"Se os resultados forem positivos,
os primeiros ensaios clínicos da vacina em seres humanos acontecerão
a partir de 2008" |
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Pesquisadores do Laboratório de Imunologia do Instituto do
Coração (InCor) do Hospital das Clínicas (HC)
da Faculdade de Medicina (FM) da USP utilizam um novo modelo animal
para testar a vacina contra febre reumática em desenvolvimento
no Laboratório. O modelo usa uma proteína recombinante
que induz lesões cardíacas em ratos semelhantes às
provocadas pela doença nos seres humanos.
"O homem é o único reservatório natural
da bactéria Streptococcus pyogenes, causadora da febre
reumática, por isso é difícil reproduzir características
da doença em animais", explica a pesquisadora Luiza Guilherme
Guglielmi, coordenadora do estudo. "Existem cerca de 250 variedades
(cepas) da bactéria, e o modelo animal foi feito com material
genético da cepa M1, a mais freqüente em todo o mundo."
A partir da variedade M1, os pesquisadores criaram uma proteína
recombinante que, injetada em ratos, induz a uma resposta auto-imune.
"Em 50% dos animais testados, a resposta à proteína
pelas células imunológicas levou a lesões cardíacas",
relata a pesquisadora do InCor. "Este número já
é útil para os testes com a vacina." O modelo animal
é descrito na tese de doutorado de Flávio Ferraz de
Paes e Alcântara, defendida na FM.
Vacina
As pesquisas para a obtenção da vacina contra febre
reumática acontecem há 18 anos e já geraram duas
patentes. "Na superfície do estreptococo há uma
proteína, denominada proteína M com 400 a 500 resíduos
de aminoácidos, dividida nas porções C-terminal
e N-terminal, sendo que esta última diferencia as variedades
da bactéria", explica Guilherme. "Na porção
N-terminal foram encontradas regiões que desencadeiam lesões
cardíacas em seres humanos."
A partir de um segmento de resíduos de aminoácidos repetitivos
e semelhantes com caráter protetor identificado na porção
C-terminal, foi produzido o peptídeo PepVacTB, considerado
ideal para produzir a vacina. Durante os últimos dois anos,
o PepVacTB foi testado em camundongos C57BL-6
e BALB-c, isogênicos (geneticamente idênticos) e Swiss
(com material genético diferenciado), além de camundongos
transgênicos possuidores dos genes HLA humanos.
"Os primeiros resultados mostram que o agente vacinal conseguiu
50% de proteção para os camundongos C57BL-6 e 80% no
Swiss", relata a pesquisadora. "Testes com linhagens de
linfócitos T cultivadas a partir de células cardíacas
de pacientes operados apontam que a vacina não tem potencial
para induzir doenças."
Os testes da vacina em animais prosseguirão por mais um ano.
"Se os resultados forem positivos, os primeiros ensaios clínicos
em seres humanos acontecerão a partir de 2008", calcula
Guilherme. Numa primeira etapa, que deve levar um ano, serão
testados a imunogenicidade e a segurança da vacina. "Os
ensaios seguintes durarão de cinco a seis anos, pois exigem
um número maior de indivíduos."
De acordo com a pesquisadora, além de prevenir a infecção,
a vacina poderá ser usada pelos portadores da doença
que fazem profilaxia com penicilina benzatina a cada 21 dias. As pesquisas,
realizadas no Laboratório de Imunologia do InCor, dirigido
pelo médico Jorge Kalil, envolvem 12 pesquisadores e contam
com o apoio da Fapesp e do CNPq.
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