ISSN 2359-5191

31/10/2001 - Ano: 34 - Edição Nº: 15 - Saúde - Faculdade de Saúde Pública
Tese aprova distribuição gratuita de seringas para prevenção da Aids

São Paulo (AUN - USP) - Uma pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP comprovou a eficácia da distribuição gratuita de seringas para usuários de drogas na diminuição dos casos de Aids em Santos, SP. O estudo foi realizado pelo médico Fábio Caldas de Mesquita, coordenador do Programa Municipal de Doenças Sexualmente Transmissíveis da Prefeitura Municipal de São Paulo. Mesquita defendeu, na Faculdade de Saúde Pública da USP, sua tese de Doutorado Aids entre usuários de drogas injetáveis na última década do século XX, na região metropolitana de Santos, Estado de São Paulo - Brasil.

O objetivo do estudo foi traçar um panorama e analisar a atual situação dos dependentes de drogas injetáveis que estão com Aids na cidade de Santos. "Meu envolvimento com a questão começou em 1987, quando fui designado para atender casos de pacientes com Aids que chegavam ao Centro de Saúde de Santos, que na época era a cidade com mais casos em termos proporcionais do País", conta Mesquita. "Posteriormente, em 1989, fui convidado por David Capistrano, então secretário de Saúde, para implantar um programa de prevenção e educação que contribuísse na diminuição dos índices da doença no município, que chegavam, no final da década de 80, a 69,5 casos para cada 100 mil habitantes, sem contar os soropositivos, aqueles que tinham o vírus HIV mas não manifestavam a doença".

O programa implantado por Mesquita seguiu o modelo criado por vários países europeus e pela Austrália, baseado na distribuição gratuita de seringas descartáveis para usuários de drogas injetáveis. "Para receber uma descartável, a pessoa precisava devolver uma seringa usada, forma de evitar que o material doado fosse vendido para comprar mais drogas", explica o pesquisador. "Hoje as pessoas apoiam a medida, mas, no começo, fomos processados por crime de tráfico. Houve uma interpretação equivocada de alguns setores da sociedade que não compreenderam que nosso objetivo era evitar maior disseminação da doença através da redução dos índices de contaminação, nos acusando de incentivar o consumo de drogas." Segundo o médico, em dez anos de campanha no município, o número caiu de 69,5 para 50,9 casos para cada 100 mil habitantes, colocando Santos na 11a posição do ranking de cidades brasileiras atingidas pela Aids.

Para realizar o estudo, Mesquita utilizou uma metodologia comparada de análise de dados obtidos a partir do acompanhamento e de entrevistas com usuários de drogas injetáveis maiores de 16 anos, alfabetizados, e que tivessem condições físicas e psíquicas para assinar um termo de consentimento. Foram três grupos. O primeiro entre os anos de 1991 e 1992, o segundo a partir de 1994 e com término em 1996, e o terceiro, ainda em andamento, que teve início em 1999, todos formados com o apoio de diferentes entidades, como a Organização Mundial de Saúde (OMS). "Todos os grupos eram constituídos por membros diferentes, pois a maioria dos participantes não sobrevive ou não têm condições de participar de um novo grupo devido aos efeitos do vício, da entrada na criminalidade, da Aids ou de outras doenças, como a as hepatites de tipo B e C", explica Mesquita.

A pesquisa revelou que, de um total de 468 entrevistados (70% homens e 30% mulheres), 60% se encontram na faixa dos 25 aos 40 anos, 84% possuem menos que oito anos de educação formal - o que significa que não concluíram nem o ensino fundamental (8ª série) -, apenas 17% tem emprego formal, 95% usam cocaína injetável - o que mostra uma redução da utilização de outras drogas, principalmente do crack - e 59% já esteve preso pelo menos por uma vez depois que começou a usar drogas. "Outra informação fundamental é que, no começo da década de 90, 55% dos usuários de drogas compartilhavam as seringas com outros usuários enquanto atualmente esse número caiu para 24%, o que mostra o impacto das campanhas de prevenção educativa e distribuição de seringas", diz Mesquita. O uso diário de drogas também caiu, de 32% para 13%, acompanhado pelos índices de contaminação pelo HIV, que passaram de 63% para 42%. "Os índices de contaminação não caíram mais porque, infelizmente, não houve uma mudança significativa nos hábitos sexuais destas pessoas, sendo que muitas se apresentam, por causa do vício, inseridas no mundo da prostituição".

De acordo com o pesquisador, ficou evidente que as medidas de prevenção foram fundamentais para a diminuição da epidemia de Aids. "E não foram maiores por causa dos processos e da falta de recursos para ampliá-las", afirma. "Aqui em São Paulo ainda é possível tomar uma série de medidas para reduzir os danos da doença, a partir das ações feitas no próprio município, em Santos e em outras cidades brasileiras".

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