rejeição em alguns
casos. Segundo o pesquisador, os ossos, depois de lavados e queimados,
transformam-se em hidroxiapatita, um mineral dotado de propriedades
de biocompatibilidade.
Apesar de existir na natureza, a hidroxiapatita contém uma
série de contaminantes. Apenas em sua forma sintética
e de elevado custo o material está livre deles.
Entretanto, "a hidroxiapatita obtida no estudo é naturalmente
livre de contaminantes e, talvez, possa ser usada como matéria-prima
de maior biocompatibilidade para implantes", afirma Miyahara.
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