"Esses 'apagões' são breves e a
perda deste evento implicaria numa espera de mais cinco anos e meio" |
|
|
|
|
No
final de julho de 2003 acontecerá um fenômeno único para as ciências
astronômicas. Trata-se da interrupção rítmica de alguns canais de
emissão de energia luminosa da estrela Eta Carinae. O professor
Augusto Damineli, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas (IAG) da USP, que estuda o astro desde 1989, chama o
evento de "apagão". "No caso da Eta Carinae, há canais que
se apagam e outros que se mantêm", explica.
Damineli defende a teoria de que o astro é composto por um sistema
duplo, ou seja, há duas estrelas interagindo, formando um sistema
ligado pela força da gravidade. Caso essa hipótese seja confirmada,
será possível obter todos os dados relativos à estrutura do sistema.
"A maioria das estrelas que conhecemos são sistemas duplos ou triplos."
O pesquisador baseia-se também no conceito, consagrado pela comunidade
de científica, de que têm pulsação ritmadas somente estrelas de pequeno
porte. "Portanto, Eta Carinae, a maior estrela que conhecemos,
não pode ser ritmada", explica.
Em estudos anteriores, o professor já conseguiu estipular o intervalo
de tempo entre um "apagão" e outro, que é de aproximadamente de 2.020
dias. O problema, segundo ele, é que há uma imprecisão de cerca de
uma semana. "Pode ser que o ciclo tenha 2.013 ou 2.027 dias, mas o
fato é que o fenômeno se realizará", garante. "Se perdermos o auge
do evento, deixaremos de obter informações preciosas." Segundo Damineli,
esses "apagões" são breves e a perda deste evento implicaria numa
espera de mais cinco anos e meio. A duração do "apagão", de acordo
com o cientista dura, em média, de um a dois meses.
Outra corrente
Há uma outra corrente de pesquisadores que discorda da teoria de Damineli.
"Esses cientistas imaginam que Eta Carinae é uma estrela isolada."
Na opinião do pesquisador, se esses estudiosos estiverem certos estará
aberta uma nova discussão, pois somente estrelas pequenas podem se
expandir e se contrair dentro de um ciclo previsível.
Damineli conta que a outra corrente acredita que os "apagões" são
conseqüência do tamanho extraordinário de um único corpo. Mas, rebate:
"é como se você colocasse um elefante para sambar; não dá para 'exigir'
que ele dance no ritmo de uma música tão rápida por causa de seu tamanho".
Assim, de acordo com o professor, os acontecimentos do ano que vem
são importantes para se saber com que precisão esse ciclo se repete.
"Se ele ocorrer periodicamente, é porque há um sistema duplo. Se acontecer
um mês antes, ou depois, não dá para afirmar que trata-se de um sistema
duplo. Então, estaremos diante de um fenômeno inexplicável pelas teorias
atuais."
Astros, estrelas e planetas
De forma simplificada, Damineli explica que astro é todo corpo que
está no espaço. Entre planeta e estrela a diferença é basicamente
da massa. Os corpos que são 100 vezes menores do que o Sol são chamados
de planetas. Os que são até 100 vezes maiores, são estrelas. Elas
brilham porque possuem uma gravidade tal que proporciona a fusão nuclear
dos átomos existentes em seu corpo e, assim, há a emissão de luz.
Os corpos pequenos esfriam, tornando-se planetas.
O pesquisador comenta que os primeiros sinais do "apagão" já estão
se manifestando. "Tem um dos canais, o do hélio, que está muito baixo.
Desde o ano passado, uma série de medidas mostram que ele já está
se apagando." Este canal é acompanhado exclusivamente pelo professor,
que adaptou o telescópio do Laboratório Nacional de Astrofísica, em
Minas Gerais, para fotografar na luz infravermelha. "O canal do hélio
é mais expressivo porque tem mais energia. Os demais telescópios não
estão ajustados para esse canal, pois precisam de filtros especiais",
conta Damineli.
|
|
|