ISSN 2359-5191

31/05/2005 - Ano: 38 - Edição Nº: 09 - Ciência e Tecnologia - Universidade de São Paulo
Biofábrica produzirá 200 milhões de moscas por semana na Bahia

São Paulo (AUN - USP) - O professor de Genética e Evolução da USP Aldo Malavasi produzirá até o final do ano, em Juazeiro na Bahia, cem milhões de moscas-do-mediterrâneo para controlar a própria população de moscas da mesma espécie. A idéia soa estranho a princípio, porém esse tipo de inseto, cientificamente conhecido como ceratitis capitata ou moscas-das-frutas, será produzido pela primeira biofábrica brasileira, que o diferenciará da população normal – os insetos produzidos serão estéreis.

“Até o final desse ano produziremos 100 milhões de moscas por semana”, garante o professor e coordenador do projeto, e ressalta que atingirá “200 milhões em pouco mais de um ano” numa tentativa de coibir essa praga agrícola que gera perdas de quase 200 milhões no Brasil e no mundo chega a 2,5 bilhões de dólares. Parte da produção deverá ser exportada para Espanha, Israel e Rússia que sofrem com a praga.

A técnica que garantirá a supressão da população, a partir de uma produção em escala industrial, é conhecida por TIE (Técnica do Inseto Estéril). Através de uma radiação de Cobalto-60, os machos são esterilizados. Em seguida, numa estufa térmica, estes ovos, elevados a uma temperatura de 40 graus, eliminam os ovos de fêmeas que não suportam a temperatura. Adultas, as moscas são liberadas nas plantações onde, reproduzindo-se com moscas normais, produzirão ovos inviáveis, reduzindo a população. Uma grande estrutura envolverá a instalação da primeira biofábrica do Brasil. Foram investidos até o momento mais de R$ 7 milhões aproximadamente, com a participação dos Ministérios da Agricultura, Ciência e Tecnologia e AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), além de um terreno com galpões, doado pelo governo da Bahia, onde estava instalada uma algodoeira de capital inglês que abandonou a região devido a uma praga.

Uma das críticas que costumam surgir ao projeto Moscamed é o fato da TIE ser feita a partir de radiação e alteração cromossômica. “A dose de radiação empregada é proporcional à utilizada num raio-X dental”, esclarece o professor Malavasi, que pesquisa moscas há 35 anos. Outra polêmica que povoa a cabeça de ecologistas é o perigo de erradicar uma espécie que faz parte da cadeia alimentar e também é rebatida pelo pesquisador. “Não se trata de erradicar, apenas suprimir” e destaca que “mesmo que a espécie fosse erradicada não haveria problema, pois se trata de uma espécie exótica, oriunda da África”. Otimista, Malavasi prefere enumerar os benefícios do projeto. Segundo ele, os benefícios são econômicos, sociais e ecológicos. Economicamente, a utilização da técnica agrega valor às frutas mercado internacional, principalmente europeu e asiático. Do ponto de vista social, enquanto o agrotóxico abrange apenas a área em que foi aplicado, as moscas estéreis são dinâmicas e podem atingir as plantações vizinhas e não compradoras da tecnologia – ainda dispendiosa para o pequeno produtor. Ecologicamente, os benefícios são a extinção dos resíduos agroquímicos na fruta e no solo, cuja percepção no mercado europeu é muito séria.

Malavasi destaca também o status jurídico do projeto. “Trata-se de uma organização social, possui financiamento público, conta com um conselho administrativo e autonomia de gestão” explica o professor, observando que essa última característica garante uma dinâmica menos burocrática ao projeto. Os lucros com o projeto serão reinvestidos, de modo a baratear cada vez mais a utilização da tecnologia “capacitando o pequeno produtor a usá-la”, segundo a idéia do projeto Malavasi. O MoscaMed é uma iniciativa internacional que alcançou bons resultados nos locais em que foi implantado. No Japão, por exemplo, as pragas de frutas foram completamente erradicadas. Na Califórnia e Flórida, idem.

O pesquisador já enxerga outras possibilidades de uso da técnica que inicialmente foi utilizada, em 1956 na ilha de Curaçau no Caribe, para erradicar a mosca que causa bicheira na carne do gado. A técnica ainda poderá ser empregada, como prevê o professor, no combate e controle a epidemias de dengue e malária.

Leia também...
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br