A dissertação de mestrado Aderência à atividade física em mulheres
submetidas à cirurgia por câncer de mama pesquisou os estímulos e
dificuldades que estas pacientes encontram para praticar exercícios, altamente
recomendados para a sua recuperação e para a prevenção de seqüelas da
cirurgia. Defendida na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da
USP, a pesquisa foi patrocinada pelo Ministério da Saúde, por ter sido
reconhecida como "Experiência Inovadora".
Segundo a enfermeira Maria Antonieta Spinoso Prado, autora da dissertação,
a maioria das mulheres que passam pela cirurgia não pratica exercícios
regularmente, mesmo que saibam da importância desta prática. "Alguns fatores
individuais e do dia-a-dia servem para estimular a prática dos exercícios,
outros para dificultar. Precisamos conhecê-los para buscar estratégias
que melhorem a vida dessas pessoas", explica. Maria Antonieta ressalta
a importância das famílias no processo de recuperação, do acompanhamento
profissional e da participação das mulheres em grupos de apoio, onde têm
maior convivência e podem receber uma orientação mais abrangente.
A pesquisa foi feita com um grupo de 30 mulheres que haviam passado pela
mastectomia (cirurgia de retirada total ou parcial de pelo menos uma mama),
acompanhadas pelo Núcleo de Ensino Pesquisa e Assistência na Reabilitação
de Mastectomizadas (REMA), de Ribeirão Preto. Uma entrevista inicial registrou
que todas elas consideravam a prática de atividades físicas benéfica para
a saúde. Os exercícios foram relacionados ao bem-estar físico, à melhora
dos movimentos do braço ao lado da mama operada, à prevenção e regressão
do linfedema, que é um doloroso inchaço do braço, à qualidade do sono,
à prevenção do estresse e à recuperação mental.
Em seguida, durante quatro semanas, cada uma completou um diário, dando
informações sobre a prática dos exercícios e os motivos caso não houvesse
praticado. As principais justificativas para a não realização foram a
falta de condições emocionais, como desmotivação ou preocupação com exames,
compromissos sociais, como finais de semana com familiares e viagens,
a falta de tempo, efeitos colaterais da quimioterapia ou radioterapia,
dores ou mau condicionamento físico. "Quando nos reunimos no grupo, o
assunto parte delas mesmas, assim ficam livres para falar do que precisam.
Aproveitamos as experiências das próprias mulheres para enfrentar os problemas",
diz a enfermeira.
Auxiliando na recuperação
O principal objetivo dos exercícios é evitar ou diminuir o edema e auxiliar
na recuperação dos movimentos do braço e ombro, danificados pela retirada
de músculos na cirurgia. A operação também pode ter outras conseqüências,
como problemas de circulação, dor ou falta de sensibilidade, hiperpigmentação
da pele, fibrose ou endurecimento da mama, alterações na forma da parede
toráxica e da axila, complicações pulmonares e de postura. A prática de
exercícios auxilia na maioria dos casos, que podem se manifestar a qualquer
momento da vida, como o edema, que dificilmente se recupera por completo.
No Brasil, o câncer de mama é o tipo que mais causa mortes entre as mulheres.
O REMA, sediado na EERP, é constituído por profissionais de várias áreas
de saúde. Fundado em 1989, tem como objetivo auxiliar na recuperação física,
emocional e social de mulheres que passaram pela mastectomia, acompanhando
inclusive os familiares, promover a capacitação de profissionais que atuem
na área, realizar pesquisas e programas de prevenção ou detecção de câncer
de mama. Recentemente, a equipe elaborou um Manual de Orientações para
as pacientes e agora prepara um vídeo sobre os exercícios que devem ser
praticados, desde os primeiros dias depois da cirurgia.
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