São Paulo, 
astronomia
11/04/2002
Maior estrela do universo
sofrerá "apagão" em 2003
Pesquisador do IAG afirma que "apagão" da estrela Eta Carinae ocorrerá em final de julho do próximo ano. O fenômeno pode ser considerado único nas ciências astronômicas
Marcelo
Gutierres

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"Esses 'apagões' são breves e a perda deste evento implicaria numa espera de mais cinco anos e meio"
No final de julho de 2003 acontecerá um fenômeno único para as ciências astronômicas. Trata-se da interrupção rítmica de alguns canais de emissão de energia luminosa da estrela Eta Carinae. O professor Augusto Damineli, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, que estuda o astro desde 1989, chama o evento de "apagão". "No caso da Eta Carinae, há canais que se apagam e outros que se mantêm", explica.

Damineli defende a teoria de que o astro é composto por um sistema duplo, ou seja, há duas estrelas interagindo, formando um sistema ligado pela força da gravidade. Caso essa hipótese seja confirmada, será possível obter todos os dados relativos à estrutura do sistema. "A maioria das estrelas que conhecemos são sistemas duplos ou triplos." O pesquisador baseia-se também no conceito, consagrado pela comunidade de científica, de que têm pulsação ritmadas somente estrelas de pequeno porte. "Portanto, Eta Carinae, a maior estrela que conhecemos, não pode ser ritmada", explica.

Em estudos anteriores, o professor já conseguiu estipular o intervalo de tempo entre um "apagão" e outro, que é de aproximadamente de 2.020 dias. O problema, segundo ele, é que há uma imprecisão de cerca de uma semana. "Pode ser que o ciclo tenha 2.013 ou 2.027 dias, mas o fato é que o fenômeno se realizará", garante. "Se perdermos o auge do evento, deixaremos de obter informações preciosas." Segundo Damineli, esses "apagões" são breves e a perda deste evento implicaria numa espera de mais cinco anos e meio. A duração do "apagão", de acordo com o cientista dura, em média, de um a dois meses.

Outra corrente
Há uma outra corrente de pesquisadores que discorda da teoria de Damineli. "Esses cientistas imaginam que Eta Carinae é uma estrela isolada." Na opinião do pesquisador, se esses estudiosos estiverem certos estará aberta uma nova discussão, pois somente estrelas pequenas podem se expandir e se contrair dentro de um ciclo previsível.

Damineli conta que a outra corrente acredita que os "apagões" são conseqüência do tamanho extraordinário de um único corpo. Mas, rebate: "é como se você colocasse um elefante para sambar; não dá para 'exigir' que ele dance no ritmo de uma música tão rápida por causa de seu tamanho". Assim, de acordo com o professor, os acontecimentos do ano que vem são importantes para se saber com que precisão esse ciclo se repete. "Se ele ocorrer periodicamente, é porque há um sistema duplo. Se acontecer um mês antes, ou depois, não dá para afirmar que trata-se de um sistema duplo. Então, estaremos diante de um fenômeno inexplicável pelas teorias atuais."

Astros, estrelas e planetas
De forma simplificada, Damineli explica que astro é todo corpo que está no espaço. Entre planeta e estrela a diferença é basicamente da massa. Os corpos que são 100 vezes menores do que o Sol são chamados de planetas. Os que são até 100 vezes maiores, são estrelas. Elas brilham porque possuem uma gravidade tal que proporciona a fusão nuclear dos átomos existentes em seu corpo e, assim, há a emissão de luz. Os corpos pequenos esfriam, tornando-se planetas.

O pesquisador comenta que os primeiros sinais do "apagão" já estão se manifestando. "Tem um dos canais, o do hélio, que está muito baixo. Desde o ano passado, uma série de medidas mostram que ele já está se apagando." Este canal é acompanhado exclusivamente pelo professor, que adaptou o telescópio do Laboratório Nacional de Astrofísica, em Minas Gerais, para fotografar na luz infravermelha. "O canal do hélio é mais expressivo porque tem mais energia. Os demais telescópios não estão ajustados para esse canal, pois precisam de filtros especiais", conta Damineli.




Fonte central onde os ventos das duas estrelas se chocam a uma velocidade de 2500 Km/s, atingindo 60 milhões de graus. A " ferradura" alaranjada é produzida pela nebulosa ejetada há mil anos, se chocando com o gás interestelar a uma velocidade de 100 Km/s, atingindo temperatura de 3 milhões de graus - imagem tomada com satélite de raios-X Chandra



Homunculo ejetado por Eta Carinae em 1843 e uma nebulosa mais externa ejetada há mil anos. O sistema duplo de estrelas fica escondido na mancha branca central - imagem captada pelo telescópio Hubble
Imagens: Divulgação


· vínculos:
Informações sobre a Eta Carinae

· mais informações:
(0XX11) 3091-2714 ou pelo e-mail damineli@astro.iag.usp.br

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