São Paulo, 
meio ambiente
04/04/2003
Vegetação pode contribuir com parte do ozônio presente na região metropolitana de São Paulo
Pesquisa do IAG estimou que cerca 15% do ozônio presente na Capital pode ser formado a partir de compostos emitidos pela vegetação
Lucas Oliveira
Telles

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"Temos combustíveis, frota e condições atmosféricas específicas, então precisamos descobrir exatamente onde mexer, sem copiar modelos estrangeiros"
Conhecido na década de 90 como um protetor da saúde humana, por bloquear raios ultravioleta na estratosfera, o ozônio é também um dos maiores poluentes do ar nas grandes cidades. De acordo com uma pesquisa apresentada ao Instituto de Astronomia Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, cerca 15% do ozônio presente na região metropolitana de São Paulo pode ser formado a partir de compostos emitidos pela vegetação.

"Não se trata de considerar a vegetação nociva", diz Leila Droprinchinski Martins, autora da dissertação de mestrado. "As plantas contribuem com uma parcela dos hidrocarbonetos que vão reagir na formação do ozônio, mas os automóveis emitem muito mais desses gases e ainda lançam quase todo o óxido de nitrogênio necessário para a reação". Porém, segundo Leila, o resultado é preliminar, porque é baseado em estimativas matemáticas que precisam ser melhoradas. "O número é pouco preciso, mas podemos concluir que a emissão das plantas deve ser considerada".

O ozônio praticamente não possui emissores diretos. Sua formação resulta da reação de hidrocarbonetos voláteis, gasosos em temperatura ambiente, com óxidos de nitrogênio (NO e NO2). Os hidrocarbonetos são emitidos principalmente pela combustão e evaporação de combustíveis, e também pela vegetação. "A sensação do cheiro de mato, do limão ou de uma folha amassada vêm desses compostos", explica Leila. Já 96% dos óxidos de nitrogênio são provenientes dos automóveis. "Numa floresta, por exemplo, os índices de ozônio são baixíssimos".

A pesquisa utilizou um modelo matemático para calcular a produção do ozônio, levando em conta a composição do ar, as reações químicas que acontecem na natureza e as condições atmosféricas que as influenciam. Num primeiro momento, o modelo trabalhou apenas com os hidrocarbonetos provenientes dos automóveis. Em seguida, a mesma reação foi simulada considerando também os gases emitidos pela vegetação. O resultado apontou o aumento do ozônio.

A emissão dos hidrocarbonetos pela vegetação de São Paulo ainda não foi realmente medida. A pesquisa calculou a produção dos gases na região metropolitana com base na flora amazônica. "Não pudemos medir por falta de tempo e recursos. É possível que estas diferenças sejam relevantes". Mesmo com outras deficiências, o trabalho obteve um resultado satisfatório. "A quantidade final de ozônio estimada pelo modelo, considerando gases de origem vegetal e de veículos, foi próxima da quantidade medida nas estações da Cetesb".

Reações complexas
Para a professora Maria de Fátima Andrade, coordenadora de um grupo de pesquisa sobre poluição do ar no IAG, os estudos sobre a ação do ozônio no Brasil precisam ser mais desenvolvidos. "Não adianta diminuirmos apenas a emissão dos óxidos de nitrogênio, ou mexer em um fator só, porque as reações são muito complexas e o resultado pode ser outro", alerta. "A produção de ozônio depende de todo um equilíbrio, porque cada hidrocarboneto tem um potencial de formação, e isso tudo muda com o vento, com a topografia, com a radiação solar. Temos combustíveis, frota e condições atmosféricas específicas, então precisamos descobrir exatamente onde mexer, sem copiar modelos estrangeiros".

O ozônio existente no ar dos centros urbanos é um gás extremamente tóxico e pode causar sérios danos, mesmo em baixa concentração. Estudos recentes indicam que o gás causa irritação dos olhos, nariz e garganta, leva ao envelhecimento precoce da pele, causa tosse, dor de cabeça, náuseas, cansaço, diminui a resistência a infecções, agrava doenças respiratórias e pode estar relacionado ao câncer de pulmão. Além disso, possui forte ação corrosiva e reduz a vida útil dos materiais.






· vínculos:
Instituto de Astronomia Geofísica e Ciências Atmosféricas

· mais informações:
(0XX11) 3091-2836, com Leila D.Martins

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