"Temos combustíveis, frota e condições
atmosféricas específicas, então precisamos descobrir exatamente onde
mexer, sem copiar modelos estrangeiros" |
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Conhecido
na década de 90 como um protetor da saúde humana, por bloquear raios
ultravioleta na estratosfera, o ozônio é também um dos maiores poluentes
do ar nas grandes cidades. De acordo com uma pesquisa apresentada
ao Instituto de Astronomia Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG)
da USP, cerca 15% do ozônio presente na região metropolitana de São
Paulo pode ser formado a partir de compostos emitidos pela vegetação.
"Não se trata de considerar a vegetação nociva", diz Leila Droprinchinski
Martins, autora da dissertação de mestrado. "As plantas
contribuem com uma parcela dos hidrocarbonetos que vão reagir na formação
do ozônio, mas os automóveis emitem muito mais desses gases
e ainda lançam quase todo o óxido de nitrogênio necessário para a
reação". Porém, segundo Leila, o resultado é preliminar, porque
é baseado em estimativas matemáticas que precisam ser melhoradas.
"O número é pouco preciso, mas podemos concluir que a emissão das
plantas deve ser considerada".
O ozônio praticamente não possui emissores diretos. Sua formação resulta
da reação de hidrocarbonetos voláteis, gasosos em temperatura ambiente,
com óxidos de nitrogênio (NO e NO2). Os hidrocarbonetos são emitidos
principalmente pela combustão e evaporação de combustíveis, e também
pela vegetação. "A sensação do cheiro de mato, do limão ou de uma
folha amassada vêm desses compostos", explica Leila. Já 96% dos óxidos
de nitrogênio são provenientes dos automóveis. "Numa floresta, por
exemplo, os índices de ozônio são baixíssimos".
A pesquisa utilizou um modelo matemático para calcular a produção
do ozônio, levando em conta a composição do ar, as reações químicas
que acontecem na natureza e as condições atmosféricas que as influenciam.
Num primeiro momento, o modelo trabalhou apenas com os hidrocarbonetos
provenientes dos automóveis. Em seguida, a mesma reação foi simulada
considerando também os gases emitidos pela vegetação. O resultado
apontou o aumento do ozônio.
A emissão dos hidrocarbonetos pela vegetação de São Paulo ainda não
foi realmente medida. A pesquisa calculou a produção dos gases na
região metropolitana com base na flora amazônica. "Não pudemos medir
por falta de tempo e recursos. É possível que estas diferenças sejam
relevantes". Mesmo com outras deficiências, o trabalho obteve um resultado
satisfatório. "A quantidade final de ozônio estimada pelo modelo,
considerando gases de origem vegetal e de veículos, foi próxima da
quantidade medida nas estações da Cetesb".
Reações complexas
Para a professora Maria de Fátima Andrade, coordenadora de um grupo
de pesquisa sobre poluição do ar no IAG, os estudos sobre a ação do
ozônio no Brasil precisam ser mais desenvolvidos. "Não adianta diminuirmos
apenas a emissão dos óxidos de nitrogênio, ou mexer em um fator só,
porque as reações são muito complexas e o resultado pode ser outro",
alerta. "A produção de ozônio depende de todo um equilíbrio,
porque cada hidrocarboneto tem um potencial de formação, e isso tudo
muda com o vento, com a topografia, com a radiação solar. Temos combustíveis,
frota e condições atmosféricas específicas, então precisamos descobrir
exatamente onde mexer, sem copiar modelos estrangeiros".
O ozônio existente no ar dos centros urbanos é um gás extremamente
tóxico e pode causar sérios danos, mesmo em baixa concentração. Estudos
recentes indicam que o gás causa irritação dos olhos, nariz
e garganta, leva ao envelhecimento precoce da pele, causa tosse, dor
de cabeça, náuseas, cansaço, diminui a resistência a infecções, agrava
doenças respiratórias e pode estar relacionado ao câncer de pulmão.
Além disso, possui forte ação corrosiva e reduz a vida útil dos materiais.
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