São Paulo (AUN - USP) - Quem nunca viu um camarão, um siri ou uma lagosta? Entretanto, existem muitos outros tipos de crustáceos que não são conhecidos nem pela ciência. É o caso das 14 novas espécies que foram descobertas pela pesquisadora Kátia Christol dos Santos. Esses animais, pertencentes à ordem das Tanaidaceas, estão presentes nas mais diferentes regiões do planeta, desde as áreas costeiras até profundidades marítimas de 1.400 metros. Medindo cerca de um ou dois milímetros em geral, embora possam ser encontrados alguns seres com até um centímetro, eles não têm uma importância econômica direta, mas servem como base alimentar para outros animais marinhos maiores, como peixes e os próprios crustáceos.
Algumas características de uma das 34 espécies estudadas por Kátia não se encaixam em nenhum dos gêneros de classificação existentes. Por isso ela propõe um novo gênero, que pertenceria à família Kalliapseudidae. Também é possível que existam outros animais, ainda desconhecidos, que entrem nessa nova classificação. São catalogados hoje cerca de 800 tipos de Tanaidaceas, mas é provável que seu número seja muito maior. As espécies estudadas por Kátia, por exemplo, correspondem a um terço desse grupo, pertencentes à subordem apseudomorpha. Segundo ela, as outras duas subordens possuem uma diversidade ainda maior e prometem a descoberta de centenas de outras espécies. As regiões mais rasas, apesar do grande número de animais, não possuem uma variedade muito grande. Já nas águas mais profundas há muitas espécies diferentes, porém com poucos exemplares de cada uma delas.
Esses animais são encontrados em ambientes marinhos, estuários e águas salobras de todo o mundo, do Brasil à Antártica. Alimentam-se de partículas coletadas na água ou de detritos e pequenos seres, ou, alguns deles, de ambas as formas. Apresentam, entre suas principais características, os dois primeiros segmentos do tórax fundidos à cabeça. Possuem ainda o marsúpio, uma bolsa incubadora para manter os ovos em desenvolvimento próximos ao corpo da mãe, próprio do grupo maior das peracaridas. Os filhotes são liberados apenas no estágio manca, quando ainda falta um par de patas às “larvas”.
No Brasil os últimos estudos feitos com Tanaidaceas ocorreram na década de 1970 e o material coletado desde então não foi identificado em família, gênero ou espécie. Os animais estudados por Kátia foram coletados entre o Pará e o Rio Grande do Sul, em cruzeiros oceanográficos e na coleção do Museu Nacional do Rio de Janeiro. As amostras eram identificadas com uma lupa, dissecadas e desenhadas para que a comparação entre as espécies pudesse ser feita. Para a pesquisadora, que teve auxílio financeiro da Fapesp, a principal contribuição de seu estudo foi o conhecimento da biodiversidade marinha do país, “é preciso conhecer para preservar”, afirma.
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