"Muitos educadores desconhecem os sintomas
da paralisia cerebral e acabam ficando com medo de aceitar as crianças
que apresentam essa patologia" |
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Estudo realizado na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP mostra
como crianças com paralisia cerebral podem ser integradas normalmente
à rede de ensino. A fisoterapeuta Eliana Trevisan, autora da pesquisa,
partiu de um projeto pioneiro da Associação Santa Catarina de Reabilitação
(ASCR), em Florianópolis, instituição que cuida do desenvolvimento
social e motor de crianças com paralisia cerebral e acompanha seu
processo de adaptação à escola. Os resultados do estudo mostram que
em 1997, 57% das crianças - todas em idade escolar - assistiam aulas
normalmente, durante o tratamento ou após terem recebido alta médica.
"Hoje essa porcentagem aumentou, pois o trabalho de conscientização
das famílias foi intensificado", ressalta Eliana.
A pesquisa traz um perfil dos portadores de paralisia cerebral que
se beneficiam com o projeto e, apesar de conter informações específicas,
diminui o problema da falta de dados sobre a patologia no Brasil e
pode ser ampliada a outras regiões. "As estatísticas fornecidas pelo
IBGE são muito genéricas, englobando diversos tipos de deficiência",
aponta a pesquisadora. Atualmente, os órgãos que trabalham com portadores
de paralisia consideram, para o País, as estimativas realizadas pela
Organização Mundial da Saúde (OMS).
A paralisia cerebral decorre da falta de oxigênio à criança durante
seu nascimento. Existem para isso muitas causas possíveis: viroses
durante a gravidez, má-formação vascular do feto e prematuridade,
entre outros. Apesar de ser de curta duração, a ausência de oxigenação
leva algumas células do cérebro à morte. A patologia não é progressiva,
mas deixa lesões no movimento e na postura da criança que podem se
associar a outras deficiências - visual e mental.
O projeto da ASCR começou em 1987, com uma lei que tornava obrigatória
a aceitação da matrícula de crianças com paralisia cerebral em escolas
públicas do Estado de Santa Catarina. O trabalho realizado pela instituição
- que tem crianças com deficiência física associada ou não à visual
- visa o desenvolvimento da capacidade motora, de acordo com a região
da paralisia: predominância em um dos lados do corpo, na parte inferior
ou na superior. Nesse último caso, a adaptação escolar é mais complicada,
pois a criança tem dificuldade de escrever.
Pesquisa e integração
Os dados para a pesquisa foram coletados entre 1992 e 1997. Eliana
utilizou prontuários de 97 crianças da ASCR e as informações foram
usadas para uma classificação pelas características das deficiências
e um levantamento sócio-demográfico. O perfil foi finalizado com o
material de 25 entrevistas, feitas com famílias de crianças em tratamento.
Segundo a pesquisa, os pacientes são em geral de famílias compostas
por quatro pessoas, com renda média de até três salários mínimos (em
26% dos registros não constava esse dado). Com relação à proveniência,
31% dos pacientes são oriundos da grande Florianópolis e 23% do interior
do Estado de Santa Catarina.
O processo de integração da criança à escola inclui ainda uma educação
familiar. "O trabalho de conscientização permite que os familiares
incentivem a criança a superar os obstáculos da vida escolar" diz
Eliana. "Além disso, eles estarão melhor preparados para encarar problemas
e se defender de eventuais preconceitos".
Para que possam aceitar crianças portadoras de deficiências físicas,
as escolas têm de reformular seu espaço: devem construir rampas, cadeiras
e mesas especializadas e adaptar refeitório e banheiros. Algumas especificidades
também precisam ser feitas se houver a entrada de crianças com deficiência
visual. Essas exigem, além de uma adaptação espacial, um material
didático apropriado para participarem integralmente das aulas.
No setor pedagógico, a adaptação começa com os professores, que irão
orientar as crianças. Mudanças na forma de ensino são necessárias
em casos de crianças com paralisia física superior. Segundo a fisoterapeuta,
"elas têm dificuldade de escrever com a mesma rapidez e habilidade
das outras crianças, por isso se sentiriam mais incluídas se as aulas
fossem menos 'quadro e giz' e mais orais".
A ASCR costuma encaminhar os pacientes e auxiliá-los em suas adaptações
escolares, mas enfrenta resistência por parte de algumas escolas em
aceitar essas crianças. Eliana considera que parte disso se explica
pelo preconceito. "Muitos educadores desconhecem os sintomas da paralisia
cerebral e acabam ficando com medo de aceitá-las."
Por outro lado, a adaptação dos portadores de paralisia cerebral no
ambiente escolar parece ser rápida e sem traumas. "As crianças estão
sempre abertas ao novo. O preconceito vem dos adultos", lamenta Eliana.
Enquanto isso, a idéia se expande para o Paraná e São Paulo, onde
as Prefeituras estudam possibilidades de implantá-la.
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