ISSN 2359-5191

22/12/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 24 - Saúde - Faculdade de Medicina
Terapia fonoaudiológica com jogos de computador ajuda surdos a falar
Após estudo realizado em Campinas, com apoio da FMUSP e uso de software brasileiro, dados indicam que está mais simples, e rápido, ensinar deficientes auditivos a falar.

São Paulo (AUN - USP) - Trabalhando com surdos há nove anos, a pesquisadora e fonoaudióloga Daniele Cristina J. Lopes aplicou jogos computadorizados em sessões de terapia para desenvolver a fala, realizadas em uma escola especial na cidade de Campinas, interior de São Paulo.

Contando com a orientação do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da USP, Lopes, que sempre quis trabalhar de forma diferenciada as questões da fala e da voz, partiu de uma pesquisa na literatura médica existente. Nesse processo encontrou um software desenvolvido para apoiar o trabalho com a voz por parte de deficientes auditivos e, a partir daí, planejou as sessões terapêuticas utilizando o programa como ferramenta visual e forma de controle dos resultados.

O que já se sabia

O estudo da comunicação dos deficientes auditivos remete, mesmo no Brasil, ao século XIX. Em 1857 o órgão conhecido atualmente como Instituto Nacional de Educação dos Surdos, utilizando-se principalmente das linguagens de sinais e escrita, dava assistência a esta população.

No final da década de 1970 já se aplicavam, nas terapias aos surdos, estimulações as mais variadas possíveis, desde a própria estimulação auditiva até os cinestésicos, numa proposta de utilização de técnicas e recursos variados.

A partir da década de 1980, iniciaram-se os trabalhos no bilinguismo, em que o surdo tem primeiramente acesso à língua de sinais e, posteriormente, à língua majoritária do seu país, geralmente em sua modalidade escrita. A língua oral torna-se uma opção para o surdo, e desperta grande interesse por sua importância para o trabalho e a convivência com o restante da sociedade.

O papel do fonoaudiólogo é o de colaborar para aprimorar a inteligibilidade da fala do surdo, além de desenvolver suas habilidades auditivas, quando possível, e preparar programas de orientação à família, dando ao deficiente auditivo uma gama maior de possibilidades de comunicação.

Quanto mais cedo começa a se manifestar a deficiência, maiores são as dificuldades do indivíduo para desenvolver a linguagem, tanto em aspectos estruturais como naqueles que dizem respeito a fala propriamente dita, como a freqüência da voz. Neste caso temos, para os surdos, uma freqüência maior do que a de uma pessoa com audição normal, assim como falta de domínio da altura da voz. Dessa forma, um surdo tende a falar mais "fino" e mais "alto" que uma pessoa que não seja portadora da deficiência, por não ter o feedback auditivo para o monitoramento da própria voz.

Jogos da voz

O uso do estímulo visual na terapia fonoaudiológica tem origem nos anos de 1920, e sua adaptação para computadores vem do final da década de 1970, originando uma série de softwares, gratuitos ou não, que podem ser utilizados, alguns disponíveis na internet. Estes tendem a melhorar o aprendizado do deficiente auditivo, sendo necessários no período de treinamento, e dispensáveis posteriormente. Em 2000 um grupo brasileiro desenvolveu uma série de jogos, apelidados de "Jogos de voz", que tem como objetivo aprimorar o controle da respiração, da intensidade e da freqüência fundamental, facilitando o trabalho focado na oralidade, sistema este que serviu de base para o trabalho de Lopes.

Alguns resultados

Após aplicar os "Jogos de Voz" em um grupo de 18 jovens, com idades entre 12 e 17 anos, chegou-se a conclusão de que a terapia fonoaudiológica deve contemplar também a parte vocal para melhora na qualidade de voz e na inteligibilidade da fala. Como resultados se encontrou uma redução da freqüência fundamental normal e máxima, com redução da amplitude de variação da mesma, entre suas freqüências máximas e mínimas. Foi detectada ainda uma redução na variabilidade da amplitude das ondas sonoras, medidas mais facilmente com o auxílio do computador, e um aumento dos tempos máximos de fonação das vogais prolongadas /a/, /i/, /u/ e dos sons fricativos /s/ e /z/, que normalmente ficam abaixo dos tempos de fonação comuns da população não deficiente, provocando a sensação em quem ouve, grosso modo, de uma fala descompassada. Foi encontrada ainda uma melhora da inteligibilidade da fala e do controle do pitch, que é a sensação psicoacústica de freqüência. Com esta melhora nos padrões trabalhados, que ocorreu após a aplicação do procedimento e se manteve no seguimento, pode-se afirmar que a proposta terapêutica aplicada mostrou-se eficaz, e os resultados, satisfatórios, aplicáveis em outras populações.

Veja mais:
http://www.ines.org.br - Instituto Nacional de Educação dos Surdos
http://www.fm.usp.br/fofito - Faculdade de Medicina da USP - Departamento de Fonoaudiologia

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