ISSN 2359-5191

24/11/2005 - Ano: 38 - Edição Nº: 21 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Pesquisadores debatem tendências da literatura contemporânea

São Paulo (AUN - USP) - Novos temas, novas formas. Novas abordagens. A arte da palavra incorporou elementos da era moderna e fortaleceu parcerias com outros campos artísticos. O colóquio “Literatura Contemporânea: Diálogos e Perspectivas”, que aconteceu na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH), mostrou pesquisas sobre o assunto feitas no Brasil e na França.

O “ponta-pé” do evento foram estudos conjuntos de professores da USP e das universidades de Paris VIII e Rennes II. Na programação, prosa e poesia tiveram alguns de seus referenciais e tendências analisados pelos críticos.

Ferreira Gullar, um dos maiores poetas brasileiros vivos, tornou-se modelo para a nova geração, por experiências diversas e ousadas na arte. O escritor Rubens Rodrigues Torres Filho foi outra referência do colóquio. As obras mais recentes dos poetas têm em comum a concentração no tempo presente, antiutópico; a abordagem do sujeito fragmentado, “que nega a si mesmo, mas não pode prescindir-se”. Isso é o que explica a professora Viviana Bosi, do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da USP.

Ela destaca ainda na produção nacional os poemas de Armando Freitas Filho e Francisco Alvim. Ao voltar-se à rapidez e à paralisação da contemporaneidade, os escritores demonstram mudança de postura, já que no passado voltavam-se principalmente à contemplação do futuro.

Algumas temáticas da prosa foram objetos de estudo do evento. A literatura marginal, a violência, o cenário urbano degradado são características presentes nas obras de diversos países. No Brasil, percebe-se um trânsito intenso entre a literatura e o cinema atuais, como explica a professora Andréa Hossne, também do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da USP.

Filmes como “O Invasor”, “Ação entre amigos”, “Cidade de Deus” e “O homem do ano”, entre outros da chamada retomada nacional, retratam bem as novas tendências literárias. Além disso, as duas áreas têm criadores comuns – contistas que são roteiristas, produtores que são escritores. Um exemplo, cita Andréa, é Marçal Aquino, autor dos já mencionados “O Invasor” e “Ação entre amigos”.

Mas não é só a sétima arte que incorpora elementos da literatura atual. Nessa “parceria”, a prosa de ficção assimila técnicas cinematográficas, como a narração e as descrições fragmentadas, conforme acrescenta a professora. A valorização da cultura visual na atualidade e a cultura de massas contribuem, em parte, para novos rumos das abordagens literárias.

Efeitos semelhantes podem surgir do encontro entre a arte da palavra e o teatro. Fernando Bonassi é um dos autores que transitam nesse meio. Junto com o Teatro da Vertigem, ele produziu a peça “Apocalipse 1,11”, que abordou o massacre do Carandiru.

Ainda sobre as tendências modernas, destaca-se a relação da literatura com as novas tecnologias. A internet trouxe outras formas de sociabilidade. Criou um novo universo de massas, com relacionamentos peculiares. Sua interferência na arte da palavra tem faces diversas – a começar pela própria temática.

A literatura incorpora novidades do cotidiano por ter como matéria-prima a condição humana; se nela ocorrem mudanças, é natural retrata-las. Outro aspecto refere-se à própria produção literária. A professora Andréa menciona o escritor Joca Reiners Terron, autor de um caso emblemático: seu romance “Hotel Hell”, ambientado em uma cidade degradada, nasceu de seu blog (http://hellhotel.blogger.com.br/).

A relação entre autor e público modifica-se diante das possibilidades tecnológicas. Interatividade, obras coletivas e comunicação instantânea são termos que ganham força atualmente. Regina Pontieri, também docente do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da USP, lembra que ainda não se pode avaliar as conseqüências das inovações da Terceira Revolução Tecnológica no campo artístico. A internet é também grande difusora de idéias (bem embasadas ou não) e tem amplo poder de comunicação.

Viviana Bosi também vê com receio a ascensão das novas técnicas na produção poética. Ela teme que o fetichismo dos recursos tecnológicos encubra o conteúdo artístico. O meio utilizado (telas com textos programados) não necessariamente abrange a arte, proveniente das experiências do poeta, da sua percepção do mundo – que, na verdade, é o que lhe sustenta. Desse modo, a arte digital, considerada por muitos uma tendência moderna, deve ser vista com alguma ressalva.

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