São Paulo (AUN - USP - 20 de março) - Modelos magras, crianças gordas, exercício físico e sedentarismo são aspectos comuns da vida moderna. Estes temas e suas implicações têm respaldo na pesquisa científica e podem ser vistos, dia 2 e 3 de abril, no II Simpósio Temático do Departamento de Fisiologia e Biofísica da USP. O professor Fábio Bessa Lima, um dos coordenadores do evento, fala da importância do tecido adiposo (gordura) e alerta que “cada gordura é uma gordura”.

O tecido adiposo é um tecido especializado em acumular energia na forma de gordura, que é mobilizada quando se faz exercícios físicos. “A atividade física realiza uma modelagem corporal e um ajuste hormonal no organismo, pois muitos hormônios estão relacionados com o tecido adiposo”, diz Lima. O professor cita o exemplo do hormônio do crescimento, caracterizado por ser lipolítico, ou seja, mobiliza a gordura, ajudando o corpo a responder melhor à insulina. “O organismo pode não responder bem ao hormônio insulina, mas com a atividade física a insulina fica mais eficaz no controle da glicemia”, completa o pesquisador.

As pessoas que realizam atividade física se preocupam, constantemente, em perder a gordura acumulada em locais específicos, a chamada gordura localizada. Mas Lima alerta que “o combate à gordura localizada não é eficaz, porque dependendo da região onde a gordura se localiza ela tem uma peculiaridade, cada gordura é uma gordura”. Esta se distribui de forma diferente entre os sexos. Na mulher ela é subcutânea e no homem é mais visceral, sobretudo na região do abdômen.

As diferenças dos tecidos adiposos não descartam a necessidade de se exercitar. físico. A discussão sobre os aspectos fisiológicos da atividade física, do ICB (Instituto de Ciências Biomédicas), revela que o indivíduo não pode ser sedentário, pois somente dieta alimentar não ajuda a resolver o problema de excesso de gordura. O correto é dieta e exercício físico combinados, embora em alguns casos a reeducação alimentar, mudança de hábitos diários e medicação sejam necessários.

Magreza em excesso

Lima fala que “é preciso mudar culturalmente e conceitualmente que ter gordura é feio”. Esta tentativa acontece na exposição “Dangerous Beauty”, inaugurada este mês em Nova Iorque, que retrata os problemas dos padrões estéticos atuais, como o das modelos anoréxicas das passarelas.

As modelos que são muito magras não fazem só dieta, mas recusam todo e qualquer tipo de alimento, o que, segundo o pesquisador do ICB, revela o componente emocional e psicológico neste distúrbio alimentar. “Isto não é nem fazer dieta, é o indivíduo trabalhar contra ele. Se cairmos abaixo de um certo limite de gordura tolerável no organismo, vamos sentir grandes conseqüências, isso não é inócuo”, diz Lima ao criticar a cultura do “corpo sarado” e da forma enxuta.

É importante lembrar que a obesidade também traz doenças. Os indivíduos obesos são mais propensos a ter problemas cardiovasculares e arterioscleroses. “A praia, que era um local para nadar e fazer atividade física, é hoje um lugar para ficar tomando sol e comer”, completa Lima.

O II Simpósio Temático do Departamento de Fisiologia e Biofísica - Aspectos Fisiológicos da Atividade Física, do ICB-USP acontece do dia 2 e 3 de abril, para profissionais da área da saúde, educação física e fisiologia, além de interessados em geral. As inscrições podem ser feitas no site http://www.fesbe.org.br/simposioatividadefisica/ até o dia 23 de março. A entrada é gratuita.