ISSN 2359-5191

18/04/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 21 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Matemática e Estatística
Projeto Borboleta quer melhorar a saúde pública
Novo projeto desenvolvido no Instituto de Matemática e Estatística da USP pretende melhorar a qualidade da saúde pública no Brasil

São Paulo (AUN - USP) - A otimização dos serviços da saúde pública figura-se como a principal arma contra a falta de recursos e o sucateamento das instituições. O projeto Borboleta, coordenado pelo professor Fabio Kon, do Instituto de Matemática e Estatística da USP, visa promover um serviço de melhor qualidade nos Centros de Saúde. Para isso, um sistema será desenvolvido para disponibilizar todas as informações sobre o estado de um paciente e o atendimento recebido por ele num prontuário eletrônico, que suportará diferentes mídias (vídeo, imagem e áudio).

O Borboleta começou com uma preocupação do professor quanto ao alcance de suas pesquisas, pois as tecnologias desenvolvidas, em sua maioria, servem apenas para parte da população que tem acesso às tecnologias de informática. Ele se questionava sobre a possibilidade de fazer algo mais significativo para as camadas mais baixas da população. A resposta veio de seu irmão, Rubens Kon, diretor do Centro de Saúde Escola Samuel Pessoa no Butantã, ligado à Faculdade de Medicina da USP, que teve a idéia de fazer um software para auxiliar médicos e enfermeiros no atendimento domiciliar, já que os recursos dos programas que oferecem esse tipo de serviço são bastante limitados; os formulários são preenchidos no papel e somente depois são digitados no computador. Muitas informações acabam se perdendo e os erros são freqüentes devido à ilegibilidade dos documentos.

Com o software instalado em celulares inteligentes, os profissionais acessariam, modificariam e acrescentariam dados dos pacientes de maneira rápida e segura, evitando erros e principalmente assegurando que as informações não se percam em amontoados de fichas. Quanto ao custo de instalação, o professor diz que os equipamentos móveis inteligentes, hoje, são caros; mas quando o sistema for implantado, eles estarão bem mais acessíveis, além disso, o custo-benefício seria maior, afinal o trabalho ganharia em qualidade e rapidez.

Esse aplicativo já foi desenvolvido em uma disciplina, com alunos voluntários e já está implementado à título experimental no Centro de Saúde Escola do Butantã. Esse contato é importante, ressalta o professor, porque os próprios profissionais que utilizam o aplicativo apontam eventuais problemas e sugerem mudanças no software.

Com os bons resultados, Kon e sua equipe resolveram elaborar uma proposta para a Fapesp: "Percebemos que poderíamos fazer um projeto de pesquisa e, com melhor financiamento, desenvolver dissertações de mestrado e teses de doutorado em cima disso".

O problema, pontua o professor, está em "conseguir bons alunos que queiram se dedicar a mestrado ou doutorado em tempo integral. Apenas quem tem prazer pela ciência e um perfil mais idealista se dispõe a trabalhar ganhando uma bolsa de estudos cujo valor é bem abaixo do que é oferecido pelo mercado de informática.”

Próximas Etapas

Embora pareça uma idéia simples, um banco de dados centralizado, como o pretendido pelo projeto Borboleta possibilita uma grande variedade de aplicações. Uma delas é a utilização de ferramentas da inteligência artificial para mineração de dados para "olhar pra esses dados e extrair informações relevantes", explica Kon. Por exemplo, o sistema poderá detectar numa determinada região um número elevado de doenças ligadas à falta de higiene. A equipe de saúde poderá, então, promover uma campanha educativa, uma ação específica que atenda às demandas daquela região, utilizando de maneira eficaz a verba destinada à saúde.

A disponibilidade das informações e a facilidade de seu acesso e modificação fazem com que seja constante a atualização de dados estatísticos, o que auxiliaria os próprios médicos em seus diagnósticos e os gestores de saúde em suas decisões administrativas, além de servirem como fonte para inúmeras pesquisas.

Outra idéia a ser desenvolvida é a informatização das farmácias dos Centros de Saúde: pelo equipamento móvel, os profissionais da saúde poderão reservar o medicamento receitado da casa do paciente. Se o sistema indicar que o produto está esgotado, seria possível receitar algum semelhante, evitando, assim, filas de espera.

Pretende-se também reduzir o tempo ocioso dos médicos: na véspera de sua consulta, o paciente receberia um aviso por celular, pedindo para confirmar a sua presença. Se esta não fosse confirmada, o sistema agendaria outro paciente.

Software Livre

O resultado do projeto é distribuído como sofware livre, isto é, o programa pode ser usado, copiado, modificado e redistribuído livremente.

Isso pode soar bastante controverso, já que a Microsoft, financiadora do Borboleta junto com a Fapesp, não é adepta da bandeira do software livre (que nada tem a ver com software não comercial). Fabio Kon, entusiasta do software livre, garante: "neste edital da FAPESP-Microsoft Research, tivemos total liberdade de fazer o que queremos". Não existe restrição nem mesmo em relação ao sistema operacional utlizado; porém, por uma sugestão da Microsoft, a licença escolhida para o Borboleta foi a BSD, Berkeley Software Distribution, que permite versões do software licenciado no formato proprietário, isto é, sem a possibilidade de modificar e aperfeiçoar o programa, pois o código fonte não estaria disponível.

Além de ser livre, o software não tem fins lucrativos (software não comercial), a equipe do Borboleta pretende, ainda, apresentar e disponibilizar o projeto para as Secretarias de Saúde (municipal e estadual) e também para o Ministério da Saúde. Mas tudo a seu tempo, "quero fazer primeiro a parte científico-tecnológica bem feita" diz Fabio Kon, que deseja apresentar estudos científicos atestando a melhora dos serviços para convencer os políticos. "Se eles vão aceitar isso é uma questão muito mais política do que científica."

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