São Paulo (AUN - USP) - Os computadores adquiridos principalmente pelas escolas públicas do Brasil com o intuito de incluir a população mais carente a meios digitais como Internet e outros exemplos multimídia acabam com uma finalidade diferente daquela inicial: mandar e-mail e namorar. A afirmação é do professor Eduardo do Valle Simões, da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP).
De acordo com sua opinião, “os professores têm medo que a máquina tire seus lugares de ensino”; deste modo, os computadores das escolas não são utilizados na sua máxima potência, reduzindo seu valor a miudezas do cotidiano, não acrescentando em nada na metodologia do ensino público. Em muitos casos, inclusive, o próprio professor tem conhecimento insuficiente para o uso pedagógico das redes digitais.
Por morar em São Carlos, Simões sabe da situação periférica da tecnologia na metodologia de ensino das escolas públicas da cidade, entretanto, fala em tom generalizante da insuficiência de inserção dos computadores na rede pública do país. Eduardo Simões critica a inclusão digital, que é falha, em detrimento da inclusão tecnológica. Essa, por sua vez, traria à frente do aluno a máquina com sua funcionalidade, como robô multifacetado e passível de inúmeros usos em prol do ser humano. É necessário, portanto, trazer a máquina à educação de forma a desmistificá-la, transformá-la em objeto funcional do homem. Simões diz que é indispensável um ensino da máquina como instrumento para a produção humana e ensinar o básico de sua funcionalidade ao aluno.
Trata-se de uma questão de dominar ou ser dominado. Caso o aluno apenas seja ensinado pelos meios digitais, sua relação com a máquina será de afastamento, ambos estariam em patamares distintos. De outra forma, o ensino da máquina cria uma relação de dominação por parte do aluno. Sabendo domar a máquina hoje, a criança não será um analfabeto tecnológico no futuro e poderá entrar no mercado de trabalho sem temer ser refreado pela eficiência do aparelho; ele será seu domador.
Ainda sobre essa questão, Eduardo Simões mostra a urgência da inclusão tecnológica: “uma criança que não sabe mexer em robô hoje, cortará cana amanhã e seu filho, se não souber mexer em robôs também, não terá onde trabalhar, porque o robô passará a cortar a cana por ele”. Uma vez familiarizado com o robô, contudo, é inevitável que o processo seja inverso.
O que para ele é de mais importante é a união da metodologia de ensino à tecnologia produzida nas universidades. “Um robô é uma aula de física ambulante”, é preciso saber aproveitar essa potencialidade educativa dos robôs para conseguir traduzi-la em conhecimento para as escolas públicas.