ISSN 2359-5191

31/10/2001 - Ano: 34 - Edição Nº: 15 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Biociências
Pesquisadora da USP produz os primeiros animais transgênicos do Brasil

São Paulo (AUN - USP) - Sem parcerias estrangeiras, a professora Lygia da Veiga Pereira, do Instituto de Biociências da USP, conseguiu produzir a primeira ninhada de camundongos transgênicos do País, cujo pai é Christian, resultado da primeira fase da pesquisa. Cerca de US$ 300 mil foram injetados no projeto, pioneiro no Brasil, pela Fapesp e CNPq. O incentivo foi utilizado na compra de equipamentos para a montagem do Laboratório de Genética Molecular e no pagamento de bolsa para os pesquisadores.

A experiência genética tem como fim estudar a síndrome de Marfan, que ataca o tecido conjuntivo, aumentando o tamanho de órgãos, membros e podendo até romper a artéria aorta. Os camundongos, que nasceram há cerca de um mês e meio, têm um gene mutante que origina a doença nos humanos. Depois de estudar a doença nesses animais, Lygia pretende descobrir novos tipos de terapia para a doença, que incide em uma a cada 10 mil pessoas no mundo.

"Disponibilizaremos a técnica para outros grupos interessados em pesquisar outras doenças", afirma a professora, que já tem parcerias com o Instituto do Coração de São Paulo e a Fundação Osvaldo Cruz, do Rio de Janeiro, para a produção de camundongos transgênicos no estudo de doenças cardíacas e diabetes.

No projeto, foram envolvidas seis pessoas. Dois professores russos, dois alunos, a professora Lygia e o professor José Antônio Visentin, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, onde os genes mutantes são introduzidos nos embriões e fecundam uma camundonga receptora. A parceria com a FMVZ possibilitou também a pesquisa na área de clonagem animal.

O doutourando Marco Mello espera o nascimento da primeira vaca clonada do Brasil, daqui a quatro meses, pelos mesmos métodos da ovelha Dolly (utilização de células de um animal adulto). "A técnica usada para produzir animais transgênicos é muito parecida com a da clonagem. Posso dizer que o Christian é um clone transgênico", explica Mello. Segundo ele, as pesquisas feitas na FMVZ ainda são para o desenvolvimento das técnicas de clonagem, e não para o uso comercial, como na melhoria da produção de leite.

Para o nascimento dos camundongos, foram necessários três anos de pesquisa na produção de genes mutantes em laboratório. Depois de produzidos, eles são introduzidos em embriões no Departamento de Reprodução Animal da FMVZ. Esses embriões ficam cerca de três dias em estufas e depois são injetados em fêmeas chamadas receptoras. Essa introdução é feita por meio de uma cirurgia. Os camundongos que nascem com mutação possuem coloração marrom, como é o caso de Christian, que é gera filhos como ele, heterozigotos (apenas parte de seus genes é mutantes).

Lygia conta que recebeu total apoio da Fapesp para a realização de seu projeto, que teve início em sua tese de Doutorado, no Hospital Monte Sinai, de Nova York. "É uma pesquisa importantíssima para o país porque o grupo que quisesse produzir animais transgênicos tinha que buscar no exterior ou pagar para alguma empresa. Agora essa poderosa ferramenta está acessível para os pesquisadores do Brasil", diz Lygia.

A pesquisadora afirma também que essa transferência de tecnologia dos EUA para cá foi motivo de orgulho para os americanos por eles terem contribuído no desenvolvimento científico do País. "A manipulação genética existe há muito tempo na comunidade científica. O problema está nas pessoas que a querem utilizar em seres humanos", atenta a pesquisadora.

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