ISSN 2359-5191

24/11/2005 - Ano: 38 - Edição Nº: 21 - Meio Ambiente - Universidade de São Paulo
Bonito por natureza, até que ela acabe

São Paulo (AUN - USP) - Quando o ciclo de cheias do rio Nilo, no Egito Antigo, se completava, o faraó era querido pelo povo. Se alguma mudança climática ocorresse, não havia lavoura e a fome acometia a população, que se revoltava contra o seu governo. O meio ambiente sempre influenciou a vida do homem em diversas esferas, principalmente na economia e na política.

No século XXI, um bom manejo do meio ambiente se torna cada vez mais uma preocupação dos especialistas. Enquanto na Europa quase não há mais florestas originais, apenas reconstituições das áreas desmatadas, o Brasil caminha pela mesma trilha ao permanecer indiferente ao problema ecológico. É o que afirma o jornalista ambiental Marcos Sá Corrêa. Em palestra ministrada na Universidade de São Paulo (USP), ele ressaltou o retardo brasileiro em pensar sobre o assunto.

O pau-brasil, que dá nome ao país, é uma árvore que jamais seria reconhecida pela parcela majoritária da população. A cidade do Rio de Janeiro, principal cartão postal, destruiu 62 praias apenas para a construção de seu porto. “O Brasil tem uma paisagem removível”, afirma Corrêa. A Mata Atlântica encontra-se tragicamente comprometida. Não há mais área suficiente para que a floresta se sustente sozinha.“Se não cortarem mais nenhuma árvore da Mata Atlântica, ela acaba nesse século”, ele enfatiza.

O pensamento de que o Brasil possui uma natureza inesgotável remonta ao período colonial. Para Portugal, um território pequeno com poucos habitantes, a imensidão brasileira parecia não ter fim. “Fomos doutrinados a acreditar que nossos bosques têm mais vida”, explica o jornalista que também é historiador. Essa visão se enraizou na cultura nacional. O país se acha imune a qualquer alteração climática, o que dificulta a propagação de uma consciência ecológica.

As conseqüências dessa indiferença já podem ser percebidas. O país era, até pouco tempo, consagrado mundialmente por seu projeto de conservação da Amazônia. Mas o mau manejo da floresta favoreceu a queima. Quando o Acre passou por dois meses de seca, o fogo não demorou a se propagar e atingir uma parcela significativa da Amazônia. A poluição causou doenças pulmonares comparáveis às ocorridas no pólo petroquímico de Cubatão.

No momento em que um número maior de acontecimentos estará condicionado à crise do meio ambiente, Marcos diz que é preciso ver no Brasil “não o que está lá, mas o que não está mais lá”. Se isso não acontecer, o país corre o risco de ver suas belezas naturais se esvaírem.

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