ISSN 2359-5191

31/10/2001 - Ano: 34 - Edição Nº: 15 - Saúde - Instituto de Ciências Biomédicas
Microbiologista da USP diz que Brasil está longe de ser atacado por antraz e que armas químicas são piores que as biológicas

São Paulo (AUN - USP) - As chances de o Brasil ser alvo de ataque bioterrorista são mínimas. “Essa idéia é muito maior neurose que realidade. Só aos americanos é pertinente a histeria do medo do antraz”, disse a professora Heloíza Ramos Barbosa, do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. Segundo ela, no Brasil não há incidências de antraz. A professora defende ainda que uma arma química pode ser muito mais poderosa que a biológica por ser mais silenciosa e de difícil percepção.

Além do antraz, doença causada pela bactéria Bacillus antrhacis com muita incidência em gados do Oriente Médio e África, Heloíza citou o botulismo como possível forma de uso de microorganismos como arma de terrorismo. De acordo com ela, a bactéria anaeróbica (que não vive em presença de oxigênio) Clostridium botulinum produz a toxina botulínica que pode matar rapidamente, em uma velocidade muito maior que o antraz. “Um miligrama da toxina mata de 25 a 30 mil pessoas”, afirmou Heloíza. A toxina botulínica atinge o Sistema Nervoso Central e a morte é inevitável, já que não se tem remédio contra a toxina. Embora o estrago fosse catastrófico, a professora lembra que não é fácil fazer cultura de bactérias, ainda mais quando elas não podem viver em contato com o oxigênio.

Do dia 15 de outubro a 23 do mesmo mês, o Instituto Adolfo Lutz recolheu 138 amostras de pó branco suspeito. Destas, 83 não possuíam qualquer tipo de indício de antraz, as demais ainda estão sendo avaliadas. De acordo com o diretor-geral do instituto, Cristiano Corrêa de Azevedo Marques, a intraqüilidade da população é geral, mas espera-se que, à medida que os resultados negativos saiam, as ocorrências de suspeita de pó branco diminua. “Eu sou otimista. A gente não tem nada a ver com a guerra e no Brasil não há casos naturais de antraz. Aqui, o problema é muito mais veterinário que humano”, diz Heloíza. O Ministério da Saúde lançou uma portaria obrigando todo e qualquer laboratório de pesquisa informar se tem ou não antraz. Com isso, o governo pretende exigir que sejam seguidas normas para o cultivo e estocagem da bactéria a fim de inibir seu uso bioterrorista.

Be-a-bá do Antraz
A infecção pelo Bacillus antrhacis pode se dar de três formas: cutânea, respiratória e gastrointestinal. Normalmente, os esporos da bactéria entram em contato com pessoas que estão próximas a corpos em decomposição de gados que morreram em decorrência do antraz. Os sintomas da infecção cutânea são pruridos e inchamento dos gânglios. A infecção por inalação causa primeiramente um resfriado comum. Depois de alguns dias, os sintomas progridem para sérios problemas respiratórios, que levam à morte. A infecção intestinal se dá quando a pessoa ingere comida contaminada, o que resulta em grave inflamação intestinal. Náusea, perda de apetite, vômitos e febre seguidos por dor abdominal e vômitos com sangue são sintomas nesse tipo de contaminação. O tratamento do antraz é feito com ciprofloxacina, um tipo antibiótico. Vacinas contra a doença já estão no mercado americano e devem ser tomadas em três doses, com intervalo de duas semanas para cada injeção aplicada. O antraz dificilmente é transmitido de pessoa para pessoa.

Leia também...
Nesta Edição
Destaques

Educação básica é alvo de livros organizados por pesquisadores uspianos

Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar

Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados

Edições Anteriores
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br