ISSN 2359-5191

13/01/2006 - Ano: 39 - Edição Nº: 24 - Meio Ambiente - Instituto de Geociências
Geociências debate transposição do São Francisco

São Paulo (AUN - USP) - Os Institutos de Geociências (IGcs) da USP, Unesp e Unicamp promoveram um debate com especialistas em São Francisco sobre o polêmico projeto de transposição do rio. O evento surgiu da constatação de que os geólogos e estudantes de geologia não estavam suficientemente envolvidos na discussão de um projeto tão controverso.

Participaram do encontro o geógrafo e professor da USP Azis Ab’Saber, o professor aposentado pela UFPB, José do Patrocínio Albuquerque e Francisco Sarmento, representante do governo. Azis, apesar de não ter participado do debate, devido a outros compromissos, apresentou em seu discurso inicial alguns pontos problemáticos no projeto do governo federal.

O primeiro deles trata-se da quantidade de água prevista na transposição. Segundo Ab’Saber, a dinâmica climática não foi contemplada no projeto. Nos períodos secos, o subdomínio da caatinga apresenta altas taxas de evaporação e a demanda de água transposta seria maior do que a calculada. Outra questão diz respeito à má divulgação do projeto pelo governo federal, ao não explicar claramente que a transposição não resolveria o problema da seca no Brasil. “Não se pode fazer um projeto indicando para uma população, que não pode entender, que ele resolverá o problema do semi-árido”. Por fim, o geógrafo levantou a questão da ‘população difusa’ – 20% dos habitantes do semi-árido, em geral agricultores de subsistência, grupo mais atingido pela seca – que não será beneficiada pela transposição. “Na caatinga, tem gente por toda parte. A tal população difusa não será contemplada. Mas a difusa é a realidade do Brasil”.

José do Patrocínio, também contrário à transposição, defendeu que o projeto não obedece a duas condições básicas para sua realização: a escassez de recursos hídricos nos reservatórios e excedente (não somente saldo) de água no São Francisco. Segundo o professor, existe espaço para manejo dos recursos hídricos das bacias já existentes. O problema do racionamento nas cidades do nordeste setentrional deve-se, portanto, à falta de infra-estrutura de distribuição atual. “Não é seca. É inadequação do sistema de abastecimento urbano”. Para Albuquerque, o Nordeste pode vir a necessitar de uma transposição no futuro, mas por enquanto não.

Já Sarmento defende a urgência da obra. “Há regiões no nordeste que precisam da transposição para ontem”. Segundo o representante do governo, o projeto atenderia a duas demandas reais nordestinas: o abastecimento humano da população urbana e a segurança hídrica para um desenvolvimento produtivo. O chefe da assessoria técnica da vice-presidência da República, que lançou um livro a respeito do projeto, respondeu a algumas imprecisões que, segundo ele, estão sendo divulgadas na mídia.

Entre elas está a idéia de perenização de rios em regiões naturalmente acostumadas a rios intermitentes. Segundo Sarmento, isso não acontecerá. O sistema só será acionado quando os açudes receptores, que abastecem as regiões urbanas, estiverem em baixa. A transposição também traria grandes benefícios à região, como a eqüidade do acesso a águas da União e a potencialização do desenvolvimento regional do nordeste setentrional. As propostas alternativas ao projeto (como poços, cisternas e reuso de água) foram classificadas como ineficazes em relação ao custo-benefício.

Francisco Sarmento também apontou falhas na divulgação do projeto. “O grande problema diz respeito à dificuldade de comunicar o conteúdo, o que se pretende e quais são os objetivos principais”. Ele concordou com as afirmações dos professores de que a população rural não seria beneficiada, mas defendeu que se trata de uma minoria e que, apesar da reforma agrária e da questão social nordestina serem temas que devem ser abordados pelo governo, eles estão fora do âmbito do projeto. Já para Patrocínio, “seca é população difusa. Seca é trabalhador rural. Se não resolver esse problema, não resolve nada”.

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