ISSN 2359-5191

13/01/2006 - Ano: 39 - Edição Nº: 24 - Economia e Política - Instituto de Estudos Avançados
Imediatismo incentiva juros altos

São Paulo (AUN - USP) - Diante de uma caixa de chocolates, crianças de 4 a 12 anos têm duas opções e uma difícil escolha: se esperarem alguns segundos, ganharão somente um bombom; mas, se esperarem uma hora, receberão três bombons. A maioria, no entanto, faz a primeira escolha. Segundo o economista Eduardo Giannetti, este exemplo sintetiza o conceito de juros, que não transita apenas pelo mundo das finanças, mas também por vários detalhes cotidianos.

O livro “O valor do amanhã: ensaio sobre a natureza dos juros” foi lançado recentemente pela editora Companhia das Letras e já figura nas listas dos mais vendidos. Seu autor é Eduardo Giannetti, economista e cientista social pela USP e PhD pela Universidade de Cambridge (Inglaterra). Giannetti realizou recentemente a conferência “A natureza dos juros” no Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA). O evento foi a primeira atividade do Grupo de Estudos sobre os Fundamentos da Análise Econômica, vinculado à Área de Lógica e Teoria da Ciência do IEA. Participaram da conferência Marcelo Tsuji, coordenador deste grupo de estudos, João Steiner, diretor do IEA, e o jornalista da Folha de S. Paulo, Luís Nassif.

Giannetti afirma que é no período de 4 a 12 anos que ocorre a formação mental básica de uma criança. Na pesquisa realizada com chocolates, a escolha maciça pela 1ª opção revela o perfil das crianças: verificou-se que aquelas que agüentaram mais tempo tiveram melhor desempenho na escola, na faculdade etc. Segundo o economista, isso advém da educação familiar e da existência de limites. “O fato de os pais não suportarem qualquer frustração dos filhos pode afetar a vida destes indivíduos”.

E o que isso tem a ver com juros? Giannetti conceitua “juros” de várias formas: “transferência de recursos do presente para o futuro”; “a renda pela espera”; “pagar hoje e viver amanhã ou viver hoje e pagar amanhã”. Não à toa o subtítulo de seu livro é “Ensaio sobre a natureza dos juros”, já que os juros possuem raízes na Biologia por envolverem trocas intertemporais, entre presente e futuro. “Para o credor, os juros são o ‘prêmio pela espera’, para o devedor, o ‘preço da impaciência’”. Segundo o economista, as principais religiões se baseiam em contratos estritamente econômicos. O ideal de que “todo sacrifício de agora (vida) irá se tornar uma recompensa amanhã (pós-morte)” reverbera o conceito de juros.

Desconto hiperbólico

Um dos principais temas da conferência foi o “desconto hiperbólico”, que considera o grau de impaciência das pessoas como variável no tempo. De acordo com esse conceito, quanto mais próximo o momento da gratificação, maior a impaciência. Isso é importante porque não encontra correspondência nas teorias econômicas. O tempo de gratificação não deveria interferir na racionalidade econômica. No entanto, interfere.

O desconto hiperbólico seria uma das razões para a dificuldade que os brasileiros geralmente enfrentam no momento de fazer uma poupança. Apesar de ser um país com uma crescente expectativa de vida e maior preocupação com a velhice, ainda é bastante difícil o brasileiro manter sozinho um fundo previdenciário. Isso envolve escolhas intertemporais, com décadas de distância. Para esse problema, segundo Giannetti, existe ainda uma razão cultural, já que no Brasil vigora a cultura do imediatismo, “uma predestinação histórica que nos condena” e gera uma impulsividade momentânea. Ou seja, o cidadão prefere comprar um carro a guardar o dinheiro para usar dali 20 anos.

Essa cultura do imediatismo seria também uma das explicações para as altas taxas dos juros primários no Brasil, uma escolha que resolve os problemas de hoje, mas não considera seu preço, que será deixado para amanhã. Para Giannetti, um dos principais problemas do Brasil, que recolhe cerca de 40% da renda dos cidadãos, é justamente o caminho desses recursos. Os investimentos deveriam ser revistos, priorizando o capital humano. “Um país que tem projeto nuclear, mas que ainda não resolveu problemas básicos, como de saneamento básico”, critica o economista.

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