São Paulo, 
cidadania
12/06/2002
Crianças com paralisia cerebral
podem integrar o ensino regular
Pesquisa da FSP demonstra como crianças com paralisia cerebral podem ser integradas à rede de ensino. O estudo partiu de um projeto pioneiro da Associação Santa Catarina de Reabilitação em Florianópolis
Beatriz
Camargo,
do USP On-line

imprimir 

"Muitos educadores desconhecem os sintomas da paralisia cerebral e acabam ficando com medo de aceitar as crianças que apresentam essa patologia"
Estudo realizado na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP mostra como crianças com paralisia cerebral podem ser integradas normalmente à rede de ensino. A fisoterapeuta Eliana Trevisan, autora da pesquisa, partiu de um projeto pioneiro da Associação Santa Catarina de Reabilitação (ASCR), em Florianópolis, instituição que cuida do desenvolvimento social e motor de crianças com paralisia cerebral e acompanha seu processo de adaptação à escola. Os resultados do estudo mostram que em 1997, 57% das crianças - todas em idade escolar - assistiam aulas normalmente, durante o tratamento ou após terem recebido alta médica. "Hoje essa porcentagem aumentou, pois o trabalho de conscientização das famílias foi intensificado", ressalta Eliana.

A pesquisa traz um perfil dos portadores de paralisia cerebral que se beneficiam com o projeto e, apesar de conter informações específicas, diminui o problema da falta de dados sobre a patologia no Brasil e pode ser ampliada a outras regiões. "As estatísticas fornecidas pelo IBGE são muito genéricas, englobando diversos tipos de deficiência", aponta a pesquisadora. Atualmente, os órgãos que trabalham com portadores de paralisia consideram, para o País, as estimativas realizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A paralisia cerebral decorre da falta de oxigênio à criança durante seu nascimento. Existem para isso muitas causas possíveis: viroses durante a gravidez, má-formação vascular do feto e prematuridade, entre outros. Apesar de ser de curta duração, a ausência de oxigenação leva algumas células do cérebro à morte. A patologia não é progressiva, mas deixa lesões no movimento e na postura da criança que podem se associar a outras deficiências - visual e mental.

O projeto da ASCR começou em 1987, com uma lei que tornava obrigatória a aceitação da matrícula de crianças com paralisia cerebral em escolas públicas do Estado de Santa Catarina. O trabalho realizado pela instituição - que tem crianças com deficiência física associada ou não à visual - visa o desenvolvimento da capacidade motora, de acordo com a região da paralisia: predominância em um dos lados do corpo, na parte inferior ou na superior. Nesse último caso, a adaptação escolar é mais complicada, pois a criança tem dificuldade de escrever.

Pesquisa e integração
Os dados para a pesquisa foram coletados entre 1992 e 1997. Eliana utilizou prontuários de 97 crianças da ASCR e as informações foram usadas para uma classificação pelas características das deficiências e um levantamento sócio-demográfico. O perfil foi finalizado com o material de 25 entrevistas, feitas com famílias de crianças em tratamento.

Segundo a pesquisa, os pacientes são em geral de famílias compostas por quatro pessoas, com renda média de até três salários mínimos (em 26% dos registros não constava esse dado). Com relação à proveniência, 31% dos pacientes são oriundos da grande Florianópolis e 23% do interior do Estado de Santa Catarina.

O processo de integração da criança à escola inclui ainda uma educação familiar. "O trabalho de conscientização permite que os familiares incentivem a criança a superar os obstáculos da vida escolar" diz Eliana. "Além disso, eles estarão melhor preparados para encarar problemas e se defender de eventuais preconceitos".

Para que possam aceitar crianças portadoras de deficiências físicas, as escolas têm de reformular seu espaço: devem construir rampas, cadeiras e mesas especializadas e adaptar refeitório e banheiros. Algumas especificidades também precisam ser feitas se houver a entrada de crianças com deficiência visual. Essas exigem, além de uma adaptação espacial, um material didático apropriado para participarem integralmente das aulas.

No setor pedagógico, a adaptação começa com os professores, que irão orientar as crianças. Mudanças na forma de ensino são necessárias em casos de crianças com paralisia física superior. Segundo a fisoterapeuta, "elas têm dificuldade de escrever com a mesma rapidez e habilidade das outras crianças, por isso se sentiriam mais incluídas se as aulas fossem menos 'quadro e giz' e mais orais".

A ASCR costuma encaminhar os pacientes e auxiliá-los em suas adaptações escolares, mas enfrenta resistência por parte de algumas escolas em aceitar essas crianças. Eliana considera que parte disso se explica pelo preconceito. "Muitos educadores desconhecem os sintomas da paralisia cerebral e acabam ficando com medo de aceitá-las."

Por outro lado, a adaptação dos portadores de paralisia cerebral no ambiente escolar parece ser rápida e sem traumas. "As crianças estão sempre abertas ao novo. O preconceito vem dos adultos", lamenta Eliana. Enquanto isso, a idéia se expande para o Paraná e São Paulo, onde as Prefeituras estudam possibilidades de implantá-la.







· vínculos:
Faculdade de Sáude Pública

· mais informações:
(0XX48) 234-0751 ou pelo e-mail trevisan@icablenet.com.br

sobre a Agência USP de Notícias |  direitos autorais |  créditos |  boletim |  mande um email

Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J,n.374 Sala 244 CEP05586-000 São Paulo Brasil
(00XX11) 3091-4411  agenusp@usp.br