ISSN 2359-5191

30/06/2005 - Ano: 38 - Edição Nº: 13 - Saúde - Hospital das Clínicas
HTLV, um vírus que atinge um milhão de brasileiros
Transmitido como o vírus da AIDS, o HTLV pode causar doenças neurológicas e leucemia

São Paulo (AUN - USP) - Cerca de um milhão de brasileiros possuem o vírus HTLV (vírus linfotrópico de celulas T humanas), que pode causar problemas neurológicos e leucemia. Apesar do número expressivo, ele ainda não é muito conhecido no Brasil. Segundo o infectologista Jorge Casseb, do Hospital das Clínicas, a desinformação se deve ao fato de poucas pessoas infectadas desenvolverem as doenças.

Não se conhecem os fatores que determinam o surgimento de sintomas, mas acredita-se que dois deles sejam uma predisposição genética e a deficiência imunológica ocasionada por doenças como a AIDS. Além disso, sabe-se que, no caso de doenças neurológicas, mulheres de 30 a 40 anos e, no caso de leucemia, pacientes idosos também são mais suscetíveis.

Outro fator é o tipo de vírus. Enquanto 1% dos portadores do HTLV-I, um dos dois tipos, desenvolve doença neurológica ou leucemia, portadores do HTLV-II não desenvolvem doenças associadas ao vírus. Segundo Casseb, há estudos que indicam uma possível relação entre a quantidade de vírus HTLV-I no sangue e o risco de desenvolver a doença. Em ambos os casos, o vírus é transmitido como o HIV, causador da AIDS, por meio de relações sexuais desprotegidas, drogas injetáveis e da mãe para o filho, sobretudo, no aleitamento materno.

Ao mesmo tempo, algumas regiões apresentam índices mais altos de HTLV na população. O Japão possui muitos portadores do vírus e é um dos pioneiros no estudo da doença. No Brasil, a região de Salvador apresenta mais portadores. De cada 100 pessoas que doam sangue na cidade, duas são portadoras do vírus, o que se explica em parte pela descendência africana, já que os vírus teriam se originado nesse continente.

No caso da doença neurológica, os sintomas mais comuns são cansaço na perna, dores na região lombar, agulhadas na panturrilha, em alguns casos, problemas intestinais e incontinência urinária. De maneira geral, os sintomas aparecem do umbigo aos pés.

Não há cura para essa infecção, mas é possível iniciar um tratamento que retarde os sintomas degenerativos. São utilizados anti-inflamatórios, corticóides, para conter a inflamação da medula cervical, e fisioterapia neuro-motora para conter o avanço dos espasmos, isto é, da contração e dificuldade de movimentação dos músculos. Esse tratamento é mais eficiente em pacientes com até 3 ou 5 anos desde o surgimento dos sintomas.

Em pacientes com sintomas há mais tempo, o tratamento também é utilizado, mas não é tão eficaz. Além disso, Casseb afirma que foram realizados testes com anti-retrovirais, os mesmos utilizados para o HIV, que impedem a multiplicação do vírus no organismo, no entanto, os resultados não foram satisfatórios, até, porque, nessa fase, normalmente, os danos neurológicos já se consolidaram.

A melhor alternativa, nestes casos, é o uso de medicamentos para a reconstrução da membrana de mielina, que sofre perdas com o processo inflamatório. Estes se direcionam para as pesquisas com células tronco e para os medicamentos utilizados para esclerose múltipla.

Entretanto, um dos maiores problemas que os portadores de HTLV encontram é a discriminação por conta da desinformação das pessoas e médicos sobre os mecanismos de transmissão. Pensando nisso e na melhora do atendimento aos portadores, Casseb e outros pesquisadores do Hospital das Clínicas desenvolveram um site que traz diversas informações sobre o vírus (http://www.htlv.com.br). As pessoas e os médicos podem se informar sobre a doença e prevenirem-se.

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